segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vacina experimental contra HIV

A equipa de investigadores do Serviço de Doenças Infecciosas e Sida do Hospital Clínico de Barcelona apresentou ontem resultados encorajadores do estudo realizado com uma vacina terapêutica contra o HIV (vírus da imunodeficiência humana). Os testes foram realizados em 36 pacientes que estavam a seguir a terapia anti-retroviral. Em 95 por cento dos casos, houve uma redução significativa (mais de três vezes) de carga viral. Estes efeitos positivos começam a diminuir após 12 semanas, para desaparecerem completamente ao fim de um ano de aplicação. Os resultados estão publicados na «Science Translational Medicine». “A vacina não cura os pacientes. O vírus torna-se resistente aos anti-retrovirais passado algum tempo e o que nós queremos é uma cura funcional”, explica Felipe García, co-autor do estudo. O objectivo dos investigadores é aperfeiçoar uma vacina que seja capaz de controlar indefinidamente a replicação do vírus. Seria uma alternativa viável aos cocktails anti-retrovirais de elevado custo. Para criarem a vacina, os investigadores utilizaram as células dendríticas das pessoas infectadas e contaminaram-nas com parte do vírus do próprio paciente desactivadas em laboratório. Estas células foram depois reincorporadas no corpo do paciente; chegando aos gânglios linfáticos, alertaram o sistema imunitário da existência do HIV, sendo desencadeada uma resposta imunitária. Para já, esta vacina não vai substituir os tratamentos existentes, visto que depois do efeito inicial o vírus volta a atingir os mesmos níveis. “Esta vacina não é um produto comercializável. Apesar de ser cientificamente importante, terá de ser complementada e optimizada antes de ser comercializada”, explicou Josep Maria Gatell, que dirige a equipa de investigadores, acrescentando que só é aceitável uma vacina que torne a carga retroviral indectável. Esta descoberta abre caminho a estudos complementares. A cura procurada não tem de ser necessariamente a erradicação total do vírus, mas sim um controlo efectivo da sua replicação durante longos períodos ou por toda a vida, sem necessidade de se recorrer a outros tratamentos. Artigo: A Dendritic Cell–Based Vaccine Elicits T Cell Responses Associated with Control of HIV-1 Replication

Há maior dependência de álcool em quem foi exposto em idade jovem

Uma equipa de investigadores franceses, do INSERM, provou em ratos que uma vez expostos precocemente ao álcool, em idade adulta estão extremamente motivados para o seu consumo abusivo. Os resultados do estudo foram publicados na revista «Neuropharmacology». Para a investigação, os animais foram expostos a sucessivas intoxicações alcoólicas, quando se encontravam num período de viva ainda jovem – 30 a 40 dias após o seu nascimento. O regime incluía bebidas com graus de álcool variáveis, dependendo do peso e da idade do roedor e estava contido em biberões cuja abertura dependia de uma alavanca que seria accionada pelo próprio animal. Mais tarde, quando perante os biberões, os ratos adultos que consumiam álcool desde tenra idade, apoiavam duas vezes mais na alavanca do que os restantes animais para obterem a bebida. Em experiências seguintes, os cientistas aumentaram o número de pressões na alavanca para que o líquido fosse libertado, passando para três vezes, cinco e depois oito. A equipa constatou que os ratos mais motivados e que nunca desistiam eram os que se tinham iniciado na bebida em idade mais jovem. Os investigadores demonstraram que uma região no cérebro, chamada de núcleo accumbens – uma estrutura ligada à sensação de prazer e de comportamentos dependentes –, reage de forma diferente, a longo prazo, a cada exposição de bebidas alcoólicas nos animais que começaram a beber precocemente. O estudo vem confirmar suspeitas clínicas constatadas no homem, ou seja, os mais vulneráveis ao álcool são os que se iniciaram em idade mais jovem.

Molécula do mosquito da malária abre portas

Molécula do mosquito da malária abre portas à criação de anticoagulantes mais eficazes Equipa do IBMC decifrou o mecanismo de acção da anophelin produzida pelo mosquito Anopheles 2013-01-04 Por Luísa Marinho Pedro Pereira, do IBMC, dirigiu a investigação Uma equipa de investigadores do IBMC (Instituto de Biologia Molecular e Celular) decifrou o mecanismo de acção da molécula anophelin, produzida pelo mosquito Anopheles (agente transmissor da malária) e responsável por evitar a coagulação do sangue do hospedeiro, enquanto se alimenta. A investigação, dirigida por Pedro Pereira, e feita em parceria com equipas de Espanha e França, está publicada na «Proceedings of the National Academy of Sciences» (PNAS). Esta descoberta “pode permitir o desenvolvimento de moléculas em laboratório que tenha função anticoagulante, para tratar de doenças trombóticas”, explicou o investigador ao «Ciência Hoje». Apesar de não ser a única molécula com propriedades anticoagulantes, “a anophelin é mais pequena e simples do que as outras, sendo ao mesmo tempo bastante eficaz. Esta eficácia só tinha sido observada em moléculas muito maiores”, diz. Não sendo da competência da sua equipa, como o próprio admite, o desenvolvimento de uma molécula sintética baseada nesta para fins terapêuticos, é uma possibilidade, pois sendo pequena é mais fácil de imitar por compostos concebidos artificialmente. A vantagem deste tipo de molécula em relação a outros fármacos utilizados como anticoagulantes é que estes não actuam directamente sobre o processo de coagulação, enquanto “a molécula actua na última enzima da cascata de coagulação, sendo assim mais eficaz, mais segura e não apresentando tantos efeitos secundários”. A autoria deste trabalho é repartida por várias equipas internacionais, de onde se destacam grupos da Universidade Pompeu Fabra, do Hospital de Sant Pau de Barcelona e do European Synchrotron Radiation Facility (Grenoble).

