terça-feira, 4 de setembro de 2012

Nova gripe que ataca focas pode ser ameaça para o ser humano

Nova gripe que ataca focas pode ser ameaça para o ser humano Os investigadores acreditam que os pássaros selvagens estão na origem da transmissão 2012-08-01 Pelo menos, 162 focas morreram na costa da Nova Inglaterra (Imagem: Wikipédia) Uma equipa de investigadores da Universidade da Columbia e do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) detectou uma nova estirpe do vírus da gripe – o H3N8 – em focas, na sua maioria bebés. A morte destas crias começou a ser percebida em Setembro passado e até então já, pelo menos, 162 focas morreram na costa da Nova Inglaterra (EUA). Os investigadores detectaram uma variação do vírus Influenza, que tem uma enorme capacidade de mutação e adaptação e defendem que a infecção deve ter acontecido após o contacto com aves contaminadas. Segundo revelam os autores do estudo, publicado na revista «mBio», ainda não está claro o grau de ameaça do novo vírus, mas sabe-se que também afecta outros animais, como morcegos, pássaros, porcos, cães e até mesmo baleias. Outra preocupação é que este tipo de vírus consegue adaptar-se e infectar populações humanas. Os investigadores acreditam que os pássaros selvagens estão na origem da transmissão. Ou seja, são uma fonte primária de todos os vírus influenza A, embora estes possam passar de uma espécie para outra ou até recombinar-se. E, em geral, os resultados são mortais. Recorde-se a gripe suína, provocada pelo H1N1, e que causou o pânico em 2009. A pandemia resultou da combinação de vírus que infectavam suínos, pássaros e humanos. Embora os pássaros possam contaminar os mamíferos, em geral os vírus não são transmitidos entre eles. O novo vírus das focas, porém, conseguiu romper essa barreira e se disseminar também de uma foca para outra. Tal como os vírus mortais, há vários anos, também fizeram. No ano passado, dois grupos de cientistas conseguiram, através de investigações independentes, alterar o vírus da gripe com mutações, facilitando a sua disseminação entre mamíferos. O governo dos EUA decidiu intervir e pediu que as revistas científicas «Science» e «Nature» não publicassem os resultados, alegando que poderiam cair nas mãos de terroristas, que poderiam usar a informação para a produção de armas biológicas.
Investigadores encontram causa genética do 'tremor essencial' Estudo está publicado na «American Journal of Human Genetics» 2012-08-04 Escrever é uma tarefa difícil para quem sofre de 'tremor essencial' Investigadores da Universidade de Montreal (Canadá) conseguiram descobrir qual o problema genético específico que provoca o a desordem neurológica conhecida como Tremor Essencial (TE). Este é o mais comum dos problemas relacionados com o movimento, sendo que os sintomas se tornam mais fortes com a idade. Quem sofre desta desordem tem tremores involuntários que ocorrem principalmente quando se tenta fazer movimentos precisos. Os resultados da investigação levada a cabo estão publicados no «American Journal of Human Genetics». Apesar de existirem fortes evidências de que a doença teria uma base genética, nenhuma ligação tinha ainda sido identificada. Os cientistas sabiam já que são mutações no gene FUS que provocam esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença das células nervosas do cérebro e da espinal medula que controla o movimento voluntário dos músculos. A equipa de cientistas conseguiu, com sucesso, identificar as mutações que provocam o Tremor Essencial neste mesmo gene e que os mecanismos de mutação desta doença e da ELA são diferentes. Nancy Merner, líder do projecto de investigação, explica que quando começou o estudo teve acesso a informação genética de um grande número de famílias. Além disso, pode utilizar novas e eficazes tecnologias de sequenciamento. A descoberta fornece ao mundo uma primeira visão sobre o mecanismo da doença, visão essa crucial para o desenvolvimento futuro de medicamentos. Além disso, não existe consenso sobre os critérios de diagnóstico da TE, assim, um diagnóstico de base genética poderá ser benéfico. Entre 37 a 50 por cento dos casos de TE são actualmente mal diagnosticados. Para os indivíduos afectados, os tremores são geralmente irritantes e constrangedores, interferindo com tarefas diárias como escrever, comer ou beber, já que afectam principalmente as mãos. Este estudo poderá ajudar a melhorar a qualidade de vida dos afectados. Artigo: Exome Sequencing Identifies FUS Mutations as a Cause of Essential Tremor

