segunda-feira, 9 de junho de 2014

Investigadores portugueses estudam proteínas envolvidas em patologias humanas

Investigadores das universidades de Lisboa e de Harvard estudam as origens microscópicas, com recurso a simulação computacional, de uma patologia fatal - a amiloidose relacionada com a diálise - e que afecta doentes com insuficiência renal grave.

A amiloidose relacionada com a diálise manifesta-se na maior parte dos pacientes com mais de dez anos de hemodiálise - 700 il em todo o mundo. Os cientistas esperam compreender a génese molecular da patologia e dessa forma encontrar uma solução para estes doentes. A doença conformacional caracteriza-se pela inflamação e posterior destruição do tecido osteoarticular em consequência da deposição nesses tecidos de fibras amiloides da proteína beta-2-microglobulina (b2m).

O artigo “A Simulated Intermediate State for Folding and Aggregation Provides Insights into ΔN6 β2-Microglobulin Amyloidogenic Behavior”publicado em maio na PLoS Computational Biology, a revista mais prestigiada na área da Biologia Computacional, resulta da investigação que juntou cientistas do grupo Protein Folding do Centro de Física da Matéria Condensada da Universidade de Lisboa (CFMCUL); do grupo Molecular Modelling and Simulation, integrado no grupo de Química Inorgânica e Teórica do Centro de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; e da Universidade de Harvard.
“À medida que o tempo foi passando (e passou muito tempo desde que iniciámos a recolha de dados!) fomos obtendo resultados interessantes e consistentes o que contribuiu fortemente para nos encorajar a continuar um projecto que sabíamos a priori ir ser longo. Quando terminámos a análise final de todos os resultados (correspondentes a um ano e meio de cálculos computacionais) ficámos muito satisfeitos porque ficou claro que tínhamos ali uma ‘história’ científica superinteressante alicerçada num trabalho científico de grande qualidade”, diz Patrícia F. N. Faísca, professora do Departamento de Física da FCUL, líder do grupo Protein Folding do CFMCUL e uma das autoras do artigo.

O estudo, iniciado em Janeiro de 2012, explora a fase inicial do mecanismo de amiloidogénese das duas formas da proteína b2m: a wild-type e a DN6, uma variante truncada.

Miguel Machuqueiro (grupo de Química Inorgânica e Teórica) e Diogo Vila-Viçosa (no terceiro ano do doutoramento em Bioquímica Teórica no grupo de QIT-CQB-FCU)
Miguel Machuqueiro (grupo de Química Inorgânica e Teórica) e Diogo Vila-Viçosa (no terceiro ano do doutoramento em Bioquímica Teórica no grupo de QIT-CQB-FCU)
Essas duas formas da b2m são encontradas nas fibras amiloides extraídas de doentes post-mortem.

A fisiologia da amiloidose relacionada com a diálise caracteriza-se por um ligeiro abaixamento de pH (de 7 para 6.2) do líquido sinovial destes doentes.

Os resultados alcançados pelos investigadores são importantes pois encontraram uma explicação microscópica para o aumento do potencial amiloidogénico da DN6-b2m com o abaixamento de pH, conseguindo esclarecer porque é que a amiloidose é mais eficaz precisamente nos locais onde se acumula a proteína e onde a inflamação faz baixar o pH. Actualmente, a equipa interdisciplinar estuda uma nova mutante da beta-2-microglobulina com interesse biomédico e os resultados obtidos até à data são bastante promissores.

Sobrevivência das vítimas de cancro oral é inferior a 50% Investigação analisou situação na Região Norte

A Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU) apresenta os mais recentes dados relativos à sobrevivência no cancro oral na região norte de Portugal.É um trabalho que não reflecte apenas os dados de um só hospital, mas de toda a região. “Estudo de sobrevivência de cancro oral da população do norte de Portugal” é o nome desta investigação da CESPU, em parceria com o RORENO do IPO-Porto e o King’s College, em Londres, que apresenta a sobrevivência tendo em conta os estádios da doença, comparando os tipos de cancro da boca mais relacionados com tabaco ou com infeções pelo vírus do papiloma humano (HPV).
O estudo levado a cabo pela CESPU revela que a solução para alterar estes números é o diagnóstico das vítimas ainda num estádio inicial da doença e que as campanhas de sensibilização e prevenção, assim como rastreios ou programas de detecção precoce de cancro oral, têm um papel fundamental.

