terça-feira, 4 de setembro de 2012

Nova gripe que ataca focas pode ser ameaça para o ser humano

Nova gripe que ataca focas pode ser ameaça para o ser humano Os investigadores acreditam que os pássaros selvagens estão na origem da transmissão 2012-08-01 Pelo menos, 162 focas morreram na costa da Nova Inglaterra (Imagem: Wikipédia) Uma equipa de investigadores da Universidade da Columbia e do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) detectou uma nova estirpe do vírus da gripe – o H3N8 – em focas, na sua maioria bebés. A morte destas crias começou a ser percebida em Setembro passado e até então já, pelo menos, 162 focas morreram na costa da Nova Inglaterra (EUA). Os investigadores detectaram uma variação do vírus Influenza, que tem uma enorme capacidade de mutação e adaptação e defendem que a infecção deve ter acontecido após o contacto com aves contaminadas. Segundo revelam os autores do estudo, publicado na revista «mBio», ainda não está claro o grau de ameaça do novo vírus, mas sabe-se que também afecta outros animais, como morcegos, pássaros, porcos, cães e até mesmo baleias. Outra preocupação é que este tipo de vírus consegue adaptar-se e infectar populações humanas. Os investigadores acreditam que os pássaros selvagens estão na origem da transmissão. Ou seja, são uma fonte primária de todos os vírus influenza A, embora estes possam passar de uma espécie para outra ou até recombinar-se. E, em geral, os resultados são mortais. Recorde-se a gripe suína, provocada pelo H1N1, e que causou o pânico em 2009. A pandemia resultou da combinação de vírus que infectavam suínos, pássaros e humanos. Embora os pássaros possam contaminar os mamíferos, em geral os vírus não são transmitidos entre eles. O novo vírus das focas, porém, conseguiu romper essa barreira e se disseminar também de uma foca para outra. Tal como os vírus mortais, há vários anos, também fizeram. No ano passado, dois grupos de cientistas conseguiram, através de investigações independentes, alterar o vírus da gripe com mutações, facilitando a sua disseminação entre mamíferos. O governo dos EUA decidiu intervir e pediu que as revistas científicas «Science» e «Nature» não publicassem os resultados, alegando que poderiam cair nas mãos de terroristas, que poderiam usar a informação para a produção de armas biológicas.
Investigadores encontram causa genética do 'tremor essencial' Estudo está publicado na «American Journal of Human Genetics» 2012-08-04 Escrever é uma tarefa difícil para quem sofre de 'tremor essencial' Investigadores da Universidade de Montreal (Canadá) conseguiram descobrir qual o problema genético específico que provoca o a desordem neurológica conhecida como Tremor Essencial (TE). Este é o mais comum dos problemas relacionados com o movimento, sendo que os sintomas se tornam mais fortes com a idade. Quem sofre desta desordem tem tremores involuntários que ocorrem principalmente quando se tenta fazer movimentos precisos. Os resultados da investigação levada a cabo estão publicados no «American Journal of Human Genetics». Apesar de existirem fortes evidências de que a doença teria uma base genética, nenhuma ligação tinha ainda sido identificada. Os cientistas sabiam já que são mutações no gene FUS que provocam esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença das células nervosas do cérebro e da espinal medula que controla o movimento voluntário dos músculos. A equipa de cientistas conseguiu, com sucesso, identificar as mutações que provocam o Tremor Essencial neste mesmo gene e que os mecanismos de mutação desta doença e da ELA são diferentes. Nancy Merner, líder do projecto de investigação, explica que quando começou o estudo teve acesso a informação genética de um grande número de famílias. Além disso, pode utilizar novas e eficazes tecnologias de sequenciamento. A descoberta fornece ao mundo uma primeira visão sobre o mecanismo da doença, visão essa crucial para o desenvolvimento futuro de medicamentos. Além disso, não existe consenso sobre os critérios de diagnóstico da TE, assim, um diagnóstico de base genética poderá ser benéfico. Entre 37 a 50 por cento dos casos de TE são actualmente mal diagnosticados. Para os indivíduos afectados, os tremores são geralmente irritantes e constrangedores, interferindo com tarefas diárias como escrever, comer ou beber, já que afectam principalmente as mãos. Este estudo poderá ajudar a melhorar a qualidade de vida dos afectados. Artigo: Exome Sequencing Identifies FUS Mutations as a Cause of Essential Tremor

Mosca da fruta fornece pistas para novos tratamentos à diabetes

Mosca da fruta fornece pistas para novos tratamentos à diabetes Investigação está publicada na «Genetics» 2012-08-19 Erik Johnson, investigador na Wake Forest University Manipular um grupo de células produtoras de hormonas pode ajudar a controlar os níveis de açúcar no corpo. Esta descoberta pode servir para o desenvolvimento de investigação para novos medicamentos para perda de peso e diabetes. Num artigo publicado na «Genetics», agora disponível 'online', neurobiólogos da Wake Forest University (Carolina do Norte, EUA) analisaram como as moscas da fruta (Drosophila) reagiram quando lhes foi imposta uma dieta reduzida. Uma dieta reduzida ou a fome levam normalmente à hiperactividade nas moscas da fruta. As moscas esfomeadas voam freneticamente à procura de comida. Isto acontece porque uma enzima chamada AMP quinase (AMPK) estimula a segregação da hormona adipocinética, que é a equivalente funcional da hormona glucagon (nos humanos). Esta hormona actua em oposição à insulina, dizendo ao corpo para libertar o açúcar necessário para “abastecer” a hiperactividade. O corpo usa as suas reservas de energia até encontrar comida. A equipa de investigação conseguiu desligar a AMPK e as células diminuíram a libertação de açúcar, fazendo com que a resposta hiperactiva parasse quase completamente, mesmo face à fome. "Visto que as moscas da fruta e os seres humanos partilham 30 por cento dos genes e os seus cérebros estão ligados essencialmente da mesma forma, esta descoberta pode ajudar a investigação sobre o metabolismo em geral e a diabetes em particular", explica Erik Johnson, investigador principal. A hormona adipocinética é a equivalente no insecto à glucagon segregada pelo pâncreas humano. A glugacon aumenta os níveis de açúcar no sangue e a insulina reduz. No entanto, é difícil estudar os sistemas da glucagon porque as células do pâncreas são difíceis de separar. Estudar como o sistema funciona nas moscas da fruta abre caminho a um fármaco que tenha como alvo as células que fazem com que a glucagon diga ao corpo para libertar açúcar no sangue – reduzindo assim a necessidade de injecções de insulina em diabéticos. Artigo: Energy-dependent modulation of glucagon-like signaling in Drosophila via the AMP-activated protein kinase

Foram identificados dez novos genes associados à Diabetes tipo 2

2012-08-13 Doença deve ser controlada Uma equipa de investigadores internacional – da Universidade de Oxford (Reino Unido), do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Michigan (EUA) – conseguiu identificar dez novos genes associados à Diabetes tipo 2, elevando para 60 as regiões do DNA envolvidas na doença. O estudo vem publicado na revista «Nature Genetics». O grupo de trabalho analisou o DNA de 35 mil pessoas que sofrem desta doença crónica ligada à obesidade e a uma resistência à insulina – hormona produzida pelo pâncreas para ajudar o metabolismo a assimilar o açúcar proveniente dos alimentos – e de outros 115 mil indivíduos saudáveis e identificaram dez que podem relacionados com o risco de desenvolver a doença. Dos genes observados, um deles mostrou ter mais efeito sobre os homens e outro sobre as mulheres; mas estão todos envolvidos no processo de envelhecimento e ao processo de crescimento e divisão celular. Segundo Mark McCarthy, investigador principal do Centro Wellcome Trust, na Universidade de Oxford, “as dez regiões genéticas associadas à doença levam a uma maior compreensão biológica da doença, podendo ajudar a desenvolver novos fármacos”. Observando as regiões identificadas, é possível ver a assinatura dos tipos de genes que influenciam o risco de diabetes tipo 2. Podem encontrar-se genes envolvidos no controlo do processo de crescimento e divisão celular, de envelhecimento e particularmente, nos que se encontram activos no pâncreas quando a insulina é produzida. Apesar de tudo, os investigadores dizem que os genes têm apenas uma pequena influência sobre o desenvolvimento da doença e que os principais factores causadores estão ligados a maus hábitos de vida, como alimentação rica em gordura e açúcar e sedentarismo. O facto de esses dez novos genes terem sido descobertos, porém, não significa que os cientistas já possam dizer qual deles é responsável por qual mudança específica no DNA – o que deve ser o próximo alvo. A diabetes é uma doença crónica que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue e pela incapacidade do organismo em transformar toda a glicose proveniente dos alimentos. Caso não seja tratada, pode causar uma série de problemas mais sérios como doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e cegueira. Devidamente tratada, a diabetes não impede o doente de ter uma vida perfeitamente normal e autónoma. Contudo, é fundamental autocontrolar a doença.

Equipa do IGC desvenda motilidade do espermatozoide

Investigação pode ajudar a compreender uma variedade de doenças humanas 2012-08-14 Espermatozoides da mosca da fruta captados durante o processo de formação e diferenciação dos flagelos, marcados a verde (Crédito: Zita Carvalho Uma equipa cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) dissecou o processo pelo qual uma célula constrói o flagelo, uma estrutura essencial para a motilidade do espermatozoide e para a remoção do muco pulmonar, por exemplo. A investigação, a ser publicada na revista Developmental Cell, poderá contribuir para a melhor compreensão de uma variedade de doenças humanas, incluído esterilidade, disfunção pulmonar e hidrocefalias. A equipa liderada por Mónica Bettencourt-Dias procurou descobrir como a célula constrói um flagelo, e em particular como é que garante que este seja móvel. Os flagelos, ou cílios móveis, são pequenas antenas nas células que se movem ou ondulam, ritmicamente. São essenciais para o movimento de células (por exemplo, os espermatozoides) ou para a deslocação de fluido por células que se encontram imobilizadas num tecido, para que este fluido e o que ele transporta (poeiras, óvulos, etc.) se desloquem numa única direcção. É o caso das células flageladas do cérebro, da traqueia e das trompas de Falópio. A equipa procurou assim saber quando e como é formada uma estrutura proteica chamada “par central de microtúbulos”, sem a qual o flagelo perde a capacidade de se mover de forma coordenada. Para descrever, pela primeira vez e detalhadamente, todos os passos microscópicos que levam à formação de um flagelo móvel, os cientistas recorreram à mosca da fruta, Drosophila melanogaster. Na mosca, tal como nos humanos, os espermatozoides deslocam-se até ao ovo com a ajuda de um longo flagelo. Assim, foi usado um tipo de microscopia especial, chamada de microscopia electrónica que permitiu neste caso o estudo de estruturas cerca de 3,500 vezes mais pequenas do que um cabelo humano. “Conseguimos demonstrar que um gene da mosca, chamado Bld10, é essencial para a construção do flagelo do espermatozoide. Moscas com uma mutação neste gene geram espermatozoides com flagelos incompletos e imóveis, tornando os machos completamente estéreis. No genoma humano existe um gene que codifica para uma proteína semelhante a esta e que foi já associada em estudos anteriores a infertilidade masculina”, afirma Zita Carvalho-Santos, investigadora doutorada. Imagem obtida por microscopia electrónica de um flagelo de espermatozoide de Drosophila melanogaster (Crédito: Zita Carvalho-Santos) Este é um dos primeiros estudos detalhados sobre o processo de biogénese do flagelo numa célula animal, elaborado a partir de estudos descritivos da espermatogénese na mosca da fruta, feito nos anos 70. “Descobrimos que este processo é muito mais dinâmico do que imaginávamos; primeiro forma-se um único filamento de microtúbulos, e depois o segundo filamento. O nosso trabalho responde a perguntas que estavam há anos sem resposta, mas levanta outras questões que poderão ser abordadas recorrendo à espermatogénese na mosca da fruta como modelo de estudo”, sublinha Mónica Bettencourt-Dias.