Mosca da fruta fornece pistas para novos tratamentos à diabetes

Mosca da fruta fornece pistas para novos tratamentos à diabetes Investigação está publicada na «Genetics» 2012-08-19 Erik Johnson, investigador na Wake Forest University Manipular um grupo de células produtoras de hormonas pode ajudar a controlar os níveis de açúcar no corpo. Esta descoberta pode servir para o desenvolvimento de investigação para novos medicamentos para perda de peso e diabetes. Num artigo publicado na «Genetics», agora disponível 'online', neurobiólogos da Wake Forest University (Carolina do Norte, EUA) analisaram como as moscas da fruta (Drosophila) reagiram quando lhes foi imposta uma dieta reduzida. Uma dieta reduzida ou a fome levam normalmente à hiperactividade nas moscas da fruta. As moscas esfomeadas voam freneticamente à procura de comida. Isto acontece porque uma enzima chamada AMP quinase (AMPK) estimula a segregação da hormona adipocinética, que é a equivalente funcional da hormona glucagon (nos humanos). Esta hormona actua em oposição à insulina, dizendo ao corpo para libertar o açúcar necessário para “abastecer” a hiperactividade. O corpo usa as suas reservas de energia até encontrar comida. A equipa de investigação conseguiu desligar a AMPK e as células diminuíram a libertação de açúcar, fazendo com que a resposta hiperactiva parasse quase completamente, mesmo face à fome. "Visto que as moscas da fruta e os seres humanos partilham 30 por cento dos genes e os seus cérebros estão ligados essencialmente da mesma forma, esta descoberta pode ajudar a investigação sobre o metabolismo em geral e a diabetes em particular", explica Erik Johnson, investigador principal. A hormona adipocinética é a equivalente no insecto à glucagon segregada pelo pâncreas humano. A glugacon aumenta os níveis de açúcar no sangue e a insulina reduz. No entanto, é difícil estudar os sistemas da glucagon porque as células do pâncreas são difíceis de separar. Estudar como o sistema funciona nas moscas da fruta abre caminho a um fármaco que tenha como alvo as células que fazem com que a glucagon diga ao corpo para libertar açúcar no sangue – reduzindo assim a necessidade de injecções de insulina em diabéticos. Artigo: Energy-dependent modulation of glucagon-like signaling in Drosophila via the AMP-activated protein kinase

Foram identificados dez novos genes associados à Diabetes tipo 2

2012-08-13 Doença deve ser controlada Uma equipa de investigadores internacional – da Universidade de Oxford (Reino Unido), do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Michigan (EUA) – conseguiu identificar dez novos genes associados à Diabetes tipo 2, elevando para 60 as regiões do DNA envolvidas na doença. O estudo vem publicado na revista «Nature Genetics». O grupo de trabalho analisou o DNA de 35 mil pessoas que sofrem desta doença crónica ligada à obesidade e a uma resistência à insulina – hormona produzida pelo pâncreas para ajudar o metabolismo a assimilar o açúcar proveniente dos alimentos – e de outros 115 mil indivíduos saudáveis e identificaram dez que podem relacionados com o risco de desenvolver a doença. Dos genes observados, um deles mostrou ter mais efeito sobre os homens e outro sobre as mulheres; mas estão todos envolvidos no processo de envelhecimento e ao processo de crescimento e divisão celular. Segundo Mark McCarthy, investigador principal do Centro Wellcome Trust, na Universidade de Oxford, “as dez regiões genéticas associadas à doença levam a uma maior compreensão biológica da doença, podendo ajudar a desenvolver novos fármacos”. Observando as regiões identificadas, é possível ver a assinatura dos tipos de genes que influenciam o risco de diabetes tipo 2. Podem encontrar-se genes envolvidos no controlo do processo de crescimento e divisão celular, de envelhecimento e particularmente, nos que se encontram activos no pâncreas quando a insulina é produzida. Apesar de tudo, os investigadores dizem que os genes têm apenas uma pequena influência sobre o desenvolvimento da doença e que os principais factores causadores estão ligados a maus hábitos de vida, como alimentação rica em gordura e açúcar e sedentarismo. O facto de esses dez novos genes terem sido descobertos, porém, não significa que os cientistas já possam dizer qual deles é responsável por qual mudança específica no DNA – o que deve ser o próximo alvo. A diabetes é uma doença crónica que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue e pela incapacidade do organismo em transformar toda a glicose proveniente dos alimentos. Caso não seja tratada, pode causar uma série de problemas mais sérios como doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e cegueira. Devidamente tratada, a diabetes não impede o doente de ter uma vida perfeitamente normal e autónoma. Contudo, é fundamental autocontrolar a doença.

