segunda-feira, 9 de junho de 2014

Micro-continente afundado no Índico Mauritia separou-se de Madagáscar quando este pedaço de terra se separou da Índia

Uma equipa internacional de cientistas encontrou restos de um micro-continente antigo no Oceano Índico. Nas Ilhas Maurícias, descobriram zircão, cristais de silicato de zircónio, extremamente resistentes à erosão ou alteração química e que têm entre 660 e 1000 milhões de anos.
O estudo, publicado na «Nature Geoscience», sugere que não só um mas muitos fragmentos de crosta continental se encontram debaixo do Oceano Índico. As análises ao campo gravitacional da Terra revelam grandes áreas de fundo marinho onde a crosta é mais grossa do que o normal (25 a 30 quilómetros de espessura, em vez dos 5 ou 10 quilómetros normais).

Os cientistas indicam que essas anomalias podem ser restos de uma massa que a equipa chamou de Mauritia e que se terá separado de Madagáscar quando este pedaço de terra, por sua vez, se separou da Índia, há 60 milhões de anos.
Após o alongamento e adelgaçamento da crosta na região Mauritia, esta afundou-se e permaneceu escondida debaixo de camadas de lava. Se tivesse ficado à superfície, teria sido uma ilha do tamanho da ilha de Creta, sugerem os investigadores.
O zircónio foi encontrado depois da recolha de amostras de areia das Ilhas Maurícias. Este mineral não é comum na ilha, indicam os investigadores, “não há uma fonte local óbvia para estes zircões”.
Outras bacias oceânicas em todo o mundo podem também ter restos afundados de continentes 'fantasma'. Agora, falta conhecer os resultados pormenorizados do fundo do oceano, incluídos na análise geoquímica das rochas que revelarão se Mauritia é uma parte afundada de Madagáscar.

Dunas da cratera de Gale em Marte estão activas Investigador português integrou equipa liderada pelo instituto norte-americano SETI

As dunas da cratera de Gale no planeta Marte movem-se, algo que se desconhecia até ao momento. A descoberta foi possível recorrendo a imagens de satélite, recolhidas entre 2006 e 2011, pela missão “Mars Reconnaissance Orbiter”.

A equipa de oito investigadores, liderados pelo Instituto SETI, Estados Unidos da América, dos quais um português David Vaz, do Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra, correlacionou as estruturas sedimentares com modelos atmosféricos, demonstrando que os ventos serão suficientemente fortes para manter actividade eólica nas condições atmosféricas actuais.

O contributo de David Vaz foi desenvolver um algoritmo que permitiu automaticamente “fazer a cartografia e caracterização das estruturas sedimentares eólicas. Genericamente, com base na imagem o algoritmo identifiquei as estruturas sedimentares, semelhantes a pequenas ondas que se podem ver por vezes na areia da praia, e, a partir daí, obtivemos informação sobre a direcção do vento na superfície do planeta”, explica o investigador.

“Este trabalho poderia ser feito manualmente, mas não seria tão prático”, sublinha David Vaz que desenvolveu esta investigação no âmbito do seu pós-doutoramento.Os investigadores aguardam agora que o rover Curiosity passe por esta zona do planeta Marte para validar as conclusões retiradas através de “modelos teóricos de simulação atmosférica. A passagem do Curiosity por esta zona de dunas será uma oportunidade única de estudar processos eólicos em Marte”, sublinha David Vaz, também investigador no Centro de Recursos Naturais e Ambiente do Instituto Superior Técnico.

O estudo desta região permitiu verificar que as dunas se estão a mover a uma velocidade de 40 centímetros por ano terrestre, ou seja uma média de pouco mais de um milímetro por dia. Isto indica que a acção do vento é, muito provavelmente, o processo actual mais importante na modelação da paisagem na cratera de Gale.

Esta informação, avança David Vaz, “fornece pistas importantes para o rover Curiosity. Quando o rover passar pelas dunas, poderá estudar in loco as condições atmosféricas e os mecanismos que permitem o transporte de sedimentos em Marte”.

As conclusões desta investigação vão ser publicadas num artigo, com o título “Pervasive aeolian activity along rover Curiosity's traverse in Gale Crater, Mars”, da edição de Abril da revista científica “Geology”.

Portugal participa na construção do maior telescópio do mundo ISQ vai garantir prazos e prevenir problemas

O European Organisation for Astronomical Research in the Southern Hemisphere (ESO) está a desenvolver um telescópio com um espelho de 40 metros de diâmetro. O E-ELT (European Extremely Large Telescope) será o maior do mundo e permitirá aprofundar o conhecimento sobre o Universo.

O projecto vai contar com participação portuguesa, nomeadamente engenheiros do ISQ que vão assegurar a prevenção de problemas e garantir que o telescópio é concluído dentro do planeado.

“A contribuição do ISQ para o E-ELT consiste em aperfeiçoar a priori os mecanismos que mais tarde serão usados para fazer o acompanhamento do projecto, nas suas fases de construção e montagem. Numa lógica de prevenção, a nossa intervenção visa sobretudo prevenir problemas e, assim, contribuir igualmente para a conclusão dos trabalhos dentro do planeamento previsto”, explica José Oliveira Santos, administrador do ISQ.

Até ao momento, o ISQ já propôs melhorias do sistema de qualidade que foram “largamente adoptadas pelo ESO”. A fase de construção do E-ELT está prestes a começar e a empresa portuguesa já apresentou uma proposta que visa “garantir a qualidade dos equipamentos científicos que vão constituir o telescópio”, diz José Oliveira Santos.

O entrevistado sublinha ainda que se trata de “um projecto muito exigente e complexo do ponto de vista da engenharia e da fabricação”.

José Oliveira Santos.
Os diferentes componentes do E-ELT vão ser construídos em diferentes locais serão fabricados em vários países, enquanto a montagem, “uma operação complicada” será feita em Atacama, no Chile.

“Estamos a falar de algo que nunca foi feito. Dada a relevância científica do projecto, a sua complexidade, o número de entidades e países envolvidos e os custos astronómicos, tem de haver alguém responsável por prevenir que, no fim, tudo se encaixa”, conclui Oliveira Santos.

O ISQ presta serviços de consultoria e inspecção, ensaio, formação e consultoria técnica para diversos sectores. Neste momento, mais dos 70% dos trabalhos que realiza são feitos para empresas estrangeiras.

A participação em projectos como o E-ELT, e há 15 anos do LHT do CERNE, entre outros, são uma oportunidade para alavancar“o conhecimento das empresas portuguesas”, permitindo que participem em projectos de engenharia e fabrico de equipamentos “únicos e extremamente exigentes do ponto de vista tecnológico”.

José Oliveira Santos sublinha que o essencial na participação destes projectos é a “possibilidade de isto alavancar outros trabalhos mesmo que sejam em áreas diferentes”.

A construção deste grande telescópio poderá trazer condições aos cientistas para atingir novos patamares no conhecimento da astrofísica através do estudo detalhado das origens do Universo, planetas extra-solares, buracos negros de elevada massa, bem como a natureza e distribuição da matéria escura e energia escura que dominam o Universo. O E-ELT vai ficar localizado no Deserto de Atacama, no Chile.

Cratera gigante descoberta debaixo do gelo da Antárctida Agência Espacial Europeia utilizou satélite CryoSat

O satélite Cryosat da Agência Espacial Europeia (ESA) encontrou uma cratera gigante debaixo da superfície gelada da Antárctida. Esta terá aparecido depois de um lago que se encontra a três quilómetros abaixo do gelo ter drenado rapidamente.
Debaixo da grossa camada de gelo que cobre a Antárctida há lagos de água doce que não têm conexão directa com o oceano. Estes são de grande interesse para a ciência pois podem dar pistas sobre o transporte de água e a dinâmica do gelo debaixo da superfície do continente.

Os investigadores da ESA utilizaram satélites combinando dados do CryoSat e outros mais antigos do satélite ICESat, da NASA. A equipa mapeou a cratera deixada pelo lago e determinou, até, a magnitude da inundação que o formou.
Em 2007 e 2008 drenaram-se seis quilómetros cúbicos de água, o maior fenómeno deste tipo alguma vez registado, indicam os autores do trabalho, publicado na «Geophysical Research Letters».
Desde o final de 2008 que o lago parece estar a ser reabastecido, mas numa velocidade seis vezes menor do que a da drenagem. Pode levar uma década até que se verifique o reabastecimento total.
O estudo sublinha a capacidade que o CryoSat tem para mapear as mudanças dos lagos sub-glaciares da Antárctida, em 3D. Cada um destes lagos representa uma nova esperança para se descobrir vida marinha pré-histórica.