Embriões humanos congelados são viáveis para investigação

Embriões humanos congelados são viáveis para investigação Identificada fonte para geração de novas linhas embrionárias de células estaminais 2012-08-14 As células-tronco embrionárias humanas representam um recurso valioso para triagem de drogas Mesmo depois de terem sido congelados durante 18 anos, os embriões humanos podem ser descongelados, cultivados em laboratório e induzidos com sucesso para produzir células estaminais embrionárias humanas, que representam um recurso valioso para triagem de drogas e investigação médica, avança a AlphaGalileo. Kamthorn Pruksananonda e equipa da Universidade Chulalongkorn e do Hospital Memorial de Chulalongkorn, em Bangkok, Tailândia, demonstraram que as células estaminais embrionárias humanas derivadas de embriões congelados têm uma capacidade de se diferenciarem em vários tipos de células como fazem as derivadas de embriões frescos. “A importância deste estudo é que identifica uma fonte alternativa para a geração de novas linhas embrionárias de células estaminais, usando embriões que foram armazenados a longo prazo”, afirma Jane Taylor, da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Pessoas com sangue tipo O têm menor risco de ataque cardíaco Grupo sanguíneo beneficia de um nível maior de elemento químico que ajuda no fluxo e na coagulação 2012-08-17 As pessoas com o tipo sanguíneo mais raro, o AB, são as mais vulneráveis a doenças do coração As pessoas que têm o sangue do tipo O são menos suscetíveis a problemas cardíacos do que quem possui sangue A, B, e AB, dizem os cientistas da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, em Boston, avança a Associação Americana do Coração. O estudo realizado nos EUA concluiu que as pessoas com o tipo sanguíneo mais raro, o AB, são as mais vulneráveis a doenças do coração. Para este grupo, a probabilidade de sofrer de doenças cardíacas é 23 por cento maior do que para as pessoas com o tipo sanguíneo O. A investigação também descobriu que para pessoas com sangue do tipo B o risco de doenças cardíacas aumentava em 11 por cento e, para pessoas com sangue tipo A, o aumento era de cinco por cento. Os cientistas não sabem explicar a razão deste aumento de probabilidades. Por isso, vão agora analisar como os grupos sanguíneos reagem a um estilo de vida mais saudável. As descobertas que fizerem podem ajudar os médicos a compreender melhor quem tem o risco de desenvolver doenças cardíacas. As descobertas dos cientistas americanos baseiam-se em dois grandes estudos realizados nos Estados Unidos, um envolveu 62.073 mulheres e outro 27.428 pessoas adultas. Os participantes tinham entre 30 e 75 anos e foram acompanhados durante 20 anos. Como a etnia das pessoas estudadas era predominantemente caucasiana, os investigadores afirmam que ainda não foi esclarecido se as descobertas podem ser aplicadas a outros grupos étnicos. O grupo sanguíneo AB foi ligado às inflamações, que têm um papel importante nos danos em artérias. Também foram encontradas provas de que o tipo sanguíneo A está associado ao mau colesterol, o LDL, que pode bloquear as artérias. Já as pessoas com o tipo sanguíneo O podem beneficiar de níveis maiores de um elemento químico que ajuda no fluxo sanguíneo e na coagulação.

Molécula sintética eficaz na diminuição da fertilidade masculina

Novo estudo abre portas para o desenvolvimento de uma pílula contraceptiva oral para homens 2012-08-20 Molécula JQ1 é capaz de deter a espermatogénese O contraceptivo oral masculino pode estar perto de ser uma realidade. Um composto testado em ratinhos demonstrou ser eficaz a interromper a fertilidade de forma reversível e sem alterações em termos de desempenho sexual. O estudo publicado na revista «Cell» foi coordenado por um grupo de investigadores do Dana-Farber Cancer Institute e do Baylor College of Medicine (EUA). A molécula chave da pílula é o composto JQ1, capaz de penetrar através do tecido dos vasos sanguíneos testiculares e deter a espermatogénese, processo pelo qual os espermatozóides se desenvolvem. O resultado é uma diminuição significativa no número e na mobilidade dos espermatozóides. Os investigadores verificaram que pouco depois de interromperem o tratamento com o JQ1 o esperma recuperou a sua funcionalidade. A produção de testosterona não foi afectada não se registaram alterações de comportamento nem problemas de saúde dos filhos nascidos depois da terminar a administração. A dificuldade de encontrar uma solução farmacológica válida para os homens resulta do facto deste produzir milhões de espermatozóides, ao contrário do que acontece nas mulheres, que produzem, normalmente, um óvulo por mês. “Os nossos resultados mostram que quando se administra este composto acontece uma diminuição rápida e reversível no número e da mobilidade do esperma, com efeitos profundos sobre a fertilidade”, diz James Bradner, um dos autores do estudo. A molécula sintética JQ1 que foi testada em mais de 350 laboratórios de todo o mundo. Para ser aprovada para aplicação humana faltam ainda realizar muitas fases de testes. Artigo: Small-Molecule Inhibition of BRDT for Male Contraception

Português envolvido em estudo promissor

Inibição da enzima PHD2 diminuiu tumores e reduz os efeitos secundários da quimioterapia 2012-08-21 Por Luísa Marinho Rodrigo Leite de Oliveira Tornar mais eficaz a quimioterapia e ao mesmo tempo diminuir os seus efeitos secundários são as duas mais-valias do estudo publicado na «Cancer Cell» por investigadores da VIB/KULeuven (Leuven, Bélgica), equipa da qual faz parte o português Rodrigo Leite de Oliveira, primeiro autor do artigo. Em conversa com o «Ciência Hoje», o investigador explica a importância e as singularidades desta investigação com um “carácter promissor a nível da aplicação clínica”. Licenciado em Farmácia pela Universidade do Porto e com mestrado em Genética Molecular pela Universidade do Minho, Rodrigo Leite de Oliveira está na Bélgica a desenvolver o seu doutoramento (Universidade de Leuven). Foi neste âmbito que, há cinco anos, começou a fazer a investigação. Em 2009, os estudos resultaram num artigo de grande impacto. Nesse primeiro artigo revelava-se que “normalizando os vasos tumorais conseguia-se diminuir a malignidade dos tumores e reduzir dramaticamente as metástases”. Isso era possível através da diminuição da actividade da enzima PHD2 (proteína sensora de oxigénio que permite que as células se adaptem consoantes os níveis de oxigénio). “Descobrimos que manipulando essa enzima, fazendo com que ela diminua a sua actividade, os vasos tumorais ficam a funcionar melhor, transportando melhor o oxigénio”. Isso faz com que o tumor seja menos maligno e que metastize menos. Não é só pelo facto do oxigénio ser em maior quantidade a nível do tumor que isso acontece. “Os vasos sanguíneos dos tumores são muito desorganizados, caóticos, cheios de espaços entre eles; não são tubos completamente fechados e permitem que as células cancerígenas possam entrar na corrente circulatória até atingirem outros órgãos e criarem as tais metástases que, no fundo, é o que mata os doentes oncológicos”. A redução da actividade da PHD2 faz com que esses vasos se tornem mais uniformes e funcionais. Depois do “grande impacto” que teve essa descoberta, a equipa quis continuar a investigação “partindo do princípio que se esses vasos tumorais funcionam melhor a transportar oxigénio, também podem funcionar melhor a transportar drogas quimioterapêuticas”. “Começámos a tratar os ratinhos já com os vasos tumorais normalizados, com doses menores de quimioterapia e, de facto, os tumores reduziram e as metástases reduziram ainda mais”, explica. Além disso, a equipa descobriu que “a diminuição da actividade desta enzima tem também impacto a nível dos efeitos secundários da quimioterapia”. Nos órgãos que foram estudados – coração e rins – as defesas antioxidantes aumentaram com a diminuição da actividade da PHD2. “O aumento das defesas faz com que os órgãos estejam mais protegidos contra os efeitos da quimioterapia”. “Este é o primeiro estudo que actua a esses dois níveis: a diminuição dos tumores e dos efeitos secundários, tendo assim um carácter muito promissor a nível clínico”, conclui o investigador que vai continuar as investigações tentando agora encontrar um inibidor específico da enzima PHD2. Artigo: Gene-Targeting of Phd2 Improves Tumor Response to Chemotherapy and Prevents Side-Toxicity

Nova doença auto-imune identificada na Ásia

Doença não é contraída através de vírus 2012-08-27 Doença caracteriza-se pelo enfraquecimento do sistema imunitário, tal como acontece com a SIDA Uma nova doença, encontrada na Ásia, tem vindo a intrigar investigadores. A maleita surgiu apenas em asiáticos e, por norma, aparece na idade adulta, por volta dos 50 anos, em média, e caracteriza-se pelo enfraquecimento do sistema imunitário, tal como no caso da SIDA, provocada pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH). No entanto, nenhum dos pacientes observados tinha contraído VIH. Segundo a equipa de cientistas que desenvolveu o estudo na Tailândia e em Taiwan, a doença não é contraída através de um vírus nem por herança familiar. A investigação contou com mais de 200 pacientes, entre 18 e 78 anos, e revelou que os voluntários portadores da nova doença possuíam anticorpos capazes de destruir uma das substâncias que combatem infecções no organismo. Sarah Browne, cientista do National Institute of Allergy and Infectious Deseases (NIAID) e uma das autoras do estudo publicado no «New England Journal of Medicine», entre os agentes dispostos pelo sistema imunitário, para combater infecções, encontram-se as proteínas interferon-gama (IFN-gama). Estas moléculas são segregadas desde o início de uma infecção viral e activam uma segunda linha de defesa. O grupo de trabalho chegou à constatação que a acção dos interferon-gama está bloqueada por outra molécula produzida pelo sistema imunitário, em pessoas que desenvolveram a doença. No entanto, o que levou ao aparecimento desta doença continua inexplicado, já que apenas ocorre em asiáticos. A equipa acredita que poderá estar ligada a um factor genético ou ambiental. Entretanto, já se sabe que antibióticos não são eficazes no combate à doença, mas não é uma doença viral ou contagiosa.

Dispositivo pode prever a queda de uma pessoa

Doentes de Parkinson e epilepsia podem ser alguns dos beneficiados 2012-08-31 Donald Lie, um dos investigadores envolvidos no projecto Uma equipa de engenheiros norte-americanos está a desenvolver uma tecnologia capaz de prever quando uma pessoa vai cair. O sistema, que ainda só existe em protótipo, é um sensor sem fios que analisa a postura e o andar do utilizador, enviando um alerta se acontecer uma ruptura na sua rotina. O dispositivo é tão pequeno que pode ser anexado, por exemplo, a um cinto. Os responsáveis deste projecto, do departamento de Engenharia Eléctrica e de Computação e de Cirurgia, da Texas Tech University (EUA), defendem que o seu trabalho pode beneficiar pessoas com problemas de equilíbrio, tais como doentes de Parkinson, epilépticos e a população sénior de uma maneira geral. Nas pessoas com mais idade, uma queda pode ser mortal, lembra Donald Y. C. Lie, um dos investigadores envolvidos no projecto. O aviso que indica a possibilidade de uma queda “pode desencadear-se por uma causa muscular ou relacionada com a visão ou pelo consumo de drogas” do indivíduo que está a ser observado. Uma equipa médica recebe em tempo real toda a informação sendo analisada a base de dados que define os movimentos característicos do sujeito. O estudo foi já aprovado por um conselho que valida a investigação biomédica.