Equipa do IGC desvenda motilidade do espermatozoide

Investigação pode ajudar a compreender uma variedade de doenças humanas 2012-08-14 Espermatozoides da mosca da fruta captados durante o processo de formação e diferenciação dos flagelos, marcados a verde (Crédito: Zita Carvalho Uma equipa cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) dissecou o processo pelo qual uma célula constrói o flagelo, uma estrutura essencial para a motilidade do espermatozoide e para a remoção do muco pulmonar, por exemplo. A investigação, a ser publicada na revista Developmental Cell, poderá contribuir para a melhor compreensão de uma variedade de doenças humanas, incluído esterilidade, disfunção pulmonar e hidrocefalias. A equipa liderada por Mónica Bettencourt-Dias procurou descobrir como a célula constrói um flagelo, e em particular como é que garante que este seja móvel. Os flagelos, ou cílios móveis, são pequenas antenas nas células que se movem ou ondulam, ritmicamente. São essenciais para o movimento de células (por exemplo, os espermatozoides) ou para a deslocação de fluido por células que se encontram imobilizadas num tecido, para que este fluido e o que ele transporta (poeiras, óvulos, etc.) se desloquem numa única direcção. É o caso das células flageladas do cérebro, da traqueia e das trompas de Falópio. A equipa procurou assim saber quando e como é formada uma estrutura proteica chamada “par central de microtúbulos”, sem a qual o flagelo perde a capacidade de se mover de forma coordenada. Para descrever, pela primeira vez e detalhadamente, todos os passos microscópicos que levam à formação de um flagelo móvel, os cientistas recorreram à mosca da fruta, Drosophila melanogaster. Na mosca, tal como nos humanos, os espermatozoides deslocam-se até ao ovo com a ajuda de um longo flagelo. Assim, foi usado um tipo de microscopia especial, chamada de microscopia electrónica que permitiu neste caso o estudo de estruturas cerca de 3,500 vezes mais pequenas do que um cabelo humano. “Conseguimos demonstrar que um gene da mosca, chamado Bld10, é essencial para a construção do flagelo do espermatozoide. Moscas com uma mutação neste gene geram espermatozoides com flagelos incompletos e imóveis, tornando os machos completamente estéreis. No genoma humano existe um gene que codifica para uma proteína semelhante a esta e que foi já associada em estudos anteriores a infertilidade masculina”, afirma Zita Carvalho-Santos, investigadora doutorada. Imagem obtida por microscopia electrónica de um flagelo de espermatozoide de Drosophila melanogaster (Crédito: Zita Carvalho-Santos) Este é um dos primeiros estudos detalhados sobre o processo de biogénese do flagelo numa célula animal, elaborado a partir de estudos descritivos da espermatogénese na mosca da fruta, feito nos anos 70. “Descobrimos que este processo é muito mais dinâmico do que imaginávamos; primeiro forma-se um único filamento de microtúbulos, e depois o segundo filamento. O nosso trabalho responde a perguntas que estavam há anos sem resposta, mas levanta outras questões que poderão ser abordadas recorrendo à espermatogénese na mosca da fruta como modelo de estudo”, sublinha Mónica Bettencourt-Dias.