SEA LIFE Porto e CIIMAR unem-se para estudar zona costeira do Norte

O SEA LIFE Porto e o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) assinaram um protocolo que junta dois dos principais promotores e investigadores da vida marítima do Porto. A parceria tem o objectivo de promover a educação e literacia científica do oceano, em particular da zona costeira da região Norte. A divulgação científica na área das Ciências Marinhas, bem como a formação e troca de experiências entre técnicos e cientistas nas áreas do cultivo, patologia e manutenção de organismos aquáticos constituem dois dos principais pilares da parceria.
Através da promoção de palestras, seminários e workshops, o protocolo pretende – com a partilha mútua de recursos – contribuir para o reconhecimento, valorização e conservação do património marinho do litoral de Portugal, assim como fomentar a investigação científica e tecnológica na área dos oceanos.

Um dos laboratórios do CIIMAR no Porto
Um dos laboratórios do CIIMAR no Porto
A transmissão de cultura científica – acordada para os próximos três anos – contempla ainda a possibilidade de realização de estágios de licenciatura, mestrado ou teses de doutoramento no SEA LIFE Porto.

A parceria insere-se nos objetivos de conservação e educação ambiental do SEA LIFE Porto, espaço que pertence à maior rede de oceanários do mundo. Além de proporcionar a milhões de pessoas, diariamente, uma experiência de descoberta das curiosidades do mundo marinho, o SEA LIFE promove a conservação ambiental pela via da consciencialização social e da educação. Um dos exemplos é a criação dos Santuários, sub-marca do SEA LIFE que tem como missão salvar, cuidar e devolver à natureza focas e tartarugas, entre outros animais marinhos que dão à costa doentes ou feridos

Investigadores vão reconstruir o clima português dos últimos 500 anos Projecto inédito em Portugal poderá ajudar a prever futuro do clima

Historiadores, biólogos, geógrafos e físicos vão apresentar na segunda-feira a história e as curiosidades do clima português, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, numa iniciativa conjunta do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) e da Universidade de Lisboa (UL).

“É o primeiro projeto semelhante em Portugal. Vai promover o estudo multidisciplinar do clima dos últimos cinco séculos, uma vez que não existe muita documentação. Esperamos vir a compreender melhor determinadas dinâmicas sociais ligadas a eventos climáticos extremos e tirar lições para o futuro”, sintetiza o coorganizador e investigador do CITAB, João Santos.

Uma tendência actual, e já evidenciada pelos registos climáticos, é o aumento da mortalidade no Verão, com um pico de óbitos, nos anos em que há registo de secas.

Para a investigadora da UL responsável pelo projeto, Maria João Alcoforado, é importante perceber se “os serviços de saúde de prevenção devem melhorar, embora não sejam maus, se as pessoas se poderão adaptar ou se poderemos vir a registar mais óbitos no Verão, caso as vagas de calor se vierem a multiplicar, como há alguns estudos que suportam.”
As previsões meteorológicas datam da segunda metade do séc. XX, no pós II Guerra Mundial, com o surgimento dos computadores.A reconstrução do clima baseia-se por isso em dados instrumentais (recolhidos através de equipamentos), documentação de época, análise dos anéis de crescimento das árvores e furos geotérmicos.

Para obter dados do clima relativos ao século XIX, os investigadores do CITAB e da UL vão basear-se nos diários de Miguel Franzini, cientista e observador italiano, complementando a informação com os registos dos instrumentos meteorológicos da época.

Uma das observações mais “interessantes” do investigador italiano, revela Maria João Alcoforado, foi a contra corrente da mortalidade registada em Lisboa, que atingia picos no Verão, enquanto no resto da Europa havia mais óbitos no Inverno.

“Franzini estava em contacto com um médico que queria perceber a causa da mortalidade dos seres humanos e as observações do clima começaram por preocupações de saúde”, explica.

A responsável esclarece que na origem deste desequilíbrio, estavam “problemas de falta de higiene, falhas na conservação dos alimentos e os pântanos que existiam nos arredores da capital. Já nos outros países europeus, havia mais óbitos no Inverno, devido ao frio, chuvas e tempestades, típicas da estação, e às melhores condições de vida das populações.”
 Já para recuar até aos sécs. XVI-XVIII, os cientistas vão analisar os registos de imprensa, procissões,
rogatórias (pedidos de chuva ou sol), e os arquivos de Sés e igrejas.

“Na época já havia jornais que possuíam colunas meteorológicas, com o estado actual do tempo e
como estava a evoluir, mas não havia previsões
”, clarifica João Santos.

Vagas de aclor poderão fazer aumentar óbitos no Verão (imagem Law Keven, Creative Commons)
Vagas de aclor poderão fazer aumentar óbitos no Verão (imagem Law Keven, Creative Commons)
As informações anteriores a 1850 vão ser obtidas através da medição não invasiva dos anéis de
árvores centenárias – um método inovador desenvolvido no CITAB - e de furos geotérmicos, que
consistem em perfurações no solo com centenas de metros de profundidade, que registam a
temperatura, à medida que as ondas térmicas se vão propagando em direção ao centro da Terra.

A Climatologia Histórica é uma área emergente, que surgiu nos últimos 30 anos e abrange a biologia,
a física, a geografia e a geologia, além da história e do clima.

O Workshop da próxima segunda-feira vai contar com as intervenções de especialistas de renome na
área como Eduardo Zorita, do Centro de Investigação Costeira, (Helmholtz-Zentrum Geesthacht) e
Joaquim Pinto, da Universidade de Reading (Reino Unido) e destina-se a estudantes, investigadores,
professores e potenciais interessados.

Cientistas portugueses no maior projecto da UE contra a degradação dos solos europeus

Para avaliar pela primeira vez o estado dos solos nacionais, identificar e estudar os fenómenos que os afectam e desenvolver soluções inovadoras para impedir que, a longo prazo, o sul do país – principalmente – se transforme num deserto árido, uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) tem já as mangas arregaçadas. A missão dos cientistas portugueses faz parte do RECARE. O projecto, o maior da União Europeia no que toca ao estudo de medidas de prevenção e remediação da degradação dos solos europeus, foi lançado oficialmente hoje e conta com uma equipa multidisciplinar de investigadores de 27 organizações do velho continente. 
“Neste momento é-nos difícil fazer uma avaliação global do estado dos solos em Portugal, não só pela variedade de ameaças mas também porque há muito falta de informação, tanto no que diz respeito ao estado de degradação dos solos como sobre a intensidade com que muitos dos processos de degradação estão a decorrer”, garante Jan Jacob Keizer investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Ambiente e Ordenamento (DAO) da UA.

Ainda assim, o coordenador do RECARE em Portugal e especialista em erosão, em particular na que ocorre depois dos incêndios florestais, aponta que “entre os principais problemas que o país enfrenta em termos dos seus solos figuram, sem dúvida nenhuma, a desertificação e a impermeabilização”.

A ideia é impedir  que o sul do país – principalmente – se transforme num deserto árido
A ideia é impedir que o sul do país – principalmente – se transforme num deserto árido
Uma das pioneiras em Portugal no estudo dos processos erosivos e em medidas de combate ao fenómeno, a equipa da UA, a única nacional presente no RECARE, vai focar-se essencialmente nos processos de erosão do solo português após a ocorrência de incêndios e, em particular, na sua mitigação através de medidas de estabilização de emergência.

“Durante os últimos anos, a nossa equipa de investigação tem testado, de forma bastante exaustiva, algumas das chamadas medidas de estabilização de emergência pós-fogo”, aponta Jan Jacob Keizer. “Uma vez que o solo é um recurso natural que não é renovável, pelo menos em períodos tão curtos como uma ou até mais gerações humanas, nunca é cedo demais para prevenirmos a degradação dos solos e para começar a restaurar os que já estão muito degradados”, diz.

O responsável pelo RECARE em Portugal garante que “esses estudos têm demonstrado que a aplicação de um coberto de materiais orgânicos, como por exemplo resíduos florestais [‘mulching’, na língua inglesa], sobre um solo queimado permite reduzir significativamente não só as perdas do solo mas também as perdas de muitos nutrientes contidas nas cinzas e nas camadas superficiais do solo”. É de realçar, diz Jan Jacob Keizer, que “o mulching provou ser eficaz tanto quando efetuado logo após um incêndio como após o corte de árvores”.

A contaminação dos solos, seja pela ação do fogo, seja por práticas agrícolas, e as perdas de matéria orgânica e de biodiversidade do solo são outros dos aspectos a que os investigadores da UA se têm dedicado quando o tema é a degradação dos terrenos e que, naturalmente, estarão também em cima da mesa durante os cinco anos de duração do RECARE.

Europa unida em prol dos solos

Aa equipa da UA vai focar-se essencialmente nos processos de erosão do solo português após a ocorrência de incêndios
Aa equipa da UA vai focar-se essencialmente nos processos de erosão do solo português após a ocorrência de incêndios
“A parte interessante deste projecto é que ele procura observar os solos em toda a Europa. O projecto RECARE inclui 17 casos de estudo de ameaças ao solo, onde se irão analisare as várias condições que ocorrem pela Europa e encontrar soluções apropriadas usando uma abordagem inovadora, combinando conhecimentos científico e local”, 
explica Coen Ritsema, investigador do Departamento de Física do Solo e Ordenamento do Território da Universidade de Wageningen (Holanda) e coordenador do projeto financiado em nove milhões de euros.