Mosquito Aedes Albopictus anda a estender-se pela Europa

Autoridades francesas já reforçaram vigilância 2012-08-27 O Aedes Albopictus é vector do vírus da dengue e do chikungunya O pequeno mosquito tigre (Aedes albopictu), que chegou há 20 anos da Ásia e fora avistado pela primeira vez na Europa em Aquitaine, no Sudoeste da França, tem vindo a estender o seu território pelo continente europeu. Tendo em conta que o principal local de progressão é em França, o país está em estado de alerta. Este insecto é perigo e é mesmo a segunda espécie de Culicidae em importância para o homem como vector do vírus da dengue e do chikungunya. Em 2006, as autoridades sanitárias francesas estabeleceram um plano anti-disseminação. Recorde-se que doenças como dengue e chikungunya ainda são incuráveis. As patologias provocadas pelo Aedes albopictu ainda não tem tratamento antiviral e as medidas apenas se limitam a prevenir a desidratação devido à febre – o sintoma principal destas infecções, para além de dores musculares, de cabeça e sangramento. O risco de uma epidemia é enorme já que o vírus é de fácil contaminação. Por exemplo, se o mosquito tigre picar alguém que tenha contraído o vírus de uma destas doenças, o insecto irá mantê-lo nas glândulas salivares e, por sua vez, contaminará outro indivíduo numa próxima picada. A França já começou a vigilância reforçada desde Maio passado e as medidas seguirão até Novembro – período em que o mosquito tigre está mais activo. Embora muitas abordagens pretendam erradicar o insecto, os investigadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) dizem que não será possível e que a tentativa deve passar por controlá-lo.
Alguns planetas detectados pelo satélite são estrelas afinal 2012-09-03 Por Susana Lage Nuno Cardoso Santos Até 35 por cento dos candidatos a planetas gigantes detectados pelo satélite Kepler (NASA) são afinal estrelas ou objectos sub-estelares, revela um estudo de uma equipa europeia no qual participou Nuno Cardoso Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto. “Até agora, a equipa que tinha feito as análises dos dados do Kepler tinha sempre defendido que a maior parte dos potenciais planetas detectados eram realmente planetas. Este estudo vem agora alertar que não é bem assim e que a equipa estava a ser demasiado optimista. Há uma percentagem realmente elevada dos candidatos que na verdade não são planetas”, afirma o investigador ao Ciência Hoje. As conclusões deste estudo são importantes pois, “a partir do momento em que somos alertados para o facto de que uma boa percentagem dos planetas não são de facto planetas significa que temos de ser muito mais cuidadosos quando estudados, do ponto de vista estatístico, os resultados do Kepler. Não podemos assumir que todos os candidatos são realmente planetas”, explica. Nuno Cardoso Santos ainda não sabe prever qual será o impacto final desta descoberta mas “haverá certamente um em termos da percentagem e de tipo de planetas que existem”, assegura. Foto de telescópio de 1,93m, do Observatório de Haute-Provence (Crédito: R. Sehling) A equipa de investigadores europeus, liderada pelo Laboratório de Astrofísica de Marselha, usou o espectrógrafo SOPHIE3, instalado no Observatório de Haute-Provence, em França, para observar uma amostra aleatória de candidatos a planetas previamente detectados pelo satélite Kepler. Nesta amostra, obtida entre os mais de 2300 candidatos a planetas, detetados através de trânsitos planetários pelo Kepler, foram identificados 10 novos planetas e cinco anãs castanhas. “Basicamente o que se fez foi pegar numa serie de candidatos descobertos pelo Kepler e fomos confirmar se realmente eram ou não planetas usando uma técnica específica”, refere Nuno Cardoso Santos. De salientar que o estudo “concentrou-se em candidatos a planetas gigantes descobertos pelo Kepler porque o SOPHIE não permite tentar confirmar ou não a existência de planetas mais pequenos, como a Terra”. O SOPHIE é um dos instrumentos mais prolíficos do mundo, na medição de velocidades radiais de estrelas. Com este é possivel determinar a natureza dos candidatos a planetas descobertos pelo Kepler, e medir as massas dos objetos em trânsito. “Creio que um dos próximos passos será tentar refinar o estudo para perceber qual é o erro que o Kepler tem relativamente aos planetas mais pequenos”, avança Nuno Cardoso Santos.

Arrefecer o cérebro pode tratar insónias!

Arrefecer o cérebro pode tratar insónias! Ana Margarida Nunes 2012-08-31 Contar carneirinhos a saltar uma cerca, beber um copo de leite quente ou ainda ler um livro aborrecido são estratégias utilizadas por muitos no combate às insónias. Em algumas ocasiões funcionam mas noutras não. * Licenciada em Biologia Microbiana e Genética pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e doutorada em Neurociências pelo King's College London em 2009. A insónia tanto pode ser considerada um sintoma como uma doença e a sua permanência varia de apenas alguns dias a meses e anos tornando-se crónica. Normalmente manifesta-se por dificuldade em adormecer ou permanecer a dormir, cansaço diurno e incapacidade de sentir sono reparador ao acordar. Parece que o cérebro não desliga! Na verdade é quase isso o que acontece. Ler um livro aborrecido pode ajudar... ou não! Durante a insónia o cérebro parece estar hiperactivo em determinadas regiões como no córtex frontal. Esta região estende-se da testa até ao meio da cabeça e é aqui que ocorrem as funções executivas como capacidade de diferenciar pensamentos opostos (como bom ou mau), analisar consequências futuras de acções e controlo social. Para mim, isto faz todo o sentido. Quem sofre de insónias queixa-se de estar sempre a pensar em tudo, a rever tudo, a analisar tudo, querendo controlar tudo! Esta “hiperactividade” parece estar também relacionada com a variação de determinadas moléculas, como a melatonina, hormonas de stress como o cortisol e hormonas de crescimento. Se pensarmos que um terço das nossas vidas é e deverá ser passado a dormir um sono reparador percebemos que distúrbios de sono estão muitas vezes associados a doenças como ansiedade, depressão, défice de atenção, hipertensão e outros problemas cardíacos. No entanto, os medicamentos mais comuns no tratamento da insónia são os hipnóticos, que induzem um sono semelhante ao de uma anestesia, ou os ansiolíticos. Ambos podem causar dependência e efeitos secundários são muito frequentes. Dormir ou não dormir: eis a questão! Estudos recentes sugerem que o melhor tratamento para insónias passa pela mudança de hábitos, nomeadamente com ajuda de terapia cognitiva comportamental. Mas o “insomaníaco” terá de se autodisciplinar e comprometer. A mudança de um hábito enraizado por um novo demora um mês e a motivação é fundamental! Para os que têm dificuldade em assumir um compromisso, o arrefecimento do cérebro poderá ser uma realidade. Um estudo mais recente sugere que o “arrefecimento” do cérebro, mais concretamente no córtex frontal, é capaz de restaurar o sono reparador. Este arrefecimento promove o “desligar das baterias” do cérebro, mas na verdade acontece que o metabolismo ou a quebra de determinadas moléculas em excesso durante a insónia diminuem.
Tuberculose resistente a fármacos atinge níveis alarmantes Propagação ocorre essencialmente em zonas com escassos recursos médicos e com acesso limitado a fármacos 2012-08-30 Tuberculose ultra-resistente responde a número ínfimo de fármacos Uma equipa internacional de investigação encontrou níveis alarmantes de tuberculose (TB) na África, Ásia, Europa e América Latina e é resistente a quatro antibióticos considerados bastante eficazes até agora. O estudo, publicado na revista Lancet, explica que os casos de TB resistentes a tratamentos já alcançam níveis alarmantes e os tratamentos são cada vez mais caros e difíceis de desenvolver. A investigação foi levada a cabo em oito países – Estónia, Letónia, Peru, Filipinas, Rússia, África do Sul, Coreia do Sul e Tailândia – e mostrou que pelo menos 43,7 por cento dos pacientes que sofrem com a doença não reagem perante um medicamento administrado após o fracasso de um primeiro antituberculoso clássico. A maioria das recomendações para o controlo de TB têm sido desenvolvidas para a prevalência da tuberculose multirresistente (TB-MR), cuja taxa oscilava nos cinco por cento, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS); no entanto, em determinados locais, a taxa de prevalência já surge superior a dez por cento. A taxa de prevalência da tuberculose ultrarresistente (TB-UR), uma forma que responde a um número ínfimo de medicamentos de segunda intenção, alcançou 6,7 por cento nos oito países estudados. Tracy Dalton, líder do estudo e investigador dos Centros para o Controlo e a Prevenção de Doenças nos Estados Unidos, refere que os casos de tuberculose ultra-resistente tinham sido observados em 77 países, mas “a actual prevalência exacta é desconhecida”. A situação é preocupante, afirmam os autores, já que a propagação ocorre essencialmente em zonas com escassos recursos médicos e com acesso limitado a fármacos. Para tratar a doença, o processo é longo e prevê que os pacientes ingiram uma série de antibióticos durante seis meses, mas muitos dos indivíduos não completam correctamente o tratamento – medida que tem vindo a fomentar o aumento de formas resistentes a fármacos. A TB é uma pandemia mundial que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, só em 2010 infectou 8,8 milhões de pessoas, levando mesmo 1,4 milhões à morte.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Identificados novos processos implicados nas alergias

Investigadores irlandeses publicam estudo na «Nature Immunology»

2012-02-27


Asma é um problema crescente a nível global

Cientistas do Trinity College de Dublin e do Reino Unido identificaram novos processos que levam ao desenvolvimento de uma célula implicada nas alergias. A descoberta potencia novas estratégias para o tratamento da asma e de outras doenças alérgicas. A investigação acabou de ser publicada na «Nature Immunology».

O número de pessoas com doenças alérgicas, como asma ou dermatite atópica, está a crescer globalmente. As crianças irlandesas estão em quarto lugar a nível mundial na incidência de asma, explicam os investigadores. A área de investigação de novas estratégias para o tratamento destas doenças está focada na compreensão dos processos e das células envolvidas que causam a inflamação.


Um dos autores do estudo foi Padraic Fallon, da Science Foundation Ireland Stokes, e professor na Escola de Medicina, no Trinity College. A sua equipa tinha já descoberto esta célula a que deu o nome de nuócito. Descobriu também que esta inicia a primeira produção de respostas imunitárias que pode levar à asma ou a outras condições ligadas às alergias.

No novo estudo, foi identificado um novo caminho que leva ao desenvolvimento dos nuócitos. O facto de transcrição RORalpha mostrou ser fundamental tanto para a produção de nuócitos e para a inflamação de tipo alérgica.

Esta nova descoberta identifica alvos para as doenças alérgicas e poderão, assim, desenvolver-se novas estratégias terapêuticas.

Artigo: Transcription factor RORα is critical for nuocyte development
Cientistas criam ‘arma’ de detecção para cancro do colo do útero

É o primeiro teste em Portugal que permite auto-colheita pela mulher

2012-03-07

Por Susana Lage


Rui Costa
Vai ser lançado amanhã um teste de auto-colheita para o alerta do cancro do colo do útero, o segundo tipo de cancro mais frequente nas mulheres a nível mundial e com a terceira maior taxa de incidência em mulheres portuguesas.

Chama-se «Teste da Mulher» e foi desenvolvido por investigadores da Universidade de Coimbra (UC) “de forma a combinar a comodidade de um método de auto-colheita e a sensibilidade actualmente reconhecida do teste de detecção do agente causador desta neoplasia, o Papilomavírus Humano (HPV) de alto risco”, explica Rui Costa ao Ciência Hoje.

Segundo o director executivo da Infogene, empresa biotecnológica formada pelos cientistas da UC, o teste está indicado para as “mulheres com mais de 30 anos que desejem manter uma atitude proactiva de monitorização da sua saúde e assegurar que não se encontram em risco de desenvolver cancro do colo do útero”.

O teste vai custar 89 euros e, numa primeira fase, pode ser adquirido em laboratórios de análises clínicas, mas o objectivo é que, a curto prazo, esteja também disponível em farmácias.

Para realizá-lo, “a mulher efectua a auto-colheita com o auxílio do estojo que é cedido, a amostra é então colocada num envelope RSF presente nesse estojo, é entregue no laboratório de compra e/ou enviada para o laboratório Infogene para a detecção de HPV”.

O resultado final “será entregue em mão, à mulher, por um profissional de saúde, no prazo máximo de 15 dias úteis”. No caso de um resultado positivo, a mulher será aconselhada a consultar um médico ginecologista.