Embriões humanos congelados são viáveis para investigação

Embriões humanos congelados são viáveis para investigação Identificada fonte para geração de novas linhas embrionárias de células estaminais 2012-08-14 As células-tronco embrionárias humanas representam um recurso valioso para triagem de drogas Mesmo depois de terem sido congelados durante 18 anos, os embriões humanos podem ser descongelados, cultivados em laboratório e induzidos com sucesso para produzir células estaminais embrionárias humanas, que representam um recurso valioso para triagem de drogas e investigação médica, avança a AlphaGalileo. Kamthorn Pruksananonda e equipa da Universidade Chulalongkorn e do Hospital Memorial de Chulalongkorn, em Bangkok, Tailândia, demonstraram que as células estaminais embrionárias humanas derivadas de embriões congelados têm uma capacidade de se diferenciarem em vários tipos de células como fazem as derivadas de embriões frescos. “A importância deste estudo é que identifica uma fonte alternativa para a geração de novas linhas embrionárias de células estaminais, usando embriões que foram armazenados a longo prazo”, afirma Jane Taylor, da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Pessoas com sangue tipo O têm menor risco de ataque cardíaco Grupo sanguíneo beneficia de um nível maior de elemento químico que ajuda no fluxo e na coagulação 2012-08-17 As pessoas com o tipo sanguíneo mais raro, o AB, são as mais vulneráveis a doenças do coração As pessoas que têm o sangue do tipo O são menos suscetíveis a problemas cardíacos do que quem possui sangue A, B, e AB, dizem os cientistas da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, em Boston, avança a Associação Americana do Coração. O estudo realizado nos EUA concluiu que as pessoas com o tipo sanguíneo mais raro, o AB, são as mais vulneráveis a doenças do coração. Para este grupo, a probabilidade de sofrer de doenças cardíacas é 23 por cento maior do que para as pessoas com o tipo sanguíneo O. A investigação também descobriu que para pessoas com sangue do tipo B o risco de doenças cardíacas aumentava em 11 por cento e, para pessoas com sangue tipo A, o aumento era de cinco por cento. Os cientistas não sabem explicar a razão deste aumento de probabilidades. Por isso, vão agora analisar como os grupos sanguíneos reagem a um estilo de vida mais saudável. As descobertas que fizerem podem ajudar os médicos a compreender melhor quem tem o risco de desenvolver doenças cardíacas. As descobertas dos cientistas americanos baseiam-se em dois grandes estudos realizados nos Estados Unidos, um envolveu 62.073 mulheres e outro 27.428 pessoas adultas. Os participantes tinham entre 30 e 75 anos e foram acompanhados durante 20 anos. Como a etnia das pessoas estudadas era predominantemente caucasiana, os investigadores afirmam que ainda não foi esclarecido se as descobertas podem ser aplicadas a outros grupos étnicos. O grupo sanguíneo AB foi ligado às inflamações, que têm um papel importante nos danos em artérias. Também foram encontradas provas de que o tipo sanguíneo A está associado ao mau colesterol, o LDL, que pode bloquear as artérias. Já as pessoas com o tipo sanguíneo O podem beneficiar de níveis maiores de um elemento químico que ajuda no fluxo sanguíneo e na coagulação.

Molécula sintética eficaz na diminuição da fertilidade masculina

Novo estudo abre portas para o desenvolvimento de uma pílula contraceptiva oral para homens 2012-08-20 Molécula JQ1 é capaz de deter a espermatogénese O contraceptivo oral masculino pode estar perto de ser uma realidade. Um composto testado em ratinhos demonstrou ser eficaz a interromper a fertilidade de forma reversível e sem alterações em termos de desempenho sexual. O estudo publicado na revista «Cell» foi coordenado por um grupo de investigadores do Dana-Farber Cancer Institute e do Baylor College of Medicine (EUA). A molécula chave da pílula é o composto JQ1, capaz de penetrar através do tecido dos vasos sanguíneos testiculares e deter a espermatogénese, processo pelo qual os espermatozóides se desenvolvem. O resultado é uma diminuição significativa no número e na mobilidade dos espermatozóides. Os investigadores verificaram que pouco depois de interromperem o tratamento com o JQ1 o esperma recuperou a sua funcionalidade. A produção de testosterona não foi afectada não se registaram alterações de comportamento nem problemas de saúde dos filhos nascidos depois da terminar a administração. A dificuldade de encontrar uma solução farmacológica válida para os homens resulta do facto deste produzir milhões de espermatozóides, ao contrário do que acontece nas mulheres, que produzem, normalmente, um óvulo por mês. “Os nossos resultados mostram que quando se administra este composto acontece uma diminuição rápida e reversível no número e da mobilidade do esperma, com efeitos profundos sobre a fertilidade”, diz James Bradner, um dos autores do estudo. A molécula sintética JQ1 que foi testada em mais de 350 laboratórios de todo o mundo. Para ser aprovada para aplicação humana faltam ainda realizar muitas fases de testes. Artigo: Small-Molecule Inhibition of BRDT for Male Contraception