Luís Monteiro, docente da CESPU responsável por este novo estudo, participou já numa investigação anterior que decorreu entre 1998 e 2007, apresentada em 2013, e que concluiu que Portugal é um dos países na Europa com mais casos de cancro do lábio e cavidade oral no sexo masculino.
Desenvolvida também pela CESPU em parceria com o RORENO do IPO-Porto e o King’s College, em Londres, essa investigação concluiu ainda que foram detectados nesse período em Portugal 9623 casos de cancro oral, 7565 em homens e 2058 em mulheres, tendo a patologia aumentado a um ritmo de 4% ao ano nas mulheres. Este crescimento revelou-se sobretudo em zonas da boca relacionadas com o vírus do papiloma humano (HPV), consequência de hábitos sexuais.

Investigador da UA estudou variabilidade na dose de radiação utilizada em exames mamográficos

Investigador da UA estudou variabilidade na dose
de radiação utilizada em exames mamográficos

Milton Santos, docente da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESSUA), conclui, num trabalho que constitui parte da dissertação de doutoramento na Secção Autónoma das Ciência da Saúde da UA, que há uma variabilidade significativa em termos de dose de radiação a que os pacientes são sujeitos em duas unidades hospitalares aquando da realização de exames mamográficos. O estudo foi apresentado e reconhecido no European Congress of Radiology 2014 da Sociedade Europeia de Radiologia.
Milton Santos apercebeu-se de um problema simultaneamente clínico e de gestão de processos que poderá, por falta de controlo de qualidade adequado e mais informado, configurar situações de risco de saúde pública. Assim, no âmbito do seu trabalho de doutoramento, realizou estudos de controlo de qualidade em procedimentos radiológicos de elevada incidência em diversas instituições, o que resultou numa metodologia de análise do exercício profissional em Imagiologia passível de ser utilizada em diferentes unidades de saúde.

De entre os trabalhos realizados conduziu o estudo “DICOM metadata-mining in PACS for Computed Radiography X-Ray Exposure Analysis - A Mammography Multisite Study”, envolvendo uma equipa multi-disciplinar.

Trata-se de um estudo de análise de desempenho usando instrumentos de análise de dados concebidos por investigadores do Instituto de Engenharia Electrotécnica e Telemática da UA (IEETA-UA).

Nos exames mantidos em arquivos de imagem médica digitais das unidades hospitalares é possível identificar parâmetros, como o índice de exposição, a quantidade de radiação utilizada, o tipo de exame, entre vários outros que, depois, poderão ser analisados.

A metodologia utilizada permite a comparabilidade desses parâmetros, independentemente dos equipamentos e sistemas de informação utilizados nas diferentes unidades hospitalares.

Três em cada quatro pessoas não sabem que estão em risco de desenvolver Zona

ete em cada dez indivíduos afirmam “já ter ouvido falar” da Zona, mas revelam grande desconhecimento em relação à doença. Mais concretamente, 75% não sabem que estão em risco de vir a desenvolver a doença, seis em cada dez desconhecem que a Zona é causada pela reactivação do vírus da varicela e 80% não sabem que a Zona pode ser prevenida. Estes são os principais resultados do inquérito “Zona e sua prevenção – O que sabem os Portugueses”, promovido pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), que teve como objectivo perceber o grau de conhecimento dos portugueses em relação à doença Zona. O inquérito revela ainda que apenas 11% sabem que 1 em cada 4 pessoas irá desenvolver Zona ao longo da vida e 79% não sabem que o risco de um episódio de Zona mais do que duplica a partir dos 50 anos. No que respeita ao impacto que a Zona poderá ter na vida de uma pessoa, 43% desconhecem que a Zona pode provocar dor intensa com profundo impacto em termos de qualidade de vida.
Quando questionados sobre as causas da doença, 45% afirmam não saber as razões que dão origem à Zona, ainda assim 37% conseguem associar a reactivação do vírus da Varicela como causa da doença e 35% associam a dor crónica (durante meses ou anos) na área afectada, como a principal complicação da Zona.
Mais de metade não sabe como se trata a doença e o médico de família é o especialista de eleição a quem recorreriam num caso de suspeita de Zona.
Outro dado interessante prende-se com o facto de cerca de metade conhecer pessoas que já tiveram a doença.Oito em cada dez dos inquiridos não sabem que a Zona pode ser prevenida e apenas 10% referem a existência de uma vacina como forma de prevenção. Quando questionados sobre o interesse em se vacinar, apenas 3% dos inquiridos afirmam não ter interesse na vacinação e 65% gostariam de receber mais informação.
Recorde-se que a primeira e única vacina para a prevenção da zona está disponível em Portugal desde abril de 2014 para indivíduos acima dos 50 anos, mediante prescrição médica. A vacina está a ser administrada nos Estados Unidos desde 2006, no Canadá desde 2009 e desde 2013 faz parte do Programa Nacional de Vacinação do Reino Unido. Conta com mais de 20 milhões de doses já distribuídas desde o lançamento.