“O nosso teste não dispensa a consulta ginecológica de rotina, até porque existem outras doenças do foro ginecológico, além do cancro do colo do útero, que necessitam de despistagem. O Teste da Mulher pretende sim ser mais uma ‘arma’ de monitorização da saúde para o cancro do colo do útero ao dispor das mulheres, a par da prevenção primária (vacinação) e de prevenção secundária (p. ex. teste de Papanicolau)”, sublinha Rui Costa.

A solução proposta pelos investigadores de Coimbra e desenvolvida ao longo dos últimos cinco anos pela Infogene, foi validada no Hospital Universitário de Uppsala, na Suécia, através de um estudo comparativo com o teste de Papanicolau, em que participaram quatro mil mulheres.





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Ómega-3: o ácido gordo essencial cuja ausência pode ser fatal

Baixos índices de DHA e EPA significam risco cardiovascular elevado

2012-03-07

Por Marlene Moura (Texto)


Clemens von Schacky.
Para reduzir o risco cardiovascular, devemos aumentar o consumo de ácidos gordos ómega 3. Quem alerta é o investigador e cardiologista alemão Clemens von Schacky, que surgiu com o «HS-Omega-3 Index» (índice de HS-Omega-3) – uma espécie de medidor de risco cardiovascular –, e sublinha que existem baixos níveis de ácidos gordos Ómega-3 nas populações dos países Ocidentais.

Clemens von Schacky esteve recentemente em Portugal, no âmbito da iniciativa da Fileira do Pescado, para o Dia Internacional do Ómega-3, e apresentou pela primeira vez no nosso país este biomarcador pioneiro – que permite prever e, consequentemente, prevenir eventos cardiovasculares fatais e não fatais –, aceite e validado pelas comunidades médicas alemã e americana.

Recorde-se que estes ácidos gordos (constituintes das gorduras), polinsaturados, que abundam nos óleos de peixe e que são normalizadores do nível de colesterol no sangue e possuem um potente efeito protector contra as doenças cardiovasculares.

Segundo o investigador alemão disse ao «Ciência Hoje», o HS-Omega-3 Index é uma forma “precisa e validada de medir os níveis de ácidos gordos Ómega-3 nos glóbulos vermelhos”, determinado com um método muito específico e analítico, reflectindo a posição nas pessoas dos dois ácidos gordos Omega-3 EPA e DHA (Eicosapentaenoic acid and Docosahexaenoic acid). Assim, "uma pessoa com um baixo índice de ómega-3 tem um risco cardiovascular elevado", continuou.

Os estudos realizados apontam que os níveis ideais devem situar-se entre os oito e os 11 por cento, “para reduzir o risco cardiovascular". Nos países ocidentais, os resultados têm ficado abaixo desse intervalo, frequentemente nos quatro por cento.

Com o seu colega WS Harris, nos EUA e no YS Park, na Coreia, com a ajuda de outros colaboradores, von Shacky desenvolveu diferentes estudos, e muitos ainda estão decorrer. E refere que "enquanto algumas investigações se concentraram no consumo de ómega 3 com resultados inconsistentes, o uso do nosso método analítico [HS-Omega-3 Index] proporciona um quadro mais claro; além disso, está a ficar cada vez mais óbvio que estes ácidos gordos são uma matéria importante para o cérebro e coração”.

Cérebro e gravidez



Investigador alemão criou biomarcador que previne riscos cardiovasculares.
Os ácidos gordos Omega-3 são "essenciais" porque não podem ser sintetizados pelo corpo e devem ser consumidos sob a forma de gorduras, sendo estes um alimento substancial para o cérebro e coração. “Muitos estudos científicos têm vindo a demonstrar um efeito positivo dos ácidos gordos ómega-3 (DHA e EPA) marinhos em diversas áreas como a cardiologia, a psiquiatria, gravidez, entre outras. Os estudos que desenvolvemos revelam que indivíduos com um HS-Omega-3 Index alto são fisicamente mais aptos do que os que registam níveis baixos, sendo raros os casos de acidentes cardiovasculares súbitos nos indivíduos com valores elevados”, sublinhou.

von Schacky e a sua equipa têm feito testes de rotina para avaliação do nível de Ómega-3 na população. E explicou também que “o declínio cognitivo, que se pensava anteriormente estar relacionado com a idade, depende de um baixo índice de Omega-3”, acrescentando que “pode ser prevenido com suplemento de DHA”. As grandes depressões estão geralmente associadas à falta dos dois ácidos gordos e "podem ser combatidas com o reforço destes" na alimentação, assim como poderá trazer benefícios para outras doenças psiquiátricas.

O DHA é um ácido gordo estrutural e importante para o cérebro, e tanto este como o EPA têm efeitos anti-inflamatórios. "Acreditamos que ambos estão ligados aos mecanismos que accionam desordens cognitivas", disse.

O cardiologista defende também que “a análise dos níveis de Ómega-3 pode fornecer dados importantes sobre a gravidez e o desenvolvimento do feto”. Outras áreas de aplicação do índice são “a prevenção e tratamento de doenças mentais e do declínio intelectual relacionado com o envelhecimento”, concluiu.



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Lactoferrina é "decisiva" contra cancro da mama

Produtos de leite e derivados devem ser enriquecidos com esta proteina

2012-03-07


A lactoferrina pode ser encontrada no leite, lágrimas, saliva e no sémen.
Investigadores do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho (UMinho) descobriram que a lactoferrina, uma proteína do leite, é decisiva no tratamento e prevenção do cancro da mama, foi hoje anunciado.

O estudo, recentemente publicado no «Journal of Dairy Science», concluiu que o tratamento de células cancerosas com lactoferrina reduziu a sua viabilidade para metade e a sua proliferação em quase dois terços.

A equipa de Lígia Rodrigues defende que produtos de leite e derivados devem ser enriquecidos com lactoferrina, como forma natural de não contrair cancro da mama ou prevenir a evolução da doença.

A lactoferrina, constituída por 703 aminoácidos, encontra-se predominantemente nos produtos de excreção das glândulas exócrinas dos aparelhos digestivo, respiratório e reprodutivo. Assim, é possível encontrar esta proteína no leite, nas lágrimas, na saliva e no sémen. Adicionalmente, a lactoferrina pode também ser encontrada no sangue.
Químicos da UMa ajudam a melhorar medicamentos contra a SIDA

Cientistas fazem cálculos computacionais dos compostos resistentes a mutações

2012-03-07

Por Susana Lage


Miguel Xavier Fernandes e Visvaldas Kairys
Miguel Xavier Fernandes e Visvaldas Kairys, da Universidade da Madeira (UMa), fizeram parte de um grupo internacional de cientistas que descobriu duas classes de compostos que resistem às mutações do vírus da Sida. A descoberta prolonga a eficácia dos futuros medicamentos.

Quando este projecto financiado em um milhão de dólares pelo Instituto de Saúde dos Estados Unidos (NIH) se iniciou, Miguel Xavier Fernandes e Visvaldas Kairys estavam a trabalhar nos EUA. “A nossa contribuição foi fazer o design e os cálculos computacionais destes compostos antes deles serem sintetizados e testados experimentalmente”, afirma Miguel Xavier Fernandes ao Ciência Hoje.

Uma das conclusões do estudo que o investigador português destaca é que é possível “atacar o problema da resistência a fármacos logo no início do ciclo de desenvolvimento de futuros fármacos, em vez de lidar com esse problema no final”.

A aplicação disto poderá “desenvolver futuros fármacos que mantenham a eficácia mesmo face às mutações dos alvos terapêuticos”.

A produção de um novo composto é muito dispendiosa e é um processo que demora 15 a 16 anos. Por isso, os benefícios da descoberta, diz o cientista, “são principalmente de natureza financeira pela obtenção de terapêuticas mais baratas, porque não seria necessário introduzir novos fármacos para substituir os anteriores cuja eficácia se vê diminuída”.

O projecto obteve bons resultados na fase pré-clínica. Os passos seguintes na investigação, cuja contribuição destes cientistas da UMA terminou, serão a realização de ensaios clínicos que podem demorar três ou quatro anos para testar a eficácia e a segurança deste compostos em humanos. “Nós continuaremos a estudar outros sistemas onde a perda de eficácia dos fármacos representa um problema sério”, sublinha Miguel Xavier Fernandes.





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Investigadora da Gulbenkian no encalço
de novo marcador que prediz cancro da mama

Sofia Braga é uma das vencedoras das Bolsas Terry Fox

2012-03-08


Sofia Braga
“O cancro da mama é a primeira causa de morte nas mulheres do mundo ocidental, entre os 20 e 60 anos. Não são os acidentes de viação ou outros, mas sim esta doença”, salientou ao jornal «Ciência Hoje», Sofia Braga, investigadora no Programa de Formação Médica Avançada, coordenado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com a Fundação Champalimaud.

A médica oncologista do Centro Clínico Champalimaud recebe hoje a bolsa Terry Fox, atribuída em “contexto doutoral”, cujo valor (15 mil euros anuais) será dedicado a estudar um novo potencial marcador de progressão do cancro da mama, no seguimento da investigação desenvolvida até agora e que poderá servir de base a novos testes prognósticos.
“Fazemos quimioterapia aos pacientes, mas é uma doença onde há recaídas", explica acrescentando que conseguir prever a reincidência é “uma questão fundamental, porque quando há uma recaída significa que é incurável”. Durante o doutoramento, no grupo de Genómica Computacional do IGC, Sofia Braga comparou os padrões de activação de genes de 3500 mulheres diagnosticadas precocemente com cancro da mama, com e sem recaídas. Dos genes que estão diferentemente activados em mulheres que sofreram recaídas e as que não, a equipa identificou 65 que foram comparados dentro de uma base de dados. A informação foi recolhida em duas camadas e para a segunda, a informação foi baseada em linhas celulares e na drosophila (mosca da fruta).

O segundo passo é mais dirigido a uma camada biológica e mecanística – “há estruturas na célula que ajudam a fazer a mitose”, explicou ao CH. Sofia Braga refere que é necessário saber que genes estão envolvidos na regulação dos centrossomas (estruturas celulares essenciais para a organização do esqueleto da célula). “Quando se descobre a doença, o primeiro objectivo é a cura e quando há uma recaída é o controlo; por isso, é tão importante chegar aos genes (em todo o genoma) que me ajudam a saber previamente que mulheres tiveram uma recaída”, sublinhou.



Terry Fox
As bolsas Terry Fox, no valor de 30 mil euros anuais, são atribuídas pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) – Núcleo Regional Sul e pela Embaixada do Canadá. As verbas são angariados pela Corrida Terry Fox, que se realiza todos os anos, em homenagem ao jovem canadiano que atravessou o país a pé, com o objetivo de angariar financiamento para a investigação em cancro. A cerimónia de entrega das bolsas decorreu no Dia Internacional da Mulher.Centrossomas

“A ligação entre centrossomas e cancro foi estabelecida há já um século, e os cientistas sabem hoje que muitas células cancerosas têm centrossomas anómalos, ou em número excessivo – o que despoleta a paragem da divisão celular, e, em última instância, o suicídio da célula. Ao estarem sobre-ativados, é possível que os genes que regular os centrossomas se sobreponham aos sinais de suicídio, de forma que as células se mantêm vivas, proliferam, induzem metástases e mau prognóstico para a doente”, assinala ainda o comunicado.

São regularmente utilizados por serem marcadores de recaída estabelecidos, mas identificaram também novos candidatos a marcadores: vários genes envolvidos na regulação dos centrossomas também estão activados de forma diferente entre as duas amostras.

“Estes foram resultados preliminares entusiasmantes, mas têm de ser alargados, porque ainda não estamos seguros do nosso poder preditivo”, contou. Sofia Braga relembra que é “imperiosa a necessidade de submergir médicos em ciência”, assim como ter "uma equipa que combina uma multidisciplinaridade de áreas" – microscopia, biologia molecular e celular, entre outras –, disse frisando “a evidente importância da bioinformática, já que o trabalho tem uma componente computacional fortíssima.