Português envolvido em estudo promissor

Inibição da enzima PHD2 diminuiu tumores e reduz os efeitos secundários da quimioterapia 2012-08-21 Por Luísa Marinho Rodrigo Leite de Oliveira Tornar mais eficaz a quimioterapia e ao mesmo tempo diminuir os seus efeitos secundários são as duas mais-valias do estudo publicado na «Cancer Cell» por investigadores da VIB/KULeuven (Leuven, Bélgica), equipa da qual faz parte o português Rodrigo Leite de Oliveira, primeiro autor do artigo. Em conversa com o «Ciência Hoje», o investigador explica a importância e as singularidades desta investigação com um “carácter promissor a nível da aplicação clínica”. Licenciado em Farmácia pela Universidade do Porto e com mestrado em Genética Molecular pela Universidade do Minho, Rodrigo Leite de Oliveira está na Bélgica a desenvolver o seu doutoramento (Universidade de Leuven). Foi neste âmbito que, há cinco anos, começou a fazer a investigação. Em 2009, os estudos resultaram num artigo de grande impacto. Nesse primeiro artigo revelava-se que “normalizando os vasos tumorais conseguia-se diminuir a malignidade dos tumores e reduzir dramaticamente as metástases”. Isso era possível através da diminuição da actividade da enzima PHD2 (proteína sensora de oxigénio que permite que as células se adaptem consoantes os níveis de oxigénio). “Descobrimos que manipulando essa enzima, fazendo com que ela diminua a sua actividade, os vasos tumorais ficam a funcionar melhor, transportando melhor o oxigénio”. Isso faz com que o tumor seja menos maligno e que metastize menos. Não é só pelo facto do oxigénio ser em maior quantidade a nível do tumor que isso acontece. “Os vasos sanguíneos dos tumores são muito desorganizados, caóticos, cheios de espaços entre eles; não são tubos completamente fechados e permitem que as células cancerígenas possam entrar na corrente circulatória até atingirem outros órgãos e criarem as tais metástases que, no fundo, é o que mata os doentes oncológicos”. A redução da actividade da PHD2 faz com que esses vasos se tornem mais uniformes e funcionais. Depois do “grande impacto” que teve essa descoberta, a equipa quis continuar a investigação “partindo do princípio que se esses vasos tumorais funcionam melhor a transportar oxigénio, também podem funcionar melhor a transportar drogas quimioterapêuticas”. “Começámos a tratar os ratinhos já com os vasos tumorais normalizados, com doses menores de quimioterapia e, de facto, os tumores reduziram e as metástases reduziram ainda mais”, explica. Além disso, a equipa descobriu que “a diminuição da actividade desta enzima tem também impacto a nível dos efeitos secundários da quimioterapia”. Nos órgãos que foram estudados – coração e rins – as defesas antioxidantes aumentaram com a diminuição da actividade da PHD2. “O aumento das defesas faz com que os órgãos estejam mais protegidos contra os efeitos da quimioterapia”. “Este é o primeiro estudo que actua a esses dois níveis: a diminuição dos tumores e dos efeitos secundários, tendo assim um carácter muito promissor a nível clínico”, conclui o investigador que vai continuar as investigações tentando agora encontrar um inibidor específico da enzima PHD2. Artigo: Gene-Targeting of Phd2 Improves Tumor Response to Chemotherapy and Prevents Side-Toxicity