Malária e Dengue podem voltar à Europa

A possibilidade de (re)introdução de doenças como a dengue e a malária no espaço europeu foi motivo de análise no encontro da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) sobre doenças transmitidas por vetores. Médicos e outros profissionais da saúde debateram estratégias integradas para o controlo vetorial e a implementação de medidas de saúde pública adequadas.

Segundo a OMS mais de metade da população mundial pode estar em risco de contrair doenças transmitidas por vectores, causa de 1/3 da mortalidade mundial. Apesar de ocorrerem habitualmente em áreas tropicais e subtropicais nos últimos anos assiste-se à sua disseminação para outras áreas geográficas. Esta propagação deve-se a vários factores, nomeadamente o aumento das viagens e comércio internacional, a introdução de novas práticas agrícolas, a evolução sócio demográfica da população, as migrações, as alterações climáticas e, actualmente, à crise que a Europa atravessa.

Segundo António Tavares, Delegado Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a crise veio acentuar a pobreza e a criação de novos pobres o que “provoca, por falta de capacidade económica, a privação de certas necessidades básicas como os cuidados de saúde".
Esta situação cria uma maior propensão para certas doenças, uma sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde e a uma incapacidade de reposta dos profissionais a todos os grupos mais vulneráveis.António Tavares, sublinha, no entanto, que “ um maior aprofundamento do que se está a passar, contribui para uma maior cultura de saúde, sobretudo me zonas limite em que a saúde se articula com outras áreas sociais.”

Os vectores transmitem a infecção através de picada quando eles próprios são portadores de vírus e parasitas. Os mais comuns são os mosquitos (de várias espécies), mosca da areia e carraças. Apenas uma picada pode transmitir doenças como malária, dengue, chikungunya, febre do Nilo Ocidental, leishmaniose, doença de Lyme, febre amarela, encefalite japonesa, entre outras.

De acordo com Maria João Martins, Coordenadora da Unidade de Saúde Pública de Lisboa Central, “muitas doenças são transmitidas por vectores que se não forem devidamente controlados, podem fazer-se levar em transportes internacionais e multiplicar-se, representando um risco para tripulantes, passageiros e propagando doenças noutros países.”
 Maria João Martins explica ainda que “todos os transportes devem ser mantidos isentos de vectores utilizando, para isso, os métodos e materiais recomendados pela OMS.”

A monitorização destas doenças é uma preocupação habitual da Direcção-Geral da Saúde (DGS), de outras Instituições do Ministério da Saúde (tais como o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge - INSA) ou de centros de investigação portugueses como o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) ou o Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Francisco Cambournac (CEVDI).
Também o INSA coordena a Rede de Vigilância de Vectores (REVIVE), que, de acordo com Fernanda Santos, do INSA/CEVDI, tem “como principal objectivo melhorar o conhecimento sobre as espécies de vectores presentes no país, vigiar a sua distribuição e actividade sazonal, contribuindo para o esclarecimento do seu papel como agentes de transmissão da doença e detectar atempadamente a introdução de espécies invasoras com importância em saúde pública, assim como emitir alertas para a adequação das medidas de controlo.”

No seguimento do surto de febre de dengue que teve início em 3 de Outubro de 2012 na Região Autónoma da Madeira, tornou-se clara a necessidade de garantir o aconselhamento especializado da população e dos profissionais de saúde, aprofundar a transmissão de conhecimentos científicos sobre esta matéria e estabelecer medidas de controlo e prevenção que permitam minimizar o impacto destas doenças na saúde pública. A Dengue é a doença tropical emergente mais importante, infecta entre 50 a 100 milhões de pessoas por ano e a mortalidade ronda os 2,5-5%.