“Dado o estado crítico do ambiente”, aponta o responsável pelo RECARE, “é essencial que os resultados e os produtos da investigação sejam partilhados entre cientistas mas também disseminados aos que trabalham com os solos e aos que prestam consultoria e apoio à sua gestão e utilização, para que os solos possam funcionar o mais efetivamente possível, para benefício de todos”.

A partilha de informações entre os cientistas das 27 instituições presentes no RECARE é mesmo um dos grandes objectivos do projeto de forma a que, no futuro, se possa proteger com maior eficácia os solo da Islândia ao Chipre.

“Devido ao aumento da intervenção humana e à gestão não sustentável, os solos estão actualmente sob crescente ameaça de um amplo conjunto de processos de degradação, como a erosão, a compactação, a desertificação, a salinização, a impermeabilização e a perda de matéria orgânica e de biodiversidade”, aponta Coen Ritsema. Os solos, conclui o responsável, “necessitam de ser protegidos e conservados adequadamente para assegurar que as múltiplas funções que desempenham para toda a sociedade não são destruídas ou reduzidas”.

Estudo revela diferentes impactos sobre a biodiversidade em todo o mundo As regiões polares receberam uma atenção substancial porque estão a passar por um grande aumento na temperatura

A redução das camadas de gelo (ice sheets) e o derretimento das calotas polares, bem como os impactos desses fenómenos na biodiversidade, são consequências bem conhecidas das alterações climáticas. Mas um novo estudo de uma equipa internacional que inclui investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), publicado recentemente pela revista Science, revela que os impactos sobre a biodiversidade serão igualmente graves noutras regiões do mundo. 
Quando as múltiplas dimensões das alterações climáticas são analisadas, verifica-se que várias regiões são ameaçadas por diferentes aspectos. Por exemplo, é previsto que os trópicos, sejam altamente afectados por alterações locais da temperatura e precipitação, o que conduzirá a climas completamente diferentes dos actuais. Os resultados deste estudo expõem a complexidade dos efeitos das alterações climáticas na biodiversidade e os desafios que se apresentam na previsão destes impactos e na preservação dos ecossistemas naturais num mundo em mudanças.

“As regiões polares receberam uma atenção substancial porque estão a passar por um grande aumento na temperatura. A extensão dos climas polares decrescerá, o que implica uma redução no habitat disponível para espécies árticas e sub-árticas”, explica o investigador principal do estudo Miguel Araújo, coordenador do pólo do CIBIO-InBIO na Universidade de Évora, professor no Imperial College em Londres e investigador no Museu Nacional de Ciências Naturais em Madrid.

Miguel acrescenta que “Independentemente destas alterações, o aquecimento nos trópicos deverá criar condições climáticas completamente novas, e que actualmente não são experimentadas por nenhuma espécie em qualquer lugar na Terra. A eventual capacidade das espécies se conseguirem adaptar a estas novas condições climáticas é ainda uma questão em aberto. Existe o risco de negligenciarmos estas informações vitais, uma vez que o aumento da temperatura nas regiões polares é mais fácil de compreender”,

Algumas espécies enfrentam eventos extremos, outras enfrentam longas deslocações
Este estudo, que resulta de uma colaboração internacional que inclui o CIBIO-InBIO/Universidade de Évora, o CSIC (Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid) e as universidades de Copenhaga, Helsínquia e o Imperial College de Londres, é o primeiro a fornecer uma visão extensiva e detalhada do impacto de diferentes padrões de variação das alterações climáticas na biodiversidade.

Através da utilização de 15 modelos disponibilizados pelo IPCC (Painel Internacional para as Alterações Climáticas), os investigadores examinaram a forma como diferentes aspectos inerentes às mudanças na temperatura e precipitação poderiam afectar a persistência das espécies em todo o mundo. A maioria dos indicadores de mudanças climáticas disponíveis foi revista e aplicada ao século XXI, e os padrões emergentes de alterações climáticas foram relacionados com as ameaças e oportunidades previstas para a biodiversidade.

Segundo Raquel Garcia, investigadora do CIBIO-InBIO/Universidade de Évora, do CSIC e do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga, “o impacto das alterações climáticas na biodiversidade pode ser medido de diversas formas, algumas das quais bastante diferentes das que são tradicionalmente utilizadas. Por exemplo, podemos medir se eventos extremos se poderão agravar ou atenuar, se determinadas condições climáticas estarão mais ou menos disponíveis, e em que medida as condições climáticas poderão estender-se para além das suas áreas de impacto actuais”.

A investigadora explica que “quando se projecta essa variedade de medições em cenários futuros, torna-se evidente que a biodiversidade irá experimentar diferentes desafios climáticos em diferentes regiões do planeta. É previsível que o aquecimento extremo e eventos de seca, por exemplo, afectem principalmente os trópicos, causando uma grave ameaça a espécies mais sensíveis. Quando consideramos a extensão das áreas potencialmente afectadas pelas mudanças climáticas, verificamos que esta é maior em regiões de clima frio e polar. Portanto, espécies existentes nessas regiões terão maiores dificuldades em acompanhar os tipos de clima a que estão adaptadas”.

Associação Portuguesa dos Nutricionistas distingue estudos sobre doença celíaca

Dois trabalhos sobre a doença celíaca deram distinções a três investigadoras da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica – Porto. Atribuídos no âmbito do 11º Congresso anual da Associação Portuguesa dos Nutricionistas (APN), os prémios distinguiram trabalhos no âmbito do projecto«Ser celíaco em Portugal».

O trabalho «Grau de adesão à dieta isenta de glúten, disponibilidade de produtos alimentares específicos e grau de satisfação numa amostra de celíacos em Portugal» recebeu o segundo prémio para melhor comunicação oral e o projecto «Frequência de visita a profissionais de saúde e grau de satisfação relativo às diferentes fontes de informação acerca de doença celíaca e dieta isenta de glúten» ganhou o segundo prémio para melhor poster científico.