Melro-preto é principal portador da bactéria

A bactéria Borrelia burgdorferi encontra-se em reservatórios vertebrados que são pequenos mamíferos, répteis e também as aves. Quando uma carraça pica uma ave que tenha a bactéria, pode ficar infectada. Posteriormente, a carraça, especialmente a Ixodes ricinus, ao picar o homem pode transmitir-lhe a bactéria que é a responsável pela borreliose de Lyme, uma doença que, se não for tratada no estádio inicial, provoca lesões graves no sistema neurológico, dermatológico e articular. “No estudo verificámos quais eram as aves que estavam mais infestadas por carraças ou seja que eram as hospedeiras mais importantes das carraças, que são o vector da doença”, explica Cláudia Norte, coordenadora do estudo que incluiu cinco investigadores da Universidade de Coimbra, do Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e da Universidade de Neuchâtel (Suíça). Entre as 20 espécies de aves analisadas, o melro-preto e o pisco-de-peito-ruivo eram os mais infestados por carraças. “No pisco-de-peito-ruivo não detectei nenhuma carraça infestada com a bactéria Borrelia burgdorferi. Contudo, as carraças encontradas no melro-preto estavam infectadas, portanto é a espécie de ave que parece ter um papel mais importante no ciclo da bactéria na natureza”, pormenoriza a investigadora. As colheitas de amostras foram feitas mensalmente para avaliar as variações sazonais. A investigação liderada por Claudia Norte foi pioneira em Portugal porque “havia pouca informação acerca da ecologia da bactéria que causa a doença”, diz a investigadora. A este motivo juntou-se um outro que se prende com a existência no país a Borrelia lusitania, uma estirpe rara desta bactéria. “Até ao momento não tinham sido estudados os reservatórios dessa estirpe em particular. Havia alguma indicação de que podiam ser as aves os reservatórios, e como o meu background é trabalho com aves, resolvi fazer esse estudo”, comenta Cláudia Norte. A investigadora não detectou Borrelia lusitania nas aves analisadas o que leva a concluir que, dentro das espécies estudadas, “as aves não são importantes reservatórios de Borrelia lusitania”. O trabalho desenvolvido ao longo de um ano permitiu ainda detectar a presença em Portugal da estirpe B. turdi, que se julgava muito circunscrita geograficamente. “A nova estirpe tinha sido detectada apenas no Japão. Estudos muito recentes, de 2011 e 2012 detectaram a B.Turdi na Noruega, também associada às aves, e em Espanha. Agora verificamo-la também em Portugal. Parece haver uma distribuição geográfica muito maior do que se pensava”, adianta Cláudia Norte. A borreliose de Lyme foi detectada pela primeira vez em Portugal em 1989. Desde então surgem anualmente 35 novos casos. As aves foram recolhidas na Tapada de Mafra e na Mata do Choupal. A equipa recolheu amostras de sangue e de outros tecidos e de carraças que estivessem a parasitar as aves. Foi feita uma avaliação molecular para detectar a bactéria Borrelia burgdorferi. Cláudia Norte sublinha a importância deste estudo porque borreliose de Lyme “é uma doença emergente que está a aumentar em área geográfica e é preciso estudar cada um dos aspectos do ciclo da bactéria causadora da doença”. A terminar, a entrevistada deixa um conselho: “O uso de roupas claras para um passeio no campo ou em matas, onde normalmente existem carraças, e o cuidado de verificar se alguma carraça se alojou no corpo. Em caso afirmativo, retirá-la o mais rapidamente possível porque a bactéria demora algumas horas a passar efectivamente para o homem. Após a picada, se a doença não for devidamente tratada com antibiótico, numa fase inicial, a bactéria pode disseminar-se pelo organismo e provocar lesões graves aos níveis neurológico, cardíaco e articular”.