Outra doença que importou salientar foi a de Lyme, a principal doença vectorial do Hemisfério Norte. Segundo, Fernanda Santos, Coordenadora da Unidade de Saúde Pública do Alentejo Litoral,“surgem 85 mil casos/ano, e em Portugal, morreram 44 pessoas, nos últimos seis anos. No que toca à malária, que mata 750 mil pessoas/ano a nível mundial, em Portugal existe o vector e o hospedeiro, mas falta-lhe o parasita.

Investigação desenvolvida na Faculdade de Ciências Médicas da Nova vence prémio internacional Mereceu distinção nas revistas científicas New Scientist e Diabetes

O projecto “Role of carotid body in the development of metabolic disturbances”, desenvolvido no laboratório liderado por Sílvia Conde, do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa (CEDOC-FCM-NOVA), foi publicado na revista Diabetes, garantindo a distinção a Maria João Ribeiro, estudante de Doutoramento no Laboratório de Sílvia Conde, com o prémio EPHAR YOUNG INVESTIGATOR AWARDS 2014.
É a primeira vez que este prémio é atribuído a um investigador português. Trata-se de uma distinção concedida pela Federação das Sociedades Europeias de Farmacologia, concedido ao melhor artigo científico publicado por um jovem investigador europeu na área da farmacologia.

Este projecto foi também capa da revista de divulgação científica New Scientist, de Fevereiro de 2014.A equipa de investigação de Sílvia Conde descobriu recentemente que o corpo carotídeo – um quemoreceptor periférico, que faz a detecção de inúmeros estímulos, tais como hipoxia e hipercapnia – também está envolvido na detecção dos níveis de insulina, sendo activado em resposta aos incrementos na actividade do sistema nervoso simpático, contribuindo para processos de resistência à insulina e hipertensão (Ribeiro et al., 2013, Diabetes, 62: 2905).

Em colaboração com a companhia farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK), esta equipa do CEDOC-FCM-NOVA está a desenvolver um projecto que pretende identificar os circuitos neurais envolvidos na resistência à insulina. A completa caracterização das vias neurais envolvidas na etiologia da diabetes de tipo 2, assim como de outros distúrbios metabólicos, permitirá o desenvolvimento de aparelhos bioeletrónicos que detectam, registam e regulam a actividade neuronal, quando esta se encontra em desequilíbrio.

Cigarros electrónicos "ajudam os fumadores a deixarem de fumar"

Um extenso estudo realizado em Inglaterra descobriu que os fumadores que estão a tentar deixar o tabaco têm mais chances de conseguir quando utilizam os cigarros electrónicos em lugar de outras terapias substitutivas.

Pesquisadores da University College de Londres entrevistaram seis mil fumadores que tentavam deixar de fumar sozinhos sem contar com a ajuda de profissionais do sector da saúde. Aproximadamente um quinto das pessoas que afirmou usar e-cigarros havia deixado de fumar quando a pesquisa foi feita. Em comparação com esses resultados, apenas um décimo das pessoas consultadas havia deixado de fumar com a ajuda de adesivos e gomas de nicotina. Esses resultados oferecem provas encorajantes a favor dos e-cigarros no debate que se está a produzir sobre os riscos e benefícios que têm esses dispositivos cada vez mais populares.

“Isto não acabará com a controvérsia em torno dos e-cigarros”, disse Thomas J. Glynn,pesquisador da Sociedade Americana Conta o Cancro, “mas é uma prova de que os e-cigarros podem ser uma grande ajuda para que algumas pessoas deixem de fumar, ainda que não seja um método revolucionário”.Os autores do estudo britânico disseram que consideraram muitos outros factores, incluindo a classe social, idade, nível de dependência da nicotina e o tempo que se passou desde a primeira vez em que tentaram deixar de fumar. Afirmaram também que o estudo, um dos maiores realizados até à data sobre este assunto, oferece dados muito valiosos relacionados com as experiências reais que os fumadores tiveram.

O uso dos cigarros electrónicos tem aumentado rapidamente em toda a Europa e nos Estados Unidos e órgãos reguladores estão a tentar averiguar como devem agir, uma vez que não há provas a longa prazo sobre os efeitos que provocam na saúde. Em Portugal o cenário não é diferente. Houve um grande aumento do número de lojas e usuários destes dispositivos no último ano no país.

Segundo VAPO.pt, uma das lojas online líderes destes dispositivos na Europa, ainda que os meios de Comunicação desprestigiem o sector, agora deve-se observar um crescimento natural do mercado interessado por este produto, que muitos crêem ser mais efectivos do que qualquer outro para deixar de fumar.