Contactada pelo «Ciência Hoje», Ana Sofia Pimenta explica que “a doença celíaca é um distúrbio de carácter autoimune precipitado pela ingestão de cereais que contém glúten, em indivíduos geneticamente predispostos”. Tradicionalmente, “era considerada uma síndrome de má absorção rara na infância”, refere. Hoje em dia sabe-se que “é uma condição mais frequente, que pode ser diagnosticada em qualquer idade e que afecta múltiplos sistemas de órgãos”.
Até à década de 70, conta a investigadora, “estimava-se que a prevalência global de doença celíaca na população correspondia a 0,03 por cento e que afectava maioritariamente os indivíduos de origem europeia”.
No entanto, “a introdução de técnicas endoscópicas gastrointestinais nos anos 70, a identificação de duas moléculas HLA (antigénio leucocitário humano)-DQ2, nos anos 80, e o HLA-DQ8, no inicio da década de 90”, bem como o “reconhecimento do amplo espectro clínico da doença e o desenvolvimento de testes serológicos altamente específicos revelaram que a doença é mais prevalente do que se pensava”.
Prevalência e diagnóstico
A prevalência da doença celíaca "é maior nos grupos de risco, nomeadamente familiares de doentes celíacos, portadores de síndrome de Down e indivíduos com outras doenças autoimunes, como por exemplo diabetes mellitus tipo 1", explica a investigadora Ana Sofia Pimenta. A doença pode diagnosticar-se em qualquer idade, porém, "parece surgir mais frequentemente na infância ou na quarta ou quinta década de vida". Os estudos mais recentes têm vindo a sugerir "o aumento da incidência em pessoas mais velhas, sendo que, actualmente, se debate se o diagnóstico de doença celíaca em idade avançada corresponde, de facto, ao real desenvolvimento da doença em idade tardia ou se se prende com atrasos no diagnóstico". Apesar dos avanços nos métodos de rastreio e diagnóstico, a doença permanece subdiagnosticada. Pensa-se que "por cada caso diagnosticado, existam entre 5 a 10 casos por diagnosticar, dado o predomínio de manifestações clínicas atípicas ou até mesmo ausência de sintomas". Muitos portadores de doença  desconhecem, assim, a sua condição. São igualmente frequentes"atrasos entre o início da sintomatologia e o diagnóstico de doença celíaca, muitas vezes por diagnósticos anteriores incorrectos".
Estima-se que “a prevalência na população em geral na Europa e nos Estados Unidos da América seja de, aproximadamente, 1 por cento. Em Portugal, os estudos são escassos. No entanto, estima-se que a prevalência ronde 0,7 por cento, de acordo com os resultados de um estudo efectuado numa população de adolescentes”.
«Ser celíaco em Portugal»
Os dois trabalhos premiados no congresso “resultam do projecto mais amplo «Ser celíaco em Portugal: caracterização de uma amostra de celíacos», que contou, desde o início, com o aval da Associação Portuguesa de Celíacos” (APC).
Participaram no estudo 201 indivíduos portadores da doença com idade igual ou superior a 16 anos, residentes na maioria dos distritos de Portugal, incluindo as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
Com um dos trabalhos pretendíamos descrever a frequência de visita dos doentes celíacos a diferentes profissionais de saúde e aferir o grau de satisfação quanto às informações transmitidas pelas diversas fontes. Verificámos que 56 por cento dos participantes consultava o gastrenterologista e 44 por cento o clínico geral, pelo menos, uma vez por ano, atendendo à condição de celíaco”.
Resultados
A maioria dos inquiridos referiu não visitar o nutricionista (70,6 por cento) ou o dietista (83,5 por cento). Quanto ao grau de satisfação com as diferentes fontes de informação, 30 por cento dos participantes que assinalaram o gastrenterologista mostraram-se muito satisfeitos com as informações prestadas. A percentagem de participantes insatisfeitos com as informações do clínico geral foi superior à dos satisfeitos.
Relativamente às informações fornecidas por nutricionistas e dietistas, a maioria que as considerou mostrou-se satisfeita. Grande parte dos participantes mostraram-se satisfeitos com as informações transmitidas pela Internet e a esmagadora maioria mostrou-se satisfeito com as informações fornecidas pela APC.
Quanto às informações dadas pelos meios de comunicação social (televisão e rádio), 45 por cento mostrou-se insatisfeito. A maioria dos celíacos considera que a população em geral não está suficientemente esclarecida quanto à doença. Maior divulgação através da comunicação social e formação dos profissionais de saúde foram as principais sugestões apontadas para aumentar o conhecimento da população.
Estes resultados reflectem a necessidade dos profissionais de saúde investirem na sua formação acerca da doença celíaca e do seu tratamento, prestando informações actualizadas e consistentes e cuidados que vão ao encontro das expectativas dos doentes”, considera.
Dieta sem glúten
O trigo é um dos vários cereais que contêm glúten
O trigo é um dos vários cereais que contêm glúten
 Com o trabalho «Adesão à dieta isenta de glúten, disponibilidade de produtos alimentares específicos e grau de satisfação numa amostra de celíacos em Portugal», verificou-se que 97 por cento dos inquiridos tenta cumprir a dieta isenta de glúten na sua alimentação diária, sendo que apenas metade da amostra nunca consumia alimentos com glúten.
Porém, 10 por cento consumia-os diariamente. A falta de alternativa, a escolha própria e o preço constituíram as principais razões para quebrar a dieta. Após o consumo de glúten metade dos participantes experimentavam dor e distensão abdominal, 47 por cento diarreia e 18 por cento alterações de humor.
Uma minoria dos participantes considerou fácil encontrar alimentos específicos sem glúten à venda e a maioria mostrou-se insatisfeita no que concerne ao preço, à variedade e à disponibilidade dos referidos produtos no mercado. Quando questionados acerca de que alimentos aptos para celíacos gostariam de encontrar disponíveis, um quarto dos participantes referiram maior variedade de produtos de padaria e pastelaria.
Um maior conhecimento das dificuldades e expectativas dos celíacos relativamente ao cumprimento da dieta isenta de glúten pode constituir um estímulo para a maior produção, reformulação e oferta de alimentos por parte da Indústria Alimentar. A disponibilidade e a variedade de alimentos destinados a doentes celíacos sensorialmente atractivos e a preços competitivos são factores que podem contribuir para a adesão à dieta isenta de glúten”, conclui.
Os celíacos devem seguir uma dieta isenta de glúten. Os cereais trigo, cevada, centeio e aveia devem ser evitados bem como os seus derivados (alimentos feitos com as respectivas farinhas). Os cereais sem glúten são o arroz, o milho e o sorgo.

UE financia investigação para eliminar bolores do queijo da Serra e estudar biomoléculas dos cogumelos

O Queijo Serra da Estrela DOP e os cogumelos silvestres nativos são os dois grandes embaixadores da gastronomia portuguesa cujo desenvolvimento da produção será alavancado através de dois projectos de inovação tecnológica, recentemente aprovados pela União Europeia.

O estudo de investigação aplicada ao queijo será desenvolvido pela BLC3 – Plataforma de Desenvolvimento da Região Interior Centro, em parceria com a Universidade do Minho e uma queijaria da região demarcada, a Casa Matias, para contrariar a grande indisciplina de mercado deste produto, que se arrisca mesmo a entrar em vias de extinção. Na área, apenas dez por cento do queijo é produzido com leite da raça Bordaleira Serra da Estrela, sendo o restante fabricado com leite importado de Espanha e de outras regiões.

O projecto aprovado, que obteve um financiamento de 259 mil euros, destina-se exclusivamente ao Queijo Serra da Estrela certificado, e prevê a criação de um “kit” analítico que diferencie o queijo produzido com o leite da raça Bordaleira Serra da Estrela daquele que incorpora leite espanhol ou outros; a eliminação dos bolores, que dificultam a conservação do produto após os 35 a 40 dias de cura e fatiagem em doses individuais, para responder aos novos padrões de consumo, com embalamento no auge da qualidade, que mantenha a textura da fatia e permita a sua conservação, sem bolores.

Com este choque tecnológico numa riqueza regional que foi considerada como uma das sete maravilhas da gastronomia portuguesa, um dos grandes objectivos passa por criar condições efectivas para que o queijo possa entrar em mercados gourmet nacionais e internacionais a que hoje não tem acesso, podendo ser substancialmente valorizado, e invertendo-se assim o desinteresse na produção a que se vem assistindo.

Cogumelos e trufas
Relativamente à candidatura dos cogumelos silvestres nativos, está em causa o lançamento de um projecto biotecnológico para fomentar o desenvolvimento da produção no interior do país.

Neste projecto, a BLC3, numa parceria estabelecida com o Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e a Voz da Natureza – uma empresa incubada na BLC3 com actividade na área da investigação científica e tecnológica para o desenvolvimento de produtos inovadores –, pretende incentivar na região interior centro do país a produção de inóculo de cogumelos silvestres nativos e investigar as biomoléculas e as condições para a produção de trufas – fungos do solo que formam cogumelos subterrâneos e que, nos mercados internacionais, têm uma cotação que varia entre os 400 e 500 euros por quilo.

Em Portugal, o potencial industrial, económico e ambiental associado aos cogumelos silvestres tem sido subvalorizado e a BLC3 propõe-se avançar com um Centro de Micologia Aplicada, de forma a alavancar o desenvolvimento de uma nova economia na região, através da valorização do território e dos melhores recursos que esta gera.

Note-se que a exploração deste tipo de produtos – os ecossistemas florestais “escondem” uma ampla diversidade de cogumelos silvestres que poderão ser altamente valorizados nos mercados internacionais – é de grande potencial. Porém, Portugal – ao contrário do que já acontece com países como Espanha, França e Itália – não apresenta fluxos comerciais significativos que possa gerar actividades empresariais com elevado retorno económico.

Qual é a melhor broa de milho? Investigadores estudam propriedades genéticas, nutricional e organolética da farinha

Por Marlene Moura (texto)
Investigadores querem broa 100 por cento de farinha de milho
Investigadores querem broa 100 por cento de farinha de milho
Existem diferentes qualidades de broas de milho – branca, amarela ou escura. Este pão é feito com uma mistura de farinhas de milho, tal como o nome sugere, e trigo ou centeio (como a broa de Avintes), e levedura. Mas e se pudéssemos fazer uma broa 100 por cento de farinha de milho?

“Apesar de ser mais difícil por lhe faltar a elasticidade conferida pelo trigo, é possível e será bastante interessante para os celíacos [intolerantes ao glúten]”, segundo referiu ao jornal «Ciência Hoje» Carlota Vaz Patto, investigadora e coordenadora principal do trabalho de investigação nacional MOXI e responsável pela equipa do Instituto de Tecnologia Química e Biológica(ITQB) no projecto europeu SOLIBAM.

Um dos objectivos do estudo é precisamente conseguir uma broa 100 por cento de farinha de milho.“Em Portugal, trabalhamos com variedades tradicionais de milho (chamado regional), que é de polinização livre e usado para a farinha da confecção da broa” e um dos objectivos do projecto MOXI – FCT é “a utilização da diversidade natural em antioxidantes, sabores e aromas das variedades tradicionais portuguesas no melhoramento de milho para a produção desse pão”.

O projecto Moxi centra-se essencialmente no estudo genético, ou seja, identifica os genes que controlam a qualidade do milho. Assim, “podemos fazer um sistema de certificação das variedades tradicionais do cereal e ajudar a melhorá-las, caso tenham características menos interessantes", defendeu ainda a investigadora.

O milho é livre de glúten e a sua qualidade de panificação é diferente da do trigo, por exemplo, por“se relacionar mais com as suas características antioxidantes, propriedades do amido – as viscosidades – e as substâncias voláteis libertadas durante a cozedura”, como o aroma e o sabor.

Carlota Patto
Carlota Patto
O projecto Europeu SOLIBAM tem por objectivo o desenvolvimento de abordagens inovadoras de melhoramento e produção de plantas baseadas num aumento ou manutenção da diversidade.