Nova doença auto-imune identificada na Ásia

Doença não é contraída através de vírus 2012-08-27 Doença caracteriza-se pelo enfraquecimento do sistema imunitário, tal como acontece com a SIDA Uma nova doença, encontrada na Ásia, tem vindo a intrigar investigadores. A maleita surgiu apenas em asiáticos e, por norma, aparece na idade adulta, por volta dos 50 anos, em média, e caracteriza-se pelo enfraquecimento do sistema imunitário, tal como no caso da SIDA, provocada pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH). No entanto, nenhum dos pacientes observados tinha contraído VIH. Segundo a equipa de cientistas que desenvolveu o estudo na Tailândia e em Taiwan, a doença não é contraída através de um vírus nem por herança familiar. A investigação contou com mais de 200 pacientes, entre 18 e 78 anos, e revelou que os voluntários portadores da nova doença possuíam anticorpos capazes de destruir uma das substâncias que combatem infecções no organismo. Sarah Browne, cientista do National Institute of Allergy and Infectious Deseases (NIAID) e uma das autoras do estudo publicado no «New England Journal of Medicine», entre os agentes dispostos pelo sistema imunitário, para combater infecções, encontram-se as proteínas interferon-gama (IFN-gama). Estas moléculas são segregadas desde o início de uma infecção viral e activam uma segunda linha de defesa. O grupo de trabalho chegou à constatação que a acção dos interferon-gama está bloqueada por outra molécula produzida pelo sistema imunitário, em pessoas que desenvolveram a doença. No entanto, o que levou ao aparecimento desta doença continua inexplicado, já que apenas ocorre em asiáticos. A equipa acredita que poderá estar ligada a um factor genético ou ambiental. Entretanto, já se sabe que antibióticos não são eficazes no combate à doença, mas não é uma doença viral ou contagiosa.

Dispositivo pode prever a queda de uma pessoa

Doentes de Parkinson e epilepsia podem ser alguns dos beneficiados 2012-08-31 Donald Lie, um dos investigadores envolvidos no projecto Uma equipa de engenheiros norte-americanos está a desenvolver uma tecnologia capaz de prever quando uma pessoa vai cair. O sistema, que ainda só existe em protótipo, é um sensor sem fios que analisa a postura e o andar do utilizador, enviando um alerta se acontecer uma ruptura na sua rotina. O dispositivo é tão pequeno que pode ser anexado, por exemplo, a um cinto. Os responsáveis deste projecto, do departamento de Engenharia Eléctrica e de Computação e de Cirurgia, da Texas Tech University (EUA), defendem que o seu trabalho pode beneficiar pessoas com problemas de equilíbrio, tais como doentes de Parkinson, epilépticos e a população sénior de uma maneira geral. Nas pessoas com mais idade, uma queda pode ser mortal, lembra Donald Y. C. Lie, um dos investigadores envolvidos no projecto. O aviso que indica a possibilidade de uma queda “pode desencadear-se por uma causa muscular ou relacionada com a visão ou pelo consumo de drogas” do indivíduo que está a ser observado. Uma equipa médica recebe em tempo real toda a informação sendo analisada a base de dados que define os movimentos característicos do sujeito. O estudo foi já aprovado por um conselho que valida a investigação biomédica.