Sofia Braga trabalhou como oncologista no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, em 2008, até ter iniciado o programa doutoral da Champalimaud e Gulbenkian. O trabalho realizar-se-á no Instituto Gulbenkian da Ciência e no IPO, em colaboração com investigadores no Dana Faber Cancer Institute (Harvard, EUA).




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Não se recomenda Vitamina E para a saúde dos ossos

Excesso poderá significar um risco aumentado de fractura

2012-03-12


Investigadores aconselham a evitar suplementos e manter alimentos com vitamina E.
Uma investigação realizada em ratos por uma equipa japonesa, da Universidade de Keio, demonstrou que a Vitamina E poderá reduzir a massa óssea. O estudo publicado na «Nature Medicine» refere que os animais que tinham recebido uma grande dose de suplementos em vitamina E, apresentaram uma densidade óssea nitidamente mais frágil do que os restantes, que não tinham tomado nada.

Os investigadores escrevem que, caso os resultados sejam transponíveis para o homem, significa que o excesso desta vitamina poderá significar um risco aumentado de fractura. No entanto, trabalhos anteriores tinham demonstrado o contrário. Na verdade, poucos são os estudos consagrados a este suplemento, comparativamente às vitaminas A, C ou D.

Nos adultos, a dose diária recomendada é apenas de 12 miligramas. Por exemplo, no caso da vitamina C recomenda-se 110 miligramas por dia. A vitamina E é um dos antioxidantes mais aclamados, pois demonstra ter efeitos contra a deterioração das células e contra o envelhecimento e pode ser encontrada em diferentes alimentos, como: óleos vegetais, cereais, gema de ovo, espinafres, brócolos, nozes, amêndoas, entre outros.

Sabe-se que sobredosagens são desaconselhadas, especialmente para o cólon. No entanto, os especialistas relembram que os suplementos vitamínicos, por norma, trazem uma dose muito superior à que é fornecida pelos alimentos em geral. Por isso, aconselham a evitar os suplementos, já que “podem não fazer nada bem e serem até nocivos”.
Cirurgias para o século XXI

Brandon Medical desenvolve sistemas digitais integrados
para sala de operações

2012-03-12

Por Luísa Marinho, em Leeds (texto e fotografias)




Graeme Hall na 'sala de operações' da Brandon Medical
Yorkshire, no norte de Inglaterra, tem-se destacado nos últimos anos por um acentuado desenvolvimento no sector da saúde. A convite do departamento governamental UK Trade & Investment, o «Ciência Hoje» viajou até ao histórico condado britânico onde visitou algumas das companhias mais inovadoras neste sector.

O roteiro do primeiro dia, por Leeds, foi organizado pela Medilink, empresa privada de parcerias que promove negócios ligados às tecnologias para a saúde. Com um trabalho desenvolvido principalmente na áreas da iluminação, a Brandon Medical foi a primeira a ser visitada.


Graeme Hall, um dos directores, explicou que a empresa conta já com mais de seis décadas de trabalho naquela cidade, tendo sido adquirida por ele e o seu pai em 1993. Nos últimos anos, tem-se dedicado à investigação e desenvolvimento de sistemas digitais integrados para sala de operações e de luzes para cirurgia mais eficazes.

Além da “mais eficientes a nível energético”, explica Graeme Hall, “os LED-HD reduzem o stress nos olhos dos cirurgiões”. Esta tecnologia não se traduz em mais potência de iluminação, mas antes numa melhor definição e diferenciação das cores.

“Quando um cirurgião está a operar um cancro, por exemplo, deve conseguir diferenciar perfeitamente o tumor do que está à volta”, explica. Podendo ser utilizadas para melhor “ressaltar as cores conforme as necessidades, estas luzes proporcionam um maior controlo”.

Na visita pelas instalações não se pode deixar de referir a 'sala de operações' que serve como demonstração da tecnologia ali desenvolvida, com sistemas audiovisuais integrados que permitem um maior controlo sobre as cirurgias.




Sistema audiovisual integrado
Ao proporcionarem imagens digitais da operação em tempo real, são também úteis “para o apoio exterior a cirurgias, quando o cirurgião é pouco experiente”, por exemplo.

A vertente pedagógica tem aqui também um papel importante. “Antes, os estudantes de medicina iam assistir às cirurgias dentro da sala de operações, a comer e a beber... o que não era muito higiénico”, brinca o gestor. Agora, devido à tecnologia “podem assistir às operações em tempo real numa sala de aulas”.

Além de cartão de visita da empresa, e a título de curiosidade, a sala foi já utilizada pelo canal de televisão BBC para filmagens de cenas de telenovelas ou filmes: “Já aqui houve um 'nascimento' e até uma 'operação a um baleado'”.
As úlceras de pressão, provocadas pela falta de irrigação sanguínea a determinadas áreas do corpo, devido a pressão, por exemplo, contra uma cama ou uma cadeira de rodas, é um grave problema de saúde que afecta particularmente pessoas acamadas. Sendo difíceis de tratar, principalmente em estado avançado, podem mesmo levar à morte. Num hospital, o risco de infecções decorrente deste problema, como a sépsis, torna-se elevado. A Park House Healthcare tem-se dedicado nos últimos anos a conceber produtos próprios para quem está sujeito a sofrer deste tipo de úlceras. O «Ciência Hoje» visitou as suas instalações, em Leeds, Inglaterra, a convite do UK Trade & Investment, numa press tour organizada pelo Medilink.


Entusiasta com o trabalho que realiza, Peter Carroll, director de vendas e de marketing da empresa, afirma que a Park House é, actualmente, a companhia inglesa com um crescimento mais rápido, tendo ganhado, recentemente, o Excellence Award, da British Healthcare Trades Association (BHTA).

A empresa fornece camas hospitalares inovadoras tanto para o mercado interno como para o internacional, especificamente para 38 países, incluindo Portugal. “Temos uma história de 27 anos de trabalho, por isso somos experientes, credíveis e flexíveis”, diz.

Carroll explica que “as pessoas hospitalizadas estão sujeitas a úlceras de pressão e 80 por cento das infecções hospitalares entram no corpo através das úlceras. Nós temos material para os problemas de circulação”. A 'máxima' da companhia, a sua 'declaração missão é “melhorar rapidamente o estado do paciente”.




Peter Carroll, da Park House Healthcare
Segundo os dados mais recentes, 20 por cento dos doentes hospitalizados nos cuidados intensivos acabam por desenvolver úlceras de pressão, sendo que se pode agravar se o paciente for, por exemplo, diabético. “Num paciente diabético, o tempo entre o aparecimento da úlcera até à necessidade de amputação pode ser de apenas 24 horas”.

O Park House trabalha em sintonia com a «European Pressure Ulcer Advisory Panel» (EPUAP), que desenvolveu as directrizes internacionais sobre a prevenção e tratamento destas úlceras.

Além de desenvolver, produzir e exportar o material, a companhia exporta também conhecimento, investindo na instrução e na educação dos seus parceiros comerciais. Para isso, são necessárias “parcerias de longa duração”, como acontece com Portugal e Bélgica, os seus “melhores parceiros”, admite Carroll.

Em Portugal, os produtos da Park House são distribuídos pela Damedis em três hospitais de Lisboa
Gorilas partilham modificações genéticas paralelas com humanos

Sequenciação do genoma do primata ajuda a compreender a evolução do Homem

2012-03-08


Os genes da audição evoluíram nos gorilas a uma velocidade quase equivalente à dos humanos
Os gorilas estão mais próximos dos humanos do que os cientistas julgavam. A descoberta surgiu depois de ter sido decifrado o genoma do primata, divulgou hoje a revista Nature.

Kamilah vive na Califórnia, EUA, tem 35 anos, pesa 136 quilos, tem um pêlo escuro a cobrir a pele e é a primeira gorila a ter todo o seu genoma sequenciado.

Com a sequência genética desta espécie, uma equipa internacional de biólogos do Instituto Wellcome Trust Sanger, no Reino Unido, fez a comparação com os genomas do chimpanzé e do Homem.

Os resultados demonstraram que os gorilas partilham com os humanos numerosas modificações genéticas paralelas, em particular a evolução do ouvido. Os cientistas sustentam que os genes da audição evoluíram nos gorilas a uma velocidade quase equivalente à dos humanos.

Segundo as conclusões publicadas na Nature, 15 por cento do genoma humano está mais próximo da versão do gorila do que a do chimpanzé. Por sua vez, 15 por cento do genoma do chimpanzé aproxima-se mais do gorila do que do Homem.
DNA de plantas revela que feijão surgiu no México

A diversidade genética actual pode não ser um retrato preciso da origem da planta há milhares de anos

2012-03-12


O Phaseolus vulgaris foi levado para Norte mais tarde. (Imagem: miRNEST)
Quando falamos de gastronomia mexicana o prato mais aclamado é o chilli (receita com feijão). Não é por acaso que esta leguminosa é tão importante na dieta deste país. Estudos realizados ao DNA de mais de uma centena de diferentes variedades de feijão, apontam o México como o centro da origem da planta.

Na tentativa de saber mais sobre a história deste produto alimentar, uma equipa do Centro de Investigação Agrícola italiano, liderada por Roberto Papa, estudou o genoma de de formas selvagens da planta em cinco diferentes regiões. O estudo vem publicado na edição electrónica da revista científica «PNAS».

Ao longo dos anos, arqueólogos e botânicos apostavam nos Andes – geralmente o centro de origem de plantas domésticas, como a batata –, como sendo o berço do feijão comum (Phaseolus vulgaris), defendendo que a planta teria sido posteriormente levada para o Norte. Recorde-se que antes de Cristóvão Colombo e Pedro Alves Cabral, a planta já era uma parte importante da dieta indígena em 1500.

Geralmente, quando um ser vivo se espalha de uma região para outra, as áreas por onde passa abrigam menos diversidade genética do que as de origem. É o caso do ser humano: os africanos são mais diversos geneticamente que os europeus, por exemplo.

No entanto, segundo um investigador que se tem dedicado ao estudo desta planta disse a um diário brasileiro, “a diversidade genética actual do feijão pode não ser um retrato preciso da origem da planta há milhares de anos”.
Mutações genéticas não herdadas envolvidas no autismo

Novos estudos identificam vários genes vinculados a este transtorno de desenvolvimento

2012-04-09


Estudo analisou famílias com crianças afectadas mas sem antecedentes

Três estudos publicados recentemente na «Nature» sublinham o papel das alterações genéticas não herdadas no aparecimento do transtorno de desenvolvimento conhecido como autismo. Os grupos das universidades de Yale, Washington e Harvard que elaboraram o trabalho identificaram 65 genes ligados a esta disfunção. Destes, quatro – SCN2A, CHD8, KATNAL2 e GRIN2B – estão fortemente vinculados à doença.

Os cientistas não conseguiram ainda clarificar completamente a ligação da componente genética à doença. A importância dos trabalhos agora publicados tem a ver não só com as alterações identificadas, todas elas nos exões, a parte codificante do material genético, mas também com o tipo de mutação.


Os investigadores centraram-se em erros genéticos muito específicos, as chamadas mutações 'de novo', alterações que não se encontram no DNA dos progenitores dos afectados. São o resultado de alterações genéticas que ocorrem nos gâmetas (espermatozóides e óvulos) dos progenitores ou durante concepção.

Ao comparar os resultados de DNA dos pais e dos filhos (os estudos analisaram famílias com crianças afectadas mas sem antecedentes), os investigadores deram-se conta que algumas das mutações coincidiam no mesmo gene em pacientes não relacionados. Embora tivesse sido relatado em apenas duas crianças, a 'coincidência' é relevante.

Matthew State, professor de genética de Yale, que dirigiu um dos grupos, acredita que as probabilidades deste gene estar relacionado com o autismo “são de 99,99 por cento”.