Sabor depende da tradição

Mas a que sabe a broa de milho? “A experiência diz-nos que depende da tradição a que está habituado o consumidor e a as suas preferências dependem igualmente disso”, continuou.

O Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e o ITQB promovem uma sessão informativa sobre um conjunto de provas sensoriais de broa de milho, na Quinta do Marquês, em Oeiras, que irá decorrer de 24 a 27 de Julho, com o objectivo de caracterizar a qualidade das diferentes variedades regionais de broa e onde serão apresentados os projectos de investigação em curso no ITQB e no INIAV relacionados com o tema.

Durante a prova sensorial, onde serão seleccionadas diferentes tipos de broas, a equipa científica irá recolher a caracterização de qualidade dos participantes e cruzar os dados com as informações das análises químicas obtidas, como o teor de gordura, açúcar, proteínas, fibras e a composição antioxidante.
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coelho assado com castanhas ealecrim

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Gosta de coelho? É a sugestão para o almoço de amanhã! Couscous para o jantar

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Introdução de péptidos em novos alimentos melhora as suas características Investigadores desenvolvem subprodutos com propriedades anti-hipertensiva

Uma investigação desenvolvida pela Universidade de Medicina do Porto (FMUP) e a Universidade Católica, com a colaboração da Saloio, Unicer, Frulact e Biostrument, no âmbito do projecto ACTIPEP, desenvolveu novos alimentos com melhorias nutricionais, através da utilização de subprodutos, nomeadamente o soro obtido na produção de queijo e a levedura de cerveja. Os resultados foram apresentados hoje, na FMUP, por Manuela Pintado, investigadora da Católica e responsável pelo projecto ACTIPEP.

Algumas das empresas manifestaram a necessidade de despachar e valorizar os seus excedentes, como o soro (no caso da Saloio) e da levedura de cerveja, que neste momento é entregue para alimentação animal (no caso da Unicer). Ambos os produtos são extremamente ricos em proteína e, segundo explicou Manuela Pintado ao «Ciência hoje»“o objectivo do projecto foi encontrar uma metodologia aplicável a estes subprodutos, de forma próxima para obter extractos diferenciados com actividade biológica”.

A partir de um resíduo lácteo (soro de mistura de queijo de vaca, cabra e ovelha) conseguiram a produção de novos alimentos com péptidos, como um requeijão para barrar, por exemplo, aplicando-lhe “um processo de membrana de filtração com hidrólitos e libertação de moléculas mais pequenas” – o que as torna bioactivas.

Com base em trabalhos anteriores e com os novos desenvolvimentos deste estudo e o apoio da Escola Superior Agrária de Coimbra, a equipa conseguiu implementar um processo à escala piloto, ou seja, a partir de resíduos até aqui subvalorizados desenvolveram extractos de levedura ricos em péptidos e com o soro criaram dois extractos peptídicos com actividade biológica e uma fracção de uma proteína, “especialmente interessante em termos de aplicações alimentares”.

Em termos de características gerais, com a maior parte das fracções obtidas a equipa conseguiu provar que “têm actividade anti-hipertensiva [redução da pressão arterial], antimicrobiana, antiulcerativa [prevenção de úlceras gástricas], pré-biótica [estimulação da flora intestinal, de forma benéfica] e antioxidante, nalguns casos”, assinalou Manuela Pintado.

Estudo da FMUP, Católica e Escola Agrária de Coimbra
Estudo da FMUP, Católica e Escola Agrária de Coimbra
De acordo com a investigadora, parte destas propriedades, “foram validadas em estudos ‘in vitro’ pela Católica, foram também posteriormente validados em estudos animal e medicina e comprovaram os efeitos anti-hipertensivos em ratos”. Os extractos de levedura e de soro foram também estudados numa dieta rica em valor calórico e observou-se uma redução de apetite, de forma a avaliar os extractos na obesidade.

Agora, “as propriedades estão levantadas para potenciais aplicações na área alimentar e médica e o desenvolvimento de alguns produtos, com o apoio das indústrias envolvidas, demonstram que o extracto é um produto de fácil incorporação em alimentos com interessantes características organolépticas, reduzindo o impacto ambiental destas empresas”, concluiu a investigadora.

Sumos e queijos com propriedades anti-hipertensiva

Segundo o comunicado da Universidade Católica, a investigação assume-se ainda como “uma solução alternativa e com suporte científico sustentado – com compreensão global do ponto de vista económico, técnico-industrial e ambiental – a um problema bem identificado de duas indústrias de sectores distintos, mas com problemas semelhantes (Queijo Saloio e Unicer), nomeadamente no que diz respeito ao aproveitamento de resíduos da produção”.

Alguns dos novos alimentos são sumos concentrados, iogurtes, barras de requeijão com péptidos, snacks de frutos secos revestidos com uma camada de péptido e barras de cereais. Está igualmente a ser estudada a possibilidade de utilização de péptidos na valorização da alimentação animal.

Calcular a pegada de carbono associada à produção do azeite Conclusões do projecto europeu OiLCA apresentadas amanhã

A produção de azeite constitui um sector agro-industrial relevante na região mediterrânea da Europa. Motivado pelas suas características organolépticas e os seus benefícios para a saúde, o consumo deste produto aumentou mais de 50 por cento nos últimos 20 anos, alcançando um valoro estimado de 1,85 milhões de toneladas em 2009.

O Centro para a Valorização de Resíduos (CVR) da Universidade do Minho organiza, amanhã, o seminário nacional de encerramento do projecto«OiLCA - Melhoria da competitividade e redução da pegada de carbono do sector do azeite, mediante a optimização da gestão de resíduos e implementação de uma ecoetiqueta». A sessão inicia às 11h na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Carvalhais, em Mirandela.

A iniciativa consiste numa jornada de capacitação da OilcaTool, uma ferramenta que permite calcular a pegada de carbono associada à produção do azeite e que os participantes podem testar. O seminário inclui ainda três comunicações: «Produção de bio-óleos e bio-carvões a partir de subprodutos da indústria do azeite», pela professora Margarida Gonçalves; «Avaliação Ambiental através da Pegada de Carbono: casos de estudo em Portugal (o vinho verde)», pela professora Belmira Neto; e os resultados alcançados nos 27 meses de execução do projecto OiLCA, pela investigadora Bruna Fonseca, do CVR.

O azeite do sudoeste da Europa representa 47 por cento da produção mundial. A iniciativa OiLCA envolve o CVR, Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD) e quatro centros tecnológicos de França e Espanha, sendo co-financiada pelo FEDER ao abrigo do Programa INTERREG IV B SUDOE. Decorreu de 2011 a 2013 e pretendeu também criar uma ecoetiqueta que garanta o respeito pelas normas ambientais e a indicação da pegada de carbono no processo produtivo.

A produção de azeite constitui uma complexa estrutura agro-industrial que compreende actividades muito diversas: cultivo, extracção, refinação e embalagem. Estas actividades apresentam uma grande interacção com o meio ambiente e uma importante pegada de carbono, o que supõe um problema técnico, económico e de imagem, mas que cria oportunidades que poderão constituir uma via de excelência ambiental e empresarial.

Salmão geneticamente modificado poderá ser aprovado este mês Medida pode ser a resposta para flagelo da subnutrição mundial

Investigadores do Roslin Institute, da Universidade de Edimburgo (Reino Unido) empreendem uma campanha de encorajamento junto dos governos para estes apoiarem e disseminarem Salmão Geneticamente Modificado. Espera-se que a medida seja aprovada nos EUA até ao final do corrente mês de Maio.

Através da manipulação genética, é possível produzir peixes de crescimento acelerado e mais resistentes às doenças e ao frio podendo reproduzir-se a temperaturas mais baixas. Assim, a produção comercial de peixe transgénico apresenta-se como uma oportunidade para aumentar a produtividade e os lucros na produção de peixe.

Já cientistas da empresa de engenharia genética norte-americana Aqua Bounty criaram uma espécie de salmão geneticamente modificado que cresce muito mais rápido e atinge um tamanho maior que o normal. De acordo com a empresa, ela teve aprovação inicial da Food and Drug Administration(autoridade de segurança alimentar e de medicamentos norte-americana) para produzir o animal.

E outras empresas como a AquaBounty defendem que a medida pode ser a resposta para o flagelo da sub-nutrição mundial. Quando for aprovado, o salmão será o primeiro de 30 peixes geneticamente modificados para consumo humano.

Segundo Helen Sang, especialista em modificação genética animal do Instituto de Roslin – onde a Ovelha Dolly foi clonada – refere que os receios relacionados com este tipo de peixe como alimento são infundados. Assegura ainda que “as novas técnicas usadas são especialmente concebidas para criar animais destinados a serem parte da nossa alimentação”.

Sabe escolher azeite de qualidade? Se vai só pela acidez está errado! Especialistas desvendam segredos na UTAD

Para desvendar os segredos de um bom azeite, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) recebeu um Curso de Prova de Azeite, conduzido por peritos em olivicultura e destinado a produtores, estudantes e público em geral.