Mosquito Aedes Albopictus anda a estender-se pela Europa

Autoridades francesas já reforçaram vigilância 2012-08-27 O Aedes Albopictus é vector do vírus da dengue e do chikungunya O pequeno mosquito tigre (Aedes albopictu), que chegou há 20 anos da Ásia e fora avistado pela primeira vez na Europa em Aquitaine, no Sudoeste da França, tem vindo a estender o seu território pelo continente europeu. Tendo em conta que o principal local de progressão é em França, o país está em estado de alerta. Este insecto é perigo e é mesmo a segunda espécie de Culicidae em importância para o homem como vector do vírus da dengue e do chikungunya. Em 2006, as autoridades sanitárias francesas estabeleceram um plano anti-disseminação. Recorde-se que doenças como dengue e chikungunya ainda são incuráveis. As patologias provocadas pelo Aedes albopictu ainda não tem tratamento antiviral e as medidas apenas se limitam a prevenir a desidratação devido à febre – o sintoma principal destas infecções, para além de dores musculares, de cabeça e sangramento. O risco de uma epidemia é enorme já que o vírus é de fácil contaminação. Por exemplo, se o mosquito tigre picar alguém que tenha contraído o vírus de uma destas doenças, o insecto irá mantê-lo nas glândulas salivares e, por sua vez, contaminará outro indivíduo numa próxima picada. A França já começou a vigilância reforçada desde Maio passado e as medidas seguirão até Novembro – período em que o mosquito tigre está mais activo. Embora muitas abordagens pretendam erradicar o insecto, os investigadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) dizem que não será possível e que a tentativa deve passar por controlá-lo.
Alguns planetas detectados pelo satélite são estrelas afinal 2012-09-03 Por Susana Lage Nuno Cardoso Santos Até 35 por cento dos candidatos a planetas gigantes detectados pelo satélite Kepler (NASA) são afinal estrelas ou objectos sub-estelares, revela um estudo de uma equipa europeia no qual participou Nuno Cardoso Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto. “Até agora, a equipa que tinha feito as análises dos dados do Kepler tinha sempre defendido que a maior parte dos potenciais planetas detectados eram realmente planetas. Este estudo vem agora alertar que não é bem assim e que a equipa estava a ser demasiado optimista. Há uma percentagem realmente elevada dos candidatos que na verdade não são planetas”, afirma o investigador ao Ciência Hoje. As conclusões deste estudo são importantes pois, “a partir do momento em que somos alertados para o facto de que uma boa percentagem dos planetas não são de facto planetas significa que temos de ser muito mais cuidadosos quando estudados, do ponto de vista estatístico, os resultados do Kepler. Não podemos assumir que todos os candidatos são realmente planetas”, explica. Nuno Cardoso Santos ainda não sabe prever qual será o impacto final desta descoberta mas “haverá certamente um em termos da percentagem e de tipo de planetas que existem”, assegura. Foto de telescópio de 1,93m, do Observatório de Haute-Provence (Crédito: R. Sehling) A equipa de investigadores europeus, liderada pelo Laboratório de Astrofísica de Marselha, usou o espectrógrafo SOPHIE3, instalado no Observatório de Haute-Provence, em França, para observar uma amostra aleatória de candidatos a planetas previamente detectados pelo satélite Kepler. Nesta amostra, obtida entre os mais de 2300 candidatos a planetas, detetados através de trânsitos planetários pelo Kepler, foram identificados 10 novos planetas e cinco anãs castanhas. “Basicamente o que se fez foi pegar numa serie de candidatos descobertos pelo Kepler e fomos confirmar se realmente eram ou não planetas usando uma técnica específica”, refere Nuno Cardoso Santos. De salientar que o estudo “concentrou-se em candidatos a planetas gigantes descobertos pelo Kepler porque o SOPHIE não permite tentar confirmar ou não a existência de planetas mais pequenos, como a Terra”. O SOPHIE é um dos instrumentos mais prolíficos do mundo, na medição de velocidades radiais de estrelas. Com este é possivel determinar a natureza dos candidatos a planetas descobertos pelo Kepler, e medir as massas dos objetos em trânsito. “Creio que um dos próximos passos será tentar refinar o estudo para perceber qual é o erro que o Kepler tem relativamente aos planetas mais pequenos”, avança Nuno Cardoso Santos.

Arrefecer o cérebro pode tratar insónias!