Os três trabalhos coincidem em dar um peso especial ao elemento masculino neste tipo de alterações. Da análise de 51 mutações 'de novo', o grupo da Universidade de Washington concluiu que existiam quatro vezes mais possibilidades de adquirir as mutações do DNA recebido pelo pai do que pela mãe. O risco era superior se progenitor tivesse mais de 35 anos.
Novo 'software' avalia riscos de problemas cardiovasculares

Estudo da Universidade de Granada publicado «Journal of Evaluation in Clinical Practice»

2012-03-19


Nos últimos anos, a prevenção evoluiu para um modelo integrado de intervenções estratégicas

Investigadores da Universidade de Granada, Espanha, desenvolveram uma ferramenta de software que faz uma estimativa precisa do risco que uma pessoa ou determinado grupo populacional têm de sofrer de doenças cardíacas. Os investigadores incluíram no seu estudo uma amostra de três mil pacientes.

Os profissionais da saúde admitem que compreender o risco deste tipo de doenças tendo em conta diversas situações é o factor-chave para a prevenção e ajuda a reduzir os gastos na saúde a curto e a longo prazo.


De acordo com os investigadores, durante a última década, a prevenção das doenças cardiovasculares evoluiu de intervenções isoladas aplicadas a factores de risco modificáveis para um modelo integrado de intervenções estratégicas baseado na quantificação e estratificação dos riscos pré-existentes.

O que permitiu essa mudança de estratégia foi a crescente disponibilidade de ferramentas para a quantificação e estratificação dos riscos. Essas ferramentas avaliam um conjunto de características individuais, os chamados factores de risco. Este foi o âmbito do estudo conduzido pela Universidade de Granada e recentemente publicado no «Journal of Evaluation in Clinical Practice».

No campo dos estudos epidemológicos na prevenção de problemas cardiovasculares, os Estados Unidos desenvolveram nos últimos anos um conjunto de modelos matemáticos. O seu propósito era fornecer uma estimativa da probabilidade de sofrer de um episódio cardíaco num curto prazo (entre cinco e dez anos), avaliando a exposição a factores de risco. Os investigadores da Universidade de Granada utilizaram este modelo no seu estudo.

Fizeram, assim, um estudo comparativo de diferentes equações aplicadas a um grupo de pacientes “em risco”, encaminhados para o serviço de Endocrinologia de um centro de cuidados primários em Granada. Os factores eram obesidade, tensão arterial alta, diabetes e alterações no perfil lipídico.

Artigo: A computer tool for cardiovascular risk estimation according to Framingham and SCORE equations




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Lançada plataforma para promover ensaios clínicos em Portugal

Infarmed informa que diminuição do número de ensaios também se regista na Europa

2012-03-20




“Por cada 10 mil moléculas que podem vir a dar origem a um medicamento, apenas uma entra no mercado”
A autoridade nacional do medicamento (Infarmed) lançou hoje a Plataforma Nacional de Ensaios Clínicos (PNEC) para aumentar o número destes testes em Portugal, depois de constatar uma redução desde 2008. Actualmente, estão a decorrer 330 ensaios, sendo as principais áreas envolvidas a oncologia (40 por cento), doenças infecciosas e as doenças do sistema nervoso (ambas com 11 por cento).

Fátima Pimentel, do Infarmed, explica que a Plataforma tem como objetivos estratégicos identificar e resolver os principais problemas e constrangimentos à realização de ensaios clínicos com medicamentos, promover a realização da investigação clínica e aumentar o número de ensaios de fases mais precoces.


Na apresentação da PNEC, que decorreu em Lisboa, o secretário adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, afirmou que esta Plataforma é “um passo decisivo para melhorar a capacidade de realização de ensaios clínicos”.

Para o governante, a realização destes ensaios, além de proporcionar inovação, é um “processo muito importante” que reúne várias entidades que colaboram em conjunto para a concretização de um processo biomédico.

Hélder Mota Filipe, do Infarmed, adiantou que, “por cada 10 mil moléculas que podem vir a dar origem a um medicamento, apenas uma entra no mercado”, situação que pode dever-se à elevada exigência do mercado. “Portugal tem um investimento significativo em investigação por parte da indústria farmacêutica, mas temos de potenciar” esta actividade, disse.




Fernando Leal da Costa, secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde
Em Portugal, o número de ensaios não comerciais (ensaios clínicos académicos) é de 5,6 por cento em relação ao total de ensaios clínicos, um número considerado pelo responsável do Infarmed “muito baixo”.

Emília Monteiro, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa adiantou que 93 por cento dos ensaios comerciais realizados em Portugal eram apoiados pela indústria farmacêutica. Para a professora, a legislação “está muito virada para a indústria farmacêutica, tem algumas limitações e pode ser aperfeiçoada”.

Assinalou também a diminuição do número de ensaios clínicos em Portugal, situação também registada na Europa. Em 2011 foram submetidos 327 ensaios clínicos, dos quais foram autorizados 267. “É preciso aumentar o número de ensaios nas fases mais precoces e com terapêuticas mais inovadoras porque são estes que trazem mais inovação, que estão menos conotados com alguns conflitos de interesses e indução à prescrição e contribuem de forma mais directa para o acesso a medicamentos inovadores”.

Os grandes centros hospitalares “são os que mais contribuem para os ensaios”. Na distribuição de ensaios por centros hospitalares entre 2006 e 2011, o centro hospitalar da Universidade de Coimbra lidera com 158, seguindo-se o centro hospitalar de Lisboa Norte com 135 e o centro hospitalar do Porto, com 98.
Portugueses colaboram em estudo
sobre bactéria resistente a fármacos

Investigadores propõe associação de fármaco para tratar infecções provocadas pela bactéria 'Staphylococcus aureus'

2012-03-21




“Portugal tem as estirpes mais resistentes a nível europeu” (mapa referente a um estudo de 2008)
Uma equipa de investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), da Universidade Nova de Lisboa em Oeiras, colaborou no estudo, publicado hoje na «Science Translational Medicine», uma publicação da AAAS, onde se dá a conhecer um novo fármaco, que, co-administrado com um antibiótico disponível actualmente, poderá tratar as infecções provocadas pela bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina, também conhecida pela sigla SARM.

Em conversa com o «Ciência Hoje», Mariana Pinho, explicou que o que a sua equipa fez foi tentar perceber os mecanismos dos compostos que, agindo sinergeticamente, quebram a resistência da bactéria.


A propagação das infecções de SARM, é um problema “difícil de combater”. A sua maior proliferação é no meio hospitalar. Nos Estados Unidos, por exemplo, “morrem por ano mais pessoas devido a infecções com esta bactéria do que devido ao HIV e à tuberculose juntos”, informa a investigadora.

Em Portugal não existem dados sobre as mortes. No entanto, as bactérias Staphylococcus aureus que foram isoladas nos hospitais eram resistentes a antibióticos. “Portugal tem as estirpes mais resistentes a nível europeu”, sublinha.

“O que caracteriza a nossa investigação são os estudos por microscopia de fluorescência”. Ou seja, “olhamos para o que se passa dentro da bactéria” para tentar perceber quais os mecanismos pelos quais os compostos combatem a resistência da bactéria.

“É muito caro desenvolver novos antibióticos” para colmatar os que deixaram de funcionar. Por isso é uma “vantagem óbvia” associar um fármaco a outro que já exista, “principalmente se já passou nos ensaios clínicos”, diz a investigadora.




Mariana Pinho
A combinação estudada pela equipa liderada por Christopher Tan, do Merck Research Laboratories, em Kenilworth, Nova Jérsia, é de um novo fármaco chamado PC190723 com uma classe de antibióticos usados actualmente chamados beta-lactamas.

A combinação de ambos ressensibiliza a SARM através de um “efeito dominó”, onde o primeiro bloqueia a expressão da proteína FtsZ da divisão celular, que danifica uma segunda proteína chamada PBP2. Como esta é necessária para a resistência aos antibióticos beta-lactâmicos, o facto de interferir na sua actividade torna a SARM novamente sensível.

A inativação da proteína FtsZ parece também inibir o crescimento e a viabilidade de SARM. Esses dois antibióticos agem sinergeticamente, o que significa que seus efeitos combinados de combate a SARM são muito maiores do que os efeitos de cada fármaco separadamente. Além disso, é necessário uma quantidade substancialmente menor de cada um para combater a infecção.

Esta investigação é um primeiro passo para a criação de um medicamento contra as infecções por SARM. No entanto, diz Mariana Pinho, isso ainda pode demorar anos, visto não estar ainda em fase de ensaios clínicos.

Artigo: «Restoring Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus Susceptibility to β-Lactam Antibiotics»




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Área da saúde é o motor da cidade de York

Science Park acolhe Tissue Regenix, companhia que desenvolve implantes clínicos

2012-03-22

Por Luísa Marinho (texto e fotos) em Inglaterra


Gillian McNally, da Tissue Regenix

York é um pequeno município no coração do condado de Yorkshire, norte de Inglaterra. Considerada uma das cidades mais bonitas do país pela sua catedral gótica, à volta da qual se erguem ruas medievais, muralhas romanas e pontes da revolução industrial, foi já a urbe mais importante de Inglaterra, tendo lá funcionado a sede dos caminhos de ferro britânicos, durante o século XIX.

Hoje é uma das cidades com melhor qualidade de vida, que aposta no desenvolvimento do conhecimento, sendo a Universidade e a os serviços ligados à área da saúde os motores da região. A convite da UK Trade & Investment e da câmara municipal, o «Ciência Hoje» foi visitar o Science Park, situado no campus da Universidade de York.


Composto por várias empresas, o York Science Park é um complexo moderno e dinâmico que promove I&D em diversas áreas da ciência e tecnologia. Alberga mais de 50 companhias, entre centros de desenvolvimento de tecnologia e de apoio à inovação.

No Tissue Regenix, Antony Odell e Gillian McNally fizeram as honras da casa. Odell esclareceu que a companhia não faz propriamente investigação, mas sim desenvolvimento. “Queremos transformar os resultados das pesquisas em produtos de mercado”, sublinha. Assumindo a sua vertente de mercado, afirma que não “vale a pena gastar milhões para fazer algo que só vai servir quatro pessoas, pois não tem sentido económico”.

A empresa desenvolve “componentes clínicos”, implantes diversos (ortopédicos, para o sistema cardiovascular, entre outros) que têm de ser uma “solução a longo prazo” para quem os vai receber. “A regeneração é feita in vivo e com as células do próprio paciente”, sublinha.

Assim, quando um implante entra do corpo “é preenchido com as células do próprio paciente e 'cresce' com ele, ficando completamente integrado no seu corpo”, ao contrário do que acontece com outros implantes sintéticos ou que têm tratamentos químicos.

As parcerias para investigação incluem actualmente o Institute of Medical and Biological Engineering (IMBE), da Universidade de Leeds e laboratórios ligados à Universidade de Curitiba, no Brasil. Recentemente, o IMBE foi premiado com o «Royal Seal of Approval», o maior galardão que pode ser atribuído a uma instituição académica inglesa.
Cientista português pode solucionar doenças musculares

“É importante posicionar o núcleo das células no músculo para que este funcione bem”

2012-03-24


As proteínas mutadas podem interferir com o posicionamento do núcleo
A correcta posição do núcleo é decisiva para o funcionamento do músculo e a sua alteração afecta o movimento, concluiu uma investigação que poderá ser o primeiro passo para o desenvolvimento de tratamentos para doenças musculares.

“Este trabalho demonstra, pela primeira vez, que o posicionamento do núcleo no músculo é importante para que funcione bem”, explicou à agência Lusa Edgar Gomes, cientista do Instituto de Miologia, em Paris.

O resultado desta investigação “poderá ser muito importante para o desenvolvimento de futuras terapias de tratamento de doenças musculares e para conhecermos mais [acerca da forma] como as células colocam os seus núcleos no sítio” correcto, avançou o especialista.