Ligação entre exposição pesticida

Ao longo das últimas décadas, neurologistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) têm-se dedicado a estudar a ligação existente entre pesticidas a doença neurodegenerativa Parkinson. Até à data foi já demonstrado que os químicos paraquat, maneb e ziram, espalhados com frequência no Vale Central californiano, estão relacionados com o aumento da doença, não só entre os agricultores como em outros indivíduos que habitam ou trabalham perto dos campos. Agora, os investigadores descobriram uma ligação entre Parkinson e outro pesticida, o benomyl, cujos efeitos tóxicos ainda se fazem sentir, 10 anos após este químico ter sido proibido pela Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos. A exposição ao benomyl dá início a uma série de eventos a nível celular que pode levar ao desenvolvimento de Parkinson. O pesticida impede a enzima ALDH (aldeído desidrogenase) de 'tapar' a DOPAL, uma toxina que ocorre naturalmente no cérebro. Quando deixa de ser controlada pela ALDH, a DOPAL acumula-se, provocando danos nos neurónios e aumentando o risco de um indivíduo poder desenvolver Parkinson. Mas as descobertas conseguidas com este estudo não se aplicam apenas a doentes de Parkinson que estiveram expostos ao pesticida. Os eventos celulares descritos ocorrem em pessoas que não tiveram contacto com o benomyl. Assim, a descoberta pode permitir o desenvolvimento de novos fármacos que protejam a actividade da ALDH. Seria dessa forma possível atrasar a progressão da doença. Os resultados da investigação estão publicados na «Proceedings of the National Academy of Sciences». Artigo: Aldehyde dehydrogenase inhibition as a pathogenic mechanism in Parkinson disease

Frutose pode estar associada ao aumento de peso

O estudo norte-americano alerta para as consequências nefastas para a saúde do consumo regular de alimentos com frutose que pode levar “a um aumento do risco de doenças cardiovasculares e deposição de lípidos da obesidade”, explica Pedro Graça. O professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade de Porto comenta o estudo a pedido de Ciência Hoje. A frutose é um açúcar obtido de frutas, mel, de alguns cereais e vegetais e do xarope de milho adicionado a alimentos processados. A sua utilização começou a ser feita nos anos 70 no século passado sobretudo em alimentos para diabéticos “porque a frutose é muito bem absorvida pelo fígado e aparentemente estimula muito menos a produção de insulina em relação a outros açúcares”, adianta o também nutricionista. O estudo dirigido por Carroll Kathleen da Universidade de Yale (Estado Unidos da América), e publicado no The Journal of The American Association (JAMA), alerta agora para a possibilidade da frutose aumentar o apetite porque o seu consumo reduz os níveis de sangue na região do cérebro (hipotálamo) que regula a sensação de saciedade. Pedro Graça comenta que “o efeito da frutose no apetite é controverso. Há alguns estudos que têm dito que a ingestão da frutose por si só reduz a ingestão dos alimentos. Contudo, a frutose misturada com uma refeição mais complexa provém menos saciedade e a pessoa continua a comer mais do que seria necessário”. A comunidade científica começa assim a considerar que a frutose pode induzir ao aparecimento de problemas cardíacos, dislipidemias e problemas de obesidade. O professor sublinha contudo que “não há evidências concretas e que o consumo isolado da frutose poderá não causar problemas”. A frutose está presente em sumos de fruta, refrigerantes, algumas pastas, bolos com coberturas cremosas, entre outros produtos.

Dieta rica em fibra pode impedir

Uma dieta rica em fibra pode ajudar a controlar a progressão do cancro de próstata em fases mais precoces da doença, segundo revela um estudo da Universidade do Colorado, nos EUA, publicado recentemente na «Cancer Prevention Research» e cuja imagem da investigação se tornou capa da publicação. A taxa de ocorrência de cancro da próstata em culturas asiáticas é semelhante à das culturas ocidentais; no entanto, no Ocidente, a doença tende a progredir e na Ásia não. Os investigadores consideram que a resposta pode ser uma dieta rica em fibras. Para a investigação, Komal Raina e os seus colegas alimentaram dois grupos de ratos, uns com hexafosfato de inositol (IP6), um dos principais componentes de dietas ricas em fibra e outro grupo de controlo que não recebeu o composto e monitorizaram os animais através de ressonância magnética. Os resultados mostraram uma redução drástica no volume do tumor, devido aos efeitos antiangiogénicos do IP6, segundo os investigadores que afirmam que “a alimentação com o ingrediente activo de uma dieta rica em fibras impediu os tumores da próstata de criar novos vasos sanguíneos necessários para abastecê-los com energia e sem esta o tumor não pode crescer". Os mecanismos possíveis para os efeitos da IP6 contra o metabolismo incluem a redução de uma proteína chamada GLUT-4, que é fundamental para o transporte de glicose. No entanto, a equipa continua a fazer mais estudos e a procurar variações genéticas entre povos asiáticos e ocidentais que poderiam explicar a diferença nas taxas de progressão deste tipo de tumor.