“Devemos valorizar as qualidades sensoriais do azeite como os aromas e sabores frutados, amargos, picantes e doces, bem como detectar possíveis defeitos. A acidez não deverá ser o único factor de qualidade”, declara o especialista Francisco Pavão.

A maioria dos consumidores escolhe o azeite de acordo com a acidez, um “procedimento que está completamente errado“, de acordo com o responsável, “pois esta constitui apenas um dos parâmetros de qualidade”.

Outros consumidores deixam-se influenciar pela cor do azeite, optando por azeites com cores mais claras. No entanto, na análise sensorial, a cor não é avaliada.

Os participantes provaram Azeites Virgens Extra e Azeites Virgens “com o objectivo de dar a conhecer as características sensoriais” do produto.

“Os dois são extraídos directamente da azeitona, pelo que podem ser denominados de ‘sumo de azeitona’, enquanto o Azeite resulta da mistura de azeite refinado (através de produtos químicos) com um pouco de Azeite Virgem”, explica Francisco Pavão.

Os especialistas defendem que os consumidores devem optar, em primeiro lugar, por Azeites Virgem Extra e depois Virgem, dependendo da aplicação que querem dar ao azeite.

As explicações dos especialistas foram seguidas atentamente
As explicações dos especialistas foram seguidas atentamente
“O Azeite Virgem Extra não tem defeitos sensoriais e apresenta acidez expressa em ácido oleico até 0,8%. Já o Azeite Virgem poderá ter alguns defeitos sensoriais, ainda que ligeiros, e acidez compreendida entre os 0,8% e os 2%,”
 elucida o perito.

Além disso, o especialista salienta que a acidez apenas é detectada através de análise físico-química, não sendo perceptível na prova.

O curso sublinhou também os benefícios para a saúde do azeite que, além da acção antioxidante das vitaminas A, D, E e K, tem efeitos analgésicos, anti-inflamatórios, tónicos e protectores da pele, auxiliando ainda na fixação de cálcio, na melhoria do sistema digestivo e no controlo da diabetes.

Questionado sobre o uso de fitofármacos (pesticidas e fertilizantes) no olival, Francisco Pavão defende que “o uso deste tipo de produtos está associado à manutenção da superfície do solo e ao combate a pragas e doenças.” No entanto, “são usados no âmbito de sistemas de agricultura que minimizam impactos no ambiente, nomeadamente a Produção Integrada e a Agricultura Biológica.”

A iniciativa integra-se no Projecto Olivatmad – Redes Temáticas de Informação e Divulgação da Fileira Olivícola em Trás-os-Montes e Alto Douro, organizado em parceria com o Departamento de Agronomia e o Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas da UTAD.

Maioria das pessoas não bebe líquidos suficientes ao longo do dia

Está a chgar o Verão e existe ainda algum desconhecimento sobre a importância de manter os níveis adequados de hidratação e a quantidade de líquidos que, por norma, deve ser ingerida diariamente e em circunstâncias específicas. A maioria das pessoas não bebe líquidos suficientes ao longo do dia,o que  torna necessário melhorar os níveis de ingestão.
Esta é a indicação dada pelo Prof Dr. Lluís Serra-Majem, Professor de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria e presidente da Fundación para la Investigación Nutricional e da Academia Española de Nutrición, que afirma que a hidratação é já uma área com um contexto próprio dentro da nutrição e saúde.

Na verdade, diz o professor Serra-Majem, "é necessário fazer muita pedagogia para consciencializar a população, e mesmo os profissionais de saúde, sobre a importância de uma hidrataçãDois terços do nosso corpo são água, um elemento essencial para a maior parte dos processos fisiológicos e que deve ser resposto periódica e regularmente uma vez que o nosso corpo não a armazena. "A ingestão de água ou outros líquidos, como sopas, sumos, refrigerantes ou batidos, e até mesmo alimentos com alto teor de água podem aportar este elemento sempre tendo em conta as calorias tanto das bebidas como dos alimentos", refere o professor Serra-Majem.

Beber todo o ano

Até há bem pouco tempo só no Verão surgia a preocupação da hidrataçãomas parece haver uma mudança nesta tendência. "O mesmo se passa igualmente com os atletas, mas a realidade é que o balanço hídrico é algo que afecta a todos nós e que pode comprometer a nossa saúde, especialmente em grupos de risco, como os idosos e as crianças", diz o professor Serra-Majem.

"De qualquer forma, a hidratação sempre tem mais relevância nos períodos do adequada."o ano em que é mais quente e onde o risco de insuficiência de hidratação aumenta."

Hidratação sempre tem mais relevância nos períodos mais quentes
Hidratação sempre tem mais relevância nos períodos mais quentes
Além disso, deve ter-se em conta que os níveis recomendados de ingestão de líquidos dependem das condições ambientais e da actividade física. "Devemos aprender a hidratar-nos correctamente - salienta o presidente da Fundación para la Investigación Nutricional -,particularmente os grupos da população que necessitam de maior ingestão, como os idosos, as crianças, grávidas ou mulheres que amamentam."

De acordo com este especialista, é especialmente importante estarmos atentos para garantir que mantemos uma boa hidratação durante a manhã e início da tarde, mesmo durante o tempo de estudo e no trabalho ou na condução, bem como durante o exercício ou quando se está exposto a temperaturas elevadas.

Descoberta nova espécie de ave na capital do Camboja Habitat da “Orthotomus chaktomuk” está em declínio

Uma equipa da BirdLife International, da Wildlife Conservation Society (WCS) e outros cientistas descobriram uma nova espécie de ave, desta vez não numa floresta remota e inexplorada, mas sim numa capital onde vivem 1,5 milhões de pessoas.
A nova espécie, baptizada comoOrthotomus chaktomuk, pode ficar conhecida em português como o costureiro-do-camboja e foi encontrada na capital do Camboja, Phnom Penh, e em vários outros locais dos arredores da cidade, incluindo numa zona em construção.

Este pequeno passeriforme do tamanho de uma carriça com barrete cor de ferrugem e garganta preta vive em zonas arbustivas densas e húmidas em Phnom Penh e noutros sítios da planície de aluvião adjacente.
O nome científico chaktomuk vem de uma antiga palavra Khmer que significa “quatro caras”, e descreve a zona onde a ave é encontrada: a área centrada em Phnom Penh, onde quatro rios se cruzam.
Apenas pequenos fragmentos de matagal permanecem na várzea de Phnom Penh, contudo existem outras áreas maiores que persistem fora dos limites da cidade, onde a espécie é abundante. Os autores da descoberta afirmam que o habitat desta ave está em declínio e que a expansão agrícola e urbana pode afectar ainda mais a espécie e o seu habitat.
A BirdLife International vai avaliar o estado de conservação da espécie para a Lista Vermelha, em nome da União Internacional de Conservação da Natureza.
“Este mesmo habitat denso é o que manteve o pássaro escondido por tanto tempo”, refere o autor Simon Mahood, da WCS, que começou a investigar a espécie, quando o co-autor Ashish John, tirou fotografias do que se pensava ser uma espécie similar. O pássaro nas fotografias inicialmente desafiou a identificação e investigações posteriores revelaram que se tratava de uma espécie inteiramente desconhecida.
A descoberta de uma espécie de ave por descrever dentro dos limites de uma grande cidade populosa – para não mencionar a 30 minutos de minha casa – é extraordinário”, disse Mahood. “A descoberta indica que as novas espécies de aves podem ainda ser encontradas em locais conhecidos e inesperados”.

Raças nativas de cães americanos têm origem ancestral asiática Investigadores do IPATIMUP participaram no estudo

A chegada dos europeus ao continente americano é geralmente assumida como tendo tido um efeito devastador sobre as raças de cães nativas americanas que aí existiam, com extinção em larga escala das variedades indígenas. No entanto, um estudo recente no qual participaram investigadores da Universidade do Porto, revela que a população original de cães nativos americanos, presumivelmente trazidas pelos humanos que originalmente colonizaram o continente americano, persiste e tal como as populações humanas nativas tem a origem ancestral asiática.
‘De facto’, diz Barbara van Asch - investigadora no IPATIMUP onde se tem dedicado ao estudo de cães e lobos -  ‘as raças caninas americanas apresentam mais de 70 por cento de ancestralidade nativa. Estes resultados confirmam que estas populações são um significativo remanescente da cultura americana indígena original e realçam a importância da sua preservação’.
Os investigadores da Universidade do Porto, em colaboração com o grupo de investigação de Peter Savolainen (Royal Institute of Technology, Suécia) apresentam a comparação do DNA mitocondrial de cães europeus e asiáticos, espécimes arqueológicos americanos e raças americanas modernas que incluem raças do Árctico e raças da América do Norte e Sul, tais como Chihuahua e o Cão sem Pêlo do Peru.