Não é só nos músculos que o posicionamento do núcleo é importante, nalgumas doenças neurológicas o posicionamento do núcleo nos neurónios é relevante para a função do cérebro, avançou ainda o cientista.

Por isso, as conclusões desta investigação podem também contribuir para o desenvolvimento de terapias em outras áreas.

Publicado na revista Nature, o trabalho foi desenvolvido por um grupo da Universidade Pierre e Marie Curie, de Paris, liderado pelo cientista Edgar Gomes, e outro do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova Iorque, coordenado por Mary Baylies.



Edgar Gomes
Edgar Gomes contou que estava a estudar o posicionamento do núcleo dentro das células e começou a trabalhar células do músculo.

Em pacientes com diferentes doenças musculares e durante a regeneração dos músculos, “os núcleos já não estão na periferia da célula, mas sim numa zona mais central, interior, e achei interessante tentar perceber o que se estava a passar: será que é uma causa ou uma consequência da doença?”, relatou.

Há três anos encontrou outro grupo interessado na mesma questão e decidiram trabalhar em conjunto: uns em células de ratinho e outros em mosca do vinagre.

“Encontramos dois genes, duas proteínas que são importantes para esse posicionamento do núcleo. Na mosca do vinagre, quando uma das proteínas não está presente, as larvas têm problemas em andar, mas quando corrigimos este gene e corrigimos o posicionamento do núcleo andam bem”, resumiu Edgar Gomes.

Assim, este estudo sugere que talvez as proteínas mutadas possam interferir com o posicionamento do núcleo observado no músculo desses pacientes e a “doença ser causada porque os núcleos não estão no sítio certo do músculo”, resumiu.
Exposição a micróbios reforça a saúde das crianças

Sistema de defesa do organismo deve ser educado

2012-03-23


Demasiada higiene baixa defesas do organismo.
Já diz o ditado: “O que não mata, engorda!” Uma equipa de cientistas norte-americana e alemã afirma que os micróbios reforçam a futura saúde das crianças, impedindo que contraia determinadas doenças inflamatórias, como asma ou problemas intestinais. O estudo foi publicado na revista «Science».

Segundo os investigadores, as crianças que vivem no campo e são expostas ao pó e outro tipo de sujidade e, consequentemente, a uma variedade de micróbios, têm menos doenças inflamatórias do que as que vivem na cidade. O excesso de limpeza poderá ser prejudicial, tendo em conta o estudo, coordenado por Dennis Kasper e Richard Blumberg, da Escola de Medicina da Universidade Harvard, realizado com ratinhos. E a futura exposição a microrganismos na fase adulta não reverte o quadro das doenças inflamatórias, várias delas crónicas.

O grupo de investigação estudou diferentes roedores praticamente livres de micróbios, criados em condições estéreis e que recebiam comida sem germes, comparativamente a outros que viviam em condições mais naturais.

A exposição a micróbios desde cedo alterou os níveis de células T, de defesa do organismo. E, ao contrário do que se poderia imaginar, os animais livres de micróbios tiveram índices mais altos de inflamação nos pulmões e colón (asma e colite). A ocorrência pode ser explicada como sendo obra das células T, que foram excessivamente zelosas na defesa do organismo e provocaram o problema em vez de resolvê-lo.

A hipótese da higiene

Para testar a "hipótese do excesso de higiene", a equipa expôs filhotes de ratinhos a micróbios típicos do meio ambiente e, como resultado, o sistema de defesa destes manifestou-se na prevenção de doenças inflamatórias.

No entanto, o resultado não é o mesmo quando animais adultos que foram preservados em criança são expostos. Em falta dos micróbios benéficos, o organismo produz uma substância conhecida como CXCL 16, geralmente associada a inflamações e o que sobra da molécula poderia estar ligado à acumulação de células T. Para os investigadores, a ocorrência deve-se à "educação" do sistema de defesa do organismo, durante as primeiras semanas de vida.

Os autores do estudo afirmam que o CXCL 16 é um factor que, na presença de micróbios, regula a quantidade e a função das células T no cólon e nos pulmões, "e, consequentemente, a susceptibilidade à inflamação dos tecidos".
Botox é eficiente no tratamento da incontinência urinária

2012-03-26

Por Lusa


Estudo permitiu definir a dose ideal de botox.
Um estudo internacional, liderado por Francisco Cruz, investigador da Faculdade de Medicina do Porto e director do Serviço de Urologia do Hospital São João, provou que o uso de botox é “eficaz e seguro” no tratamento da incontinência urinária.

“É muito mais eficaz do que os tratamentos que já existiam, por isso é que nós estávamos a utilizá-lo, de uma forma não aprovada, mas com autorização das comissões de ética dos hospitais. Aliás, é duplamente eficaz, porque trata a incontinência e protege os rins”, afirmou Francisco Cruz.

A equipa de investigação responsável por este trabalho avaliou uma amostra de 275 pacientes que reportaram, em média, 33 episódios de incontinência urinária por semana. Com idades compreendidas entre os 18 e os 80, os doentes avaliados sofriam de esclerose múltipla ou de lesões na medula-espinhal.

Um terço da amostra foi injectada de forma minimamente invasiva com 200 miligramas (mg) de botox, outra parte recebeu 300 miligramas e ao terceiro grupo foi administrado um placebo. Ao fim de duas semanas, os investigadores registaram “uma melhoria significativa dos sintomas nos pacientes injectados com toxina botulínica. No final das seis semanas, 38 por cento dos pacientes tratados com 200 miligramas de botox e 39 por cento dos doentes que receberam 300 miligramas dessa substância estavam continentes, isto é, “controlavam integralmente a sua vontade de urinar”.

Francisco Cruz explicou que o estudo permitiu ainda definir a dose ideal a administrar a estes pacientes. “Embora as duas doses tenham sido bem toleradas sem diferenças clínicas relevantes na eficácia ou duração do efeito, os resultados sugerem que a dose de 200 miligramas apresenta benefícios em termos de segurança”, sustentou.

Com selo de aprovação

A utilização de botox (toxina botulínica) para tratar a incontinência urinária em doentes com doenças neurogénicas já foi aprovada em vários países da Europa como Portugal, França, Irlanda, Finlândia, Reino Unido e, também, nos EUA.

Este foi o maior estudo desenvolvido para avaliar a eficácia e segurança do uso do botox na incontinência urinária, tendo reunido 63 centros de investigação. “Um estudo destes, que envolve 275 doentes, em 63 centros em todo o mundo e que implica um acompanhamento durante um ano, é muito difícil de realizar”, frisou.

O investigador lembrou que a incontinência urinária tem “um impacto muito negativo” na qualidade de vida dos pacientes afectados e que o tratamento com anticolinérgicos (primeira linha terapêutica até ao momento) “é descontinuado por um grande número de pacientes devido aos efeitos secundários intoleráveis que estes fármacos provocam”. Francisco Cruz acredita, por isso, que este trabalho, publicado no European Urology Journal, “vai influenciar o tratamento deste problema em todo o mundo”.
Níveis de poeira na atmosfera ultrapassam limite aconselhável para a saúde

Fenómeno deverá durar até ao próximo sábado

2012-03-27


Excesso de pó leva a agravamento de alergias e problemas respiratórios
O nível de poeira na atmosfera em Portugal ultrapassa desde sábado passado o limite aconselhável para a saúde devido a um fenómeno climático arrastado do norte de África, mas o Governo não lançou nenhum alerta, alertou hoje um investigador.

O aviso foi avançado pelo coordenador da área do ar do departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL), Francisco Ferreira, que refere que o fenómeno deverá durar até ao próximo sábado.

“As estações de monitorização da qualidade do ar de todo o país revelam valores que estão a exceder os limites fixados pela legislação, não devido apenas à poluição relacionada com as actividades humanas, mas sem dúvida, resultado deste fenómeno, que já dura há uns dias”.

Um fenómeno que é comum em ilhas como a Madeira, Cabo Verde e Canárias, mas mais invulgar em locais mais a norte. “Em determinadas épocas do ano, há tempestades de areia que levam a que muitas poeiras sejam arrastadas pelo vento desde o Norte de África - estamos a falar principalmente dos desertos do Saara e do Sahel - até vários locais da Europa, mas principalmente à Península Ibérica”, explicou Francisco Ferreira.

“Em determinadas circunstâncias, estas poeiras podem ser arrastadas para bem mais longe e foi isso que aconteceu”, disse, adiantando que “os ventos trouxeram estas partículas do Norte de África e, [no sábado, isso] coincidiu com alguma chuva”, tendo-se feito notar pela sujidade e pó que deixou sobretudo nos automóveis.

“Não é normal a um sábado e a um domingo, em que há muito menos tráfego rodoviário, existir uma ultrapassagem do valor limite diário de partículas em estações de monitorização de Norte a Sul” do país, notou Francisco Ferreira.

O valor limite é de 50 microgramas por metro cúbico (m3), sendo que os valores actuais em toda a rede chegam, segundo o especialista, a ultrapassar os 70 microgramas por metro cúbico. “Este transporte de partículas está a ter lugar desde sexta-feira e, à partida, continuará a ocorrer até dia 31”, alertou ainda.

Riscos para a saúde

Apesar de referir que o pó que se encontra agora no ar não tem efeitos na saúde tão graves como as partículas resultantes das emissões dos automóveis, Francisco Ferreira admite que “as concentrações em jogo já são bastante elevados e desde sexta-feira ou sábado que as populações mais sensíveis deveriam estar a tomar algumas precauções”.

De acordo com o coordenador do departamento de Ciências e Ambiente da UNL, “as pessoas mais idosas, as crianças e as pessoas com problemas respiratórios” devem evitar “esforços que exijam uma elevada taxa respiratória”. O problema – sublinhou – é o número de dias de exposição ao pó.

“Estamos a falar já de uma sequência de uma semana em que as pessoas estão expostas a elevados níveis de partículas que não deixam de trazer problemas para a saúde”, lembrou, acrescentando que “vários artigos científicos mostram que pode causar agravamento do risco de doenças cardiovasculares, problemas associados ao agravamento de alergias e problemas respiratórios”.

Por isso e como é habitual, o departamento de Ambiente da Universidade Nova de lisboa – que faz uma avaliação diária deste tipo de eventos – avisou o ministério do Ambiente. “Nós fazemos um aviso - que depois as entidades podem ou não resolver passá-lo à população” -, mas “que eu saiba não houve nenhum aviso” do Governo, concluiu.





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Cientista portuguesa contribui para melhor conhecimento

Cientista portuguesa contribui para melhor conhecimento
sobre doença de Huntington

Estudo realizado na Universidade de Milão publicado na Nature Neuroscience

2012-04-02

Por Susana Lage


Catarina Ramos
Investigadora portuguesa e equipa da Universidade de Milão acabam de revelar uma nova função para a huntingtina, a proteína que aparece mutada na doença de Huntington.

Ao Ciência Hoje, Catarina Ramos explica que este estudo, publicado ontem na Nature Neuroscience, começou a ser pensado em 2004 e pretendia explorar qual a função da huntingtina, uma proteína que tem uma versão “sã” e uma versão mutada.

"Quando o gene que codifica para a huntingtina se encontra mutado, esta proteína é produzida numa versão mutada que é tóxica e é responsável pelo aparecimento da doença de huntington, uma doença neurodegenerativa", descreve .

Segundo a cientista, o grupo italiano "esteve desde sempre mais interessado em perceber para que serve a proteína sã, qual a sua função”. Por isso, a equipa usou uma “metodologia evolutiva”, isto é, isolou porções da huntingtina de diferentes espécies e compararam o que cada uma delas era capaz de fazer.

Anteriormente, a equipa da Universidade de Milão da qual fazia parte Catarina Ramos já tinha demonstrado que a huntingtina confere uma maior sobrevivência às células na sua versão sã, mas o que este estudo vem agora desvendar é que a huntingtina sã é também importante para a manutenção da adesão entre células neurais, o que poderá ter implicações durante o desenvolvimento do cérebro.