Arrefecer o cérebro pode tratar insónias! Ana Margarida Nunes 2012-08-31 Contar carneirinhos a saltar uma cerca, beber um copo de leite quente ou ainda ler um livro aborrecido são estratégias utilizadas por muitos no combate às insónias. Em algumas ocasiões funcionam mas noutras não. * Licenciada em Biologia Microbiana e Genética pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e doutorada em Neurociências pelo King's College London em 2009. A insónia tanto pode ser considerada um sintoma como uma doença e a sua permanência varia de apenas alguns dias a meses e anos tornando-se crónica. Normalmente manifesta-se por dificuldade em adormecer ou permanecer a dormir, cansaço diurno e incapacidade de sentir sono reparador ao acordar. Parece que o cérebro não desliga! Na verdade é quase isso o que acontece. Ler um livro aborrecido pode ajudar... ou não! Durante a insónia o cérebro parece estar hiperactivo em determinadas regiões como no córtex frontal. Esta região estende-se da testa até ao meio da cabeça e é aqui que ocorrem as funções executivas como capacidade de diferenciar pensamentos opostos (como bom ou mau), analisar consequências futuras de acções e controlo social. Para mim, isto faz todo o sentido. Quem sofre de insónias queixa-se de estar sempre a pensar em tudo, a rever tudo, a analisar tudo, querendo controlar tudo! Esta “hiperactividade” parece estar também relacionada com a variação de determinadas moléculas, como a melatonina, hormonas de stress como o cortisol e hormonas de crescimento. Se pensarmos que um terço das nossas vidas é e deverá ser passado a dormir um sono reparador percebemos que distúrbios de sono estão muitas vezes associados a doenças como ansiedade, depressão, défice de atenção, hipertensão e outros problemas cardíacos. No entanto, os medicamentos mais comuns no tratamento da insónia são os hipnóticos, que induzem um sono semelhante ao de uma anestesia, ou os ansiolíticos. Ambos podem causar dependência e efeitos secundários são muito frequentes. Dormir ou não dormir: eis a questão! Estudos recentes sugerem que o melhor tratamento para insónias passa pela mudança de hábitos, nomeadamente com ajuda de terapia cognitiva comportamental. Mas o “insomaníaco” terá de se autodisciplinar e comprometer. A mudança de um hábito enraizado por um novo demora um mês e a motivação é fundamental! Para os que têm dificuldade em assumir um compromisso, o arrefecimento do cérebro poderá ser uma realidade. Um estudo mais recente sugere que o “arrefecimento” do cérebro, mais concretamente no córtex frontal, é capaz de restaurar o sono reparador. Este arrefecimento promove o “desligar das baterias” do cérebro, mas na verdade acontece que o metabolismo ou a quebra de determinadas moléculas em excesso durante a insónia diminuem.
Tuberculose resistente a fármacos atinge níveis alarmantes Propagação ocorre essencialmente em zonas com escassos recursos médicos e com acesso limitado a fármacos 2012-08-30 Tuberculose ultra-resistente responde a número ínfimo de fármacos Uma equipa internacional de investigação encontrou níveis alarmantes de tuberculose (TB) na África, Ásia, Europa e América Latina e é resistente a quatro antibióticos considerados bastante eficazes até agora. O estudo, publicado na revista Lancet, explica que os casos de TB resistentes a tratamentos já alcançam níveis alarmantes e os tratamentos são cada vez mais caros e difíceis de desenvolver. A investigação foi levada a cabo em oito países – Estónia, Letónia, Peru, Filipinas, Rússia, África do Sul, Coreia do Sul e Tailândia – e mostrou que pelo menos 43,7 por cento dos pacientes que sofrem com a doença não reagem perante um medicamento administrado após o fracasso de um primeiro antituberculoso clássico. A maioria das recomendações para o controlo de TB têm sido desenvolvidas para a prevalência da tuberculose multirresistente (TB-MR), cuja taxa oscilava nos cinco por cento, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS); no entanto, em determinados locais, a taxa de prevalência já surge superior a dez por cento. A taxa de prevalência da tuberculose ultrarresistente (TB-UR), uma forma que responde a um número ínfimo de medicamentos de segunda intenção, alcançou 6,7 por cento nos oito países estudados. Tracy Dalton, líder do estudo e investigador dos Centros para o Controlo e a Prevenção de Doenças nos Estados Unidos, refere que os casos de tuberculose ultra-resistente tinham sido observados em 77 países, mas “a actual prevalência exacta é desconhecida”. A situação é preocupante, afirmam os autores, já que a propagação ocorre essencialmente em zonas com escassos recursos médicos e com acesso limitado a fármacos. Para tratar a doença, o processo é longo e prevê que os pacientes ingiram uma série de antibióticos durante seis meses, mas muitos dos indivíduos não completam correctamente o tratamento – medida que tem vindo a fomentar o aumento de formas resistentes a fármacos. A TB é uma pandemia mundial que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, só em 2010 infectou 8,8 milhões de pessoas, levando mesmo 1,4 milhões à morte.