Estas populações foram identificadas como tendo tido origem nos cães siberianos e do Leste da Ásia. Também foi encontrada continuidade genética e geográfica entre amostras arqueológicas e amostras modernas. Por exemplo, a raça Mexicana Chihuahua partilha um tipo de DNA mitocondrial com amostras arqueológicas Pré-Colombianas encontradas no México.
A equipa também analisou cães vadios no continente americano confirmando que na generalidade têm origem em cães europeus; contudo, no México e na Bolívia foram identificadas algumas destas populações com elevadas proporções de ancestralidade indígena. Os investigadores afirmam também que estes dados genéticos indicam que uma população de cães ferais nos EUA, o ‘Carolina Dog’, também conhecido como ‘Dingo Americano’, tenha uma origem nativa americana.

O trabalho contou com a participação de investigadores da Universidade do Porto - IPATIMUP (Barbara van Asch e António Amorim) e coordenação de Peter Savolainen do Royal Institute of Technology de Estocolmo. O estudo teve o apoio do Swedish Research Council, OE and Edla Johanssons Scientific Foundation, Wenner-Gren Foundations e uma bolsa de investigação pós-doutoramento da FCT a Barbara van Asch.'
Carolina Dog tem origem nativa americana

A Rita anda à procura do esquilo vermelho É um projecto do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro

Há vários séculos atrás era um animal comum das florestas portuguesas. Mas o sonho do Infante D. Henrique de dar novos mundos ao mundo arrasou boa parte da floresta portuguesa e deixou o esquilo-vermelho a ver navios - diz a Universidade de Aveiro.

Sem habitat, desapareceu do país durante centenas de anos até que, durante a década de 80, a população da Galiza cresceu e muitos esquilos passaram a fronteira rumo ao Minho. Por onde andarão hoje? Que hábitos têm? Estarão em expansão? Atrás das respostas está Rita Gomes Rocha, a bióloga da Universidade de Aveiro (UA) que criou o projeto Esquilo Vermelho em Portugal.

“O projecto tem como objectivo primordial perceber a expansão do esquilo vermelho no território nacional, quais os factores que influenciam essa expansão e os seus padrões de comportamento”, explica Rita Gomes Rocha.
Em desenvolvimento na Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da UA, o Esquilo Vermelho em Portugal quer ainda fazer a caracterização genética da espécie para que, no conjunto final dos resultados, se perceba qual o futuro do esquilo em Portugal e se a sua expansão irá continuar ou, pelo contrário, reverter-se.
O primeiro passo do estudo de Rita Gomes Rocha, um trabalho que está a ser efcetuado no âmbito do curso de pós-doutoramento que frequenta na UA, “é fazer o levantamento de dados com a ajuda de todos”. Na impossibilidade de estar permanentemente presente nas áreas florestais de Norte a Sul do país, a bióloga agradece o contributo de todos quantos avistarem esquilos ou indícios da sua presença enviando os registos através de um inquérito online ou da página de Facebook do projecto.E para que não haja dúvidas quando vir algum, a bióloga descreve o animal da sua paixão: “O esquilo é um simpático roedor com uma cauda bastante felpuda e que pode ser avistado nas florestas portuguesas, principalmente na copa das árvores. Apesar do seu nome esquilo vermelho a sua coloração varia bastante, desde acastanhada a totalmente preta, por isso, é normal haver alguma confusão quando se fala em esquilo vermelho”.
Relatar pinhas roídas também ajuda
Mas nem só avistamentos de esquilos pede a bióloga para serem relatados. “No chão das florestas também se observam pinhas roídas, que são indícios de presença desta espécie”, diz.
Por isso também pode dar conta à investigadora de “pinhas roídas pelo esquilo que têm um padrão peculiar, pois os animais deixam as escamas do topo que formam um pequeno tufo, e são bastante fáceis de reconhecer no chão das florestas”.
Infelizmente, e porque esta espécie é afectada pela rede rodoviária,“também se pode testemunhar os animais mortos encontrados nas estradas”.

os trabalhos que existem até ao momento sobre o esquilo vermelho em Portugal documentam a sua extinção no século XVI e apontam como causas prováveis a intensa destruição das florestas devido à agricultura e à construção naval que decorreu naquele século.

“Isso levou a uma destruição e fragmentação do habitat do esquilo o que originou o declínio das populações e consequente extinção desta espécie em território português”
, explica Rita Gomes Rocha.
Já durante a década de 80 do último século, o esquilo vermelho expandiu-se da Galiza, em Espanha, para o norte de Portugal.
A expansão posterior, aponta a bióloga da UA, foi bastante rápida, sendo que em 2000 o esquilo já se encontrava distribuído por todo o norte do país até ao Rio Douro.

“Actualmente, já existem registos até quase ao Rio Tejo, mas não se sabe exactamente até onde é que esta espécie ocorre”, 
diz.  

Suplementos à base de nitratos aumentam performance desportiva

Muitos atletas e praticantes de actividade física, tanto ocasionais como frequentes, têm dúvidas em relação à suplementação desportiva. Será esta eficaz no aumento do rendimento? Que efeitos adversos pode ter? Funciona a médio/longo prazo? Quais os produtos mais aconselhados e como devem ser tomados?
Para responder a estas perguntas, vários especialistas nacionais e internacionais desvendaram segredos de suplementação dos atletas e o que pode proporcionar maior performance física durante o Congresso PRACTICE, realizado recentemente em Lisboa.

Segundo os profissionais de saúde, a suplementação/alimentação à base de nitrato na dieta (que pode ser encontrada em alimentos como cenoura, espinafre e outros vegetais) tem efeitos benéficos.

O nitrato proporciona ao desportista uma melhor capacidade de distribuição de oxigénio em exercícios de intensidade moderada e reforça a tolerância ao exercício de alta intensidade. Em atletas de alta competição de atletismo, a suplementação à base de nitrato aumentou o rendimento em 1,5 por cento, com um tempo limite de corrida 14 segundos inferior ao testado sem este aditivo. Nos ciclistas, este aumento foi de 0,8 por cento.

“Enquanto especialistas das áreas de Medicina, Exercício e Saúde devemos estar sempre atentos às necessidades específicas dos nossos pacientes/atletas e das populações com as quais trabalhamos. Algumas das dúvidas e questões com as quais os desportistas se debatem diariamente estão relacionadas com a forma de suplementação correcta e adequada ao seu corpo. Através dos vários know-hows conseguimos, durante o Congresso, aliar informação de forma a esclarecer e desmistificar mitos e falsas verdades que ainda existem, defendendo apenas substâncias ergogénicas seguras e permitidas e sublinhando ainda a avaliação/monitorização dos seus efeitos”,afirma Jorge Ruivo, médico especialista em Medicina Desportiva.

O PRACTICE é uma organização interdisciplinar composta por Médicos, Fisioterapeutas e Especialistas do Exercício que se dedicam a estudar a aplicação do exercício físico na prevenção da doença, a sua possível atuação em indivíduos em risco ou portadores de patologia, e os seus efeitos na reabilitação. O seu grande objetivo passa por promover a divulgação e discussão dos efeitos terapêuticos da Atividade física, do Exercício e do Desporto nos vários problemas de Saúde Pública, salientando as sinergias que podem ser criadas entre a Ciência Médica e as Ciências do Exercício.

Comportamento de jogadores em desportos de equipa pode ser um processo auto-organizado

A forma como os jogadores de equipas de Futebol, Basquetebol ou Rugby se coordenam uns com os outros é menos prescritiva do que se supunha, ou seja, a interacção que se estabelece entre jogadores cria informação que especifica quais as possibilidades de acção que ficam disponíveis em cada instante do jogo.

A conclusão é de uma investigação realizada pelo Laboratório de Comportamento Motor da Faculdade de Motricidade Humana/Universidade Técnica de Lisboa em colaboração com School of Human Movement Studies da Queensland University of Technology, na Austrália e publicada recentemente na revista Sports Medicine.

No entanto, a informação só é relevante dentro de regiões críticas, caracterizadas por distâncias interpessoais curtas – no Rugby, por exemplo, caracterizam estas regiões com distâncias entre atacantes e defesas com valores inferiores a quatro metros. Dentro destas áreas cria-se uma dependência contextual entre os jogadores (parceiros de equipa e adversários), fazendo com que o comportamento de uns esteja dependente e faça depender o comportamento dos outros.

Esta influência mútua e recíproca entre jogadores está na base da não-linearidade dos comportamentos, o que resulta numa baixa capacidade de prever com precisão o que vai acontecer sempre que um atacante e um defesa se encontram. Esta interacção entre eles pode ser medida por variáveis como distâncias interpessoais e velocidades relativas, as quais oferecem informações relevantes sobre quem está em vantagem. Sabe-se, por exemplo, que no Rugby em distâncias interpessoais curtas (aproximadamente quatro metros) o jogador que estiver a aumentar a velocidade da sua linha de corrida terá vantagem sobre o seu adversário.

Esta hipótese do comportamento dos jogadores em desportos de equipa ser sustentado por mecanismos de auto-organização levanta questões em relação à forma como o treino deve ser conduzido. O facto do comportamento entre atacantes e defesas ser não-linear sugere que o treino vai muito para além de uma base prescritiva (relação causa-efeito) e como tal o treino deve proporcionar aos jogadores contextos de prática, onde estes aprendam a lidar com essa não-linearidade.