Por um lado, “descobrimos que a função anti-apoptótica da huntingtina é comum a todas as espécies que testámos, o que revela tratar-se de uma função ancestral”. Por outro lado, “identificámos uma nova função que só apareceu mais recentemente, a da adesão célula-célula”, afirma a cientista.



Equipa da Universidade de Milão (Foto tirada por Catarina Ramos)
As conclusões deste estudo, apesar de não terem aplicação direta para a cura da doença de Huntington, permitem perceber um pouco mais sobre como a função da huntingtina se desenvolveu ao longo da evolução das espécies. A descoberta abre assim novas perspetivas, já que “desvendou um mecanismo fundamental para a manutenção da arquitetura celular do cérebro”, garante Catarina Ramos.

Segundo Filipa Júlio, presidente da direcção da Associação Portuguesa de Doentes de Huntington, as estimativas realizadas por estudos portugueses com amostras vastas apontam para uma "prevalência da doença no nosso país semelhante aos restantes países ocidentais, cerca de 5/7 a 10/12 doentes por cem mil".

Do Porto para Milão

A oportunidade de Catarina Ramos contribuir para esta investigação surgiu quando a investigadora estava a fazer doutoramento no laboratório liderado pela professora Elena Cattaneo, em Milão. Na altura, a cientista portuguesa era aluna do programa doutoral GABBA, da Universidade do Porto, e estava em Milão há um ano.

“Quando começámos a pensar neste projecto demonstrei logo interesse em participar na investigação. Estive envolvida na fase inicial deste trabalho, não só no desenho experimental, como também nas primeiras experiências, optimizações de protocolos e resultados”, conta Catarina Ramos.

A microbiologista terminou o doutoramento em 2007, altura em que deixou o laboratório da professora Elena Cattaneo. Em 2008, juntou-se à Unidade de Biologia de Desenvolvimento, liderada por Domingos Henrique, no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, onde hoje é estudante de pós-doutoramento e se dedica ao estudo da neurogénese na espinal medula durante o desenvolvimento embrionário.




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Falta de vitamina D associada a doenças

Para o estudo foram analisados 11 mil voluntários

2012-04-02


Vitamina D promove a absorção de cálcio, após a exposição à luz solar
Um artigo publicado, no «The American Journal of Cardiology», por uma equipa da Universidade do Centro Médico e Hospitalar do Kansas, EUA, refere que manter vitamina D no organismo pode evitar problemas de saúde, tais como hipertensão, diabetes, disfunções metabólicas, doenças nas artérias coronárias e insuficiências cardíacas.

Para o estudo foram analisados 11 mil voluntários, onde 70 por cento apresentava insuficiência de vitamina D no organismo. A investigação liderada por James L. Vacek, professor de cardiologia do hospital da Universidade de Kansas, estabeleceu uma ligação entre a deficiência de vitamina D e a ingestão de suplementos desta vitamina e o estado de saúde dos pacientes analisados.

Da amostra, os indivíduos com falta desta vitamina no organismo apresentavam mais casos de doenças vasculares e cardíacas ou de diabetes, com uma probabilidade acrescentada em 164 por cento. A falta de vitamina D já tinha sido relacionada com uma série de doenças, mas até agora nunca tinham demonstrado que os suplementos podiam prevenir esses problemas.

A vitamina D pode ser encontrada em determinados alimentos, como os ovos e alguns tipos de peixe (atum ou sardinha), mas também em lacticínios e bebidas à base de soja. A exposição ao sol é um dos factores que desencadeia a produção da vitamina na pele – essencial para manter o equilíbrio do organismo. Promove a absorção de cálcio (após a exposição à luz solar), essencial para o desenvolvimento normal dos ossos e dentes, atua também, como recentemente descoberto, no sistema imunológico, no coração, no cérebro e na secreção de insulina pelo pâncreas.





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Pense duas vezes antes de tomar antibióticos!

Pense duas vezes antes de tomar antibióticos!

“Consumo indiscriminado aumenta nível de resistências” ao fármaco, alerta investigadora

2012-04-04

Por Susana Lage


Gabriela Jorge da Silva
Em Portugal existem estirpes de bactérias “praticamente resistentes a todos” os antibióticos. Este “enorme problema” pode resultar da “falta de uma política para os antibióticos que tornou o seu consumo indiscriminado, aumentando o nível de resistências quer a nível hospitalar como da comunidade”, alerta Gabriela Jorge da Silva ao Ciência Hoje.

Os antibióticos, diz a cientista, são “indicados para um determinado tipo de infecção, de bactéria e de pessoa. Por isso, devem ser cuidadosamente administrados e consumidos”.

No sentido de descobrir quais são os genes de resistência que existem actualmente no País e a forma como as bactérias conseguem disseminar esses genes, a investigadora e equipa multidisciplinar da Universidade de Coimbra (UC), constituída por farmacêuticos, biólogos, técnicos de saúde pública e veterinários, estão a estudar bactérias de origem hospitalar, animal e ambiental.

Com os resultados do estudo, os investigadores podem “prever qual é a disseminação no futuro e criar medidas prevenidas que devem ser adequadas especialmente ao ambiente hospitalar”, avança Gabriela Jorge da Silva. A investigação é ainda importante “para descobrir novos antibióticos”, sublinha.

Este trabalho centrado no estudo molecular da resistência e virulência de Acinetobacter sp., E. coli, Klebsiella sp. e Salmonella sp., foi iniciado durante o doutoramento de Gabriela J. da Silva, há mais de 10 anos. Ao longo do tempo, “fui diversificando um pouco e em vez de fazer apenas estudos clínicos tenho vindo a incluir estirpes de origem animal e ambientais”, descreve a também docente da Faculdade de Farmácia da UC.



Os antibióticos são “indicados para um tipo de infecção, bactéria e pessoa"
Neste momento, segundo a coordenadora da equipa da UC, já foram descobertos “genes de resistência novos que podem inibir a alteração de grandes famílias de antibióticos” e também identificadas as “estruturas genéticas que carregam esses genes”.

O que agora os investigadores estão a fazer é aprofundar o estudo a nível genético e “ver se as bactérias e os antibióticos que vêm para o exterior através das águas, por exemplo, até quer ponto conseguem selecionar resistências no ambiente”.

Considerando a resistência a antibióticos “um grande problema de saúde pública”, Gabriela J. da Silva considera que para preveni-lo “tem de haver uma educação enorme quer do pessoal clínico, quer da própria população que acha que tomar antibiótico para uma gripe está correcto”.

Há que lembrar que o tratamento de infeções provocadas por bactérias resistentes aos antibióticos “impõe novas consultas médicas, prolonga a hospitalização do doente, com sofrimento e custos associados acrescidos, obriga à utilização de antibióticos mais caros, e contribui para o aumento da taxa de mortalidade”, conclui.

Exercício físico a partir dos 70 anos ainda tem efeitos protectores

Exercício físico a partir dos 70 anos ainda tem efeitos protectores

Actividade regular é essencial para um coração saudável nos mais idosos

2012-04-04

Por Marlene Moura (Texto)


Mesmo a partir dos 70 anos, exercício resulta com benefícios.
Praticar exercício físico é essencial e diminui o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, mas isso não é novidade. No entanto, a conclusão de um estudo da Harvard School of Public Health, onde participou a investigadora portuguesa Luísa Soares-Miranda, do Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer da Universidade do Porto (CIAFEL), atesta que “ a partir dos 70 anos, mesmo quem nunca foi activo, ainda vai a tempo de obter benefícios”, segundo referiu ao jornal «Ciência Hoje».

A equipa internacional efectuou uma avaliação dos efeitos da prática de actividade física regular em 3941 indivíduos, com uma média de 72.3 anos de idade, seguindo-os durante dez anos e constataram que “é possível diminuir o risco de doenças cardiovasculares entre os mais idosos”, sublinhou ainda Luísa Soares-Miranda.

“Estamos programados para envelhecer e morrer um dia, mas ainda assim vale a pena sermos activos a partir dessa idade, para manter uma vida mais saudável”, continuou a investigadora, explicando que “até agora a ideia era empírica”, ou seja, embora já se soubesse que o exercício trazia benefícios para a prevenção de doenças cardiovasculares, "não existiam dados científicos que provassem a ideia nesta faixa etária”.



Luísa Soares-Miranda.
Luísa Soares-Miranda salientou ainda que a investigação prova que “acima dos 70 anos”, um envelhecimento fisicamente activo funciona como protector contra doenças cardiovasculares (enfartes do miocárdio, AVC, etc.) e não é difícil consegui-lo, já que o estudo mostrou que, para isso, “basta caminhar entre cinco a oito quilómetros por semana, a uma simples velocidade de cinco quilómetros por hora”. Para a investigação constam variáveis como a distância de caminhada por semana, velocidade de caminhada ou a intensidade da actividade física.

“Se alguém sofrer um AVC, por exemplo, e ficar acamado durante vários anos, esta mensagem é clara ao relembrar que é possível diminuir o risco de isto vir a acontecer, mesmo em fase subclínica”, e “ganha contornos especiais, nesta altura", já que se comemora o «Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações».

A partir dos resultados obtidos, a equipa da Harvard School of Public Health definiu um "guia de boas práticas" para quem queira manter uma actividade física saudável depois dos 70 anos.

Estudo sobre envelhecimento do tecido uterino

Estudar o envelhecimento do tecido uterino é o objectivo do projecto vencedor do Prémio Crioestaminal 2012, proposto por uma equipa da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do grupo Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC). Este galardão nacional visa distinguir a originalidade e o mérito científico de estudos na área da Ginecologia e Obstetrícia.

Em conversa com o «Ciência Hoje», Henrique Almeida, coordenador da equipa, explicou que há já algum tempo estavam à espera de uma oportunidade para realizar este trabalho. “Esta equipa está integrada num grupo maior que estuda as causas do envelhecimento, o Ageing & Stress”.


O risco de ocorrências indesejadas na gravidez aumenta a partir dos 35 anos, mesmo que a mulher seja saudável. “Tínhamos já notado a incidência de episódios indesejáveis na gravidez tardia. Achamos que tem a ver com a idade e é nesse âmbito que estamos a trabalhar”, explica o investigador, também médico obstreta.

“Existem vários modelos explicativos para o envelhecimento e entendemos que seria bom estudar este tipo de envelhecimento reprodutivo, aos 35 anos”, considera. A equipa tinha já começado a fazer recolha de material para análise. Estava apenas à espera de uma oportunidade para começar a trabalhar. A oportunidade surgiu com este prémio, que fornece a equipa com 10 mil euros.

O que os investigadores querem testar é se este envelhecimento “está relacionado com o desequilíbrio redox no leito placentário”. O investigador esclarece: “no processo metabólico existe o aproveitamento dos recursos energéticos. Esse é feito através de reações de redução-oxidação [reacção redox]. Ou seja, no decurso do processo oxidativo libertam-se moléculas nocivas – radicais livres de oxigénio.

As enzimas funcionam como amortecedores desse subproduto nocivo. O desequilíbrio em favor da oxidação resulta em envelhecimento. Por isso, “queremos verificar se isto acontece no tecido uterino”.

Ciência de translação

Existem várias teorias sobre o envelhecimento, mas que esta “é uma das mais consistentes”, acredita Henrique Almeida. Com este estudo “queremos contribuir para dar mais suporte à teoria do envelhecimento devido aos radicais livres. Se se verificar que existe desequilíbrio redox a favor da oxidação, podemos aplicar moléculas com efeito antioxidante para mitigar as consequências nefastas do mesmo”.

Importante sublinhar que esta investigação “partiu de um problema clínico”. Utilizando métodos de experimentação “queremos encontrar uma explicação que permita, no futuro, regressar à clínica com soluções de tratamento”.

O investigador considera que esta forma de praticar ciência, de translação, é muito importante, principalmente nesta altura de “reafirmação da FMUP. Temos novas instalações e mais meios para investigar”. O estudo, intitulado «Redox balance in placental bed as modulator of older women pregnancies», estará concluído no início do próximo ano.




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