A instrução e os constrangimentos tácticos impostos pelo treinador ou sistema de jogo da equipa, vão seguramente influenciar, mas não vão determinar a forma como os jogadores se comportam dentro de campo, esse comportamento é ‘determinado’ pela forma como cada jogador explora activamente a relação com os que lhes estão próximo.

A auto-organização significa que a informação que regula decisões e acções dum jogador de Rugby durante um jogo é criada localmente, como resultado da sua interacção com outros jogadores que lhe estão próximo. A ideia de auto-organização opõe-se à hipótese de que os comportamentos dos jogadores durante um jogo são essencialmente regulados por ideias ou planos prévios.

Comité Paralímpico português no Angelini Unversity Award

Comité Paralímpico de Portugal é parceiro da edição deste ano do Angelini University Award (AUA!), uma iniciativa promovida pela Angelini Farmacêutica desde 2009 com o objectivo de estimular a participação de estudantes e docentes potenciado a sua capacidade de inovação, criatividade e desafio, tendo em vista a criação de projectos de novos produtos e serviços em torno de determinada temática.

Angelini University Award 13/14, subordinado este ano ao tema Melhor Desporto, Melhor Saúde, pretende premiar projectos académicos de novos produtos/serviços que contribuam para uma prática desportiva mais adequada e eficaz e consequentemente para melhorar a saúde e a qualidade de vida.

O Comité Paralímpico contará com a presença de um representante no júri do AUA! e na cerimónia de entrega de prémios que irá eleger o grupo vencedor, premiado com um total de nove mil euros: uma bolsa de estudo no valor de seis mil euros ao grupo vencedor e uma bolsa de investigação no valor de três mil euros ao docente que tenha acompanhado o grupo vencedor na realização do projecto. Todos os participantes recebem um certificado de participação.

Para Humberto Santos, Presidente do Comité Paralímpico de Portugal “estar associado ao Angelini University Award é motivo de enorme satisfação uma vez que estamos a falar de uma iniciativa que estimula a criatividade e inovação dos nossos jovens, aproximando-os simultaneamente do mundo empresarial. Tendo em conta o sucesso das edições anteriores estamos ansiosos por ver os projectos e acredito que vamos ter muitas e boas surpresas.”

Europa quer evitar perdas nas colheitas e reduzir a pobreza Projecto de três anos conta com financiamento de três milhões de euros

Um novo projecto em tecnologia alimentar, que reúne investigadores da Europa, África subsariana e Ásia, pode ajudar milhões de pessoas em condições de profunda pobreza, avança a CORDIS.

Com a duração de três anos, a investigação liderada pelo Instituto de Recursos Naturais da Universidade de Greenwich, no Reino Unido, conta com um financiamento do sétimo programa-quadro da UE de três milhões de euros.

A ideia é desenvolver métodos inovadores para reduzir os resíduos resultantes da produção de alimentos. Além disso, a proposta inclui conceber novos produtos sob a forma de petiscos, por exemplo, para assim dar-lhes saída em novos mercados.

A mandioca e a batata-doce são culturas importantes do ponto de vista da segurança alimentar para cerca de 700 milhões de pessoas em todo o mundo, mas as suas perdas após as colheitas são importantes. Estas podem ser físicas ou económicas, produzidas por descartes ou processamento para gerar produtos de pouco valor ou ainda na forma de resíduos biológicos.

As perdas físicas após a colheita são elevadas e ocorrem em toda a cadeia alimentar. As perdas de valor económico são elevadas, na medida em que a mandioca pode ser desvalorizada em até 85 por cento.
O projecto europeu agora lançado também pretende, por isso, procurar melhorar a maneira de empregar os resíduos líquidos e detritos usados na fermentação, para tornar possível a criação de produtos de maior valor e próprios para consumo humano quer na forma de lanches, substratos para cultivo de cogumelos ou alimentos para animais.

Actualmente, os agricultores podem perder até 60 por cento do valor do inhame e 30 por cento de mandioca durante processamento posterior á colheita devido à forma como se deterioram, pois não são armazenados em condições ideais. A equipa científica que vai desenvolver o projecto pretende assim tentar reduzir essas perdas através da aplicação de melhores técnicas de armazenamento e processamento para reduzir a quantidade de resíduos e também tornar-se-lhes um produto com valor.

O projeto vai começar por apresentar os métodos de redução de resíduos na Nigéria, Gana, Vietname e Tailândia. Espera-se que permita às PME do sector realizar contactos com grandes indústrias e gerar empregos.

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Cocktails de pesticidas prejudicam a saúde dos solos Universidade de Aveiro alerta para situação grave em Portugal e na Europa

Utilizados para combaterem pragas, os cocktails de pesticidas usados na agricultura estão a provocar efeitos nefastos nos organismos que regeneram o ecossistema terrestre e, por isso, a porem em causa a saúde dos solos nacionais. Esta é a principal conclusão do trabalho de uma equipa de biólogos da Universidade de Aveiro (UA) que analisou os efeitos de misturas de pesticidas utilizadas em larga escala, não só no país como por toda a Europa, em organismos que, não sendo o alvo a abater, sofrem danos por acção dos químicos. 
Sem eles, e por consequência sem o papel crucial que desempenham na decomposição da matéria orgânica e na redistribuição dos nutrientes, os solos agrícolas não se conseguem manter saudáveis.

Os investigadores apontam o dedo a uma legislação que apenas regula a utilização individual de cada químico ignorando a mistura de pesticidas, uma prática normal no sector agrícola e que potencia o efeito tóxico dos compostos utilizados.

“Já testámos vários tipos de pesticidas aplicados amplamente em todo o país e na Europa e verificámos que eles produzem efeitos muito mais nefastos do que seria à partida previsível”,aponta Susana Loureiro, investigadora no Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA.

A coordenadora da equipa diz que organismos como bichos-de-conta, minhocas e outros invertebrados benéficos para o solo sofrem danos ao nível do sistema nervoso central e devido a stress oxidativo, acabando por morrerem ao fim de algumas horas de exposição a misturas de moluscicidas, vulgarmente chamados de “remédio dos caracóis”. Este não seria um efeito previsto, tendo em conta que são organismos não alvo dos moluscicidas.

A equipa, que estuda há vários anos o efeito dos químicos usados na agricultura, tem igualmente verificado que há vários compostos químicos que induzem efeitos que se prolongam ao longo de várias gerações desses organismos, podendo dar origem ao colapso de populações.

“Nos solos agrícolas há décadas que se utilizam cocktails químicos perigosos e imprevisíveis sobre os quais a legislação em vigor em Portugal e na Europa nada diz”, afirma Susana Loureiro.

“Numa prática agrícola comum temos aplicações de inseticidas, fungicidas, moluscicidas ou herbicidas temporalmente simultâneos ou desfasados no tempo, que podem induzir aditividade de efeitos ou mesmo potenciação de toxicidade. Nestes casos a legislação em vigor é omissa”,sublinha.

Amostras de bichos-de-conta estudados na Universidade de Aveiro
Amostras de bichos-de-conta estudados na Universidade de Aveiro
Para além disso, na Europa a directiva dos solos continua “na gaveta” e “Portugal parece ainda não ter a percepção das potencialidades científicas que tem gerado ao longo dos anos nesta área dos solos, nomeadamente na componente da avaliação ecotoxicológica”.

E ainda, explica Susana Loureiro, “tendo em conta que diferentes tipos de solos, com diferentes características, fazem variar a componente biodisponível dos químicos presentes, e consequentemente a sua toxicidade e perigosidade, torna-se crucial que cada país ajuste e transponha, de uma forma adequada, a política nacional para a qualidade de solos”.

Para além disso, “é urgente a criação de um plano de monitorização ambiental para manter a qualidade dos solos e dos serviços que esses solos nos proporcionam quer na Europa quer em Portugal”.

Organismos benéficos afectados pelos compostos químicos

“Os invertebrados como minhocas ou bichos da conta contribuem para a reciclagem de nutrientes, decompondo a matéria orgânica e incrementado igualmente a diversidade de fungos e bactérias necessárias aos processos de decomposição”, explica Susana Loureiro.

Por outras palavras, os organismos que sofrem efeitos colaterais da mistura dos pesticidas,“promovem a função de reciclagem de nutrientes, quer directamente, pelo fraccionamento vegetal, quer indirectamente, através do estímulo das comunidades microbianas” que decompõe a matéria orgânica.

Utilizando como exemplo as minhocas, fortemente afectadas pela acção dos químicos, Susana Loureiro aponta que “estas aumentam o arejamento dos solos e promovem uma relação simbiótica entre fungos e raízes de plantas o que permite o aumento da absorção de nutrientes por parte da planta”. Por isso, “os pesticidas ao afectarem estes organismos, todo o ecossistema edáfico será afectado na sua estrutura e função, diminuindo consequentemente a qualidade do solo e, por isso, a respectiva produtividade”.