terça-feira, 23 de agosto de 2011

E. coli transgénica poderá limpar água com mercúrio

Segundo um estudo da Universidade Interamericana de Porto Rico, bactérias transgénicas, que suportam altas doses de mercúrio, poderiam ser a solução para limpar áreas contaminadas com este metal.

O investigador Oscar Ruiz e os seus colegas consideram que as bactérias transgénicas criadas por eles em laboratório poderão ser uma alternativa às custosas técnicas de descontaminação adoptadas actualmente. Recorde-se que o mercúrio, que pode entrar na cadeia alimentar, é muito tóxico, sobretudo na forma de metilmercúrio, para humanos e animais.

Estes organismos unicelulares são capazes de proliferar numa solução com 24 vezes mais a dose mortal de mercúrio para bactérias não resistentes. Os organismos transgénicos conseguiram absorver em cinco dias 80 por cento do mercúrio contido no líquido, segundo estudo publicado na BMC Biotechnology.

A Escherichia coli tornou-se resistente a altas concentrações de mercúrio, graças à inserção de um gene que permite a produção de metalotioneína, proteína que desempenha um papel de desintoxicante no organismo de ratos. As bactérias transgénicas demonstraram, no estudo, serem capazes de extrair mercúrio de um líquido e este poderá ser utilizado em novas aplicações industriais

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=50539&op=all



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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Excesso de álcool é mais prejudicial para as raparigas Danos neuronais podem provocar problemas de orientação 2011-07-18

Beber álcool em excesso, de uma só vez, pode danificar parte do cérebro que controla a memória e a percepção espacial dos adolescentes, revela um estudo publicado na revista “Alcoholism: Clinical and Experimental Research”.

Além disso, estes danos – que podem resultar em problemas ao conduzir, praticar desportos que exijam movimentos complexos, usar mapas ou no sentido de orientação - são maiores nas raparigas do que nos rapazes, visto que os seus cérebros desenvolvem-se mais cedo, comparativamente aos do sexo oposto.

O estudo foi realizado por investigadores de várias universidades americanas que fizeram testes neuro-psicológicos e de memória espacial a 95 adolescentes entre os 16 e os 19 anos.

Neste grupo, 40 dos voluntários - 27 rapazes e 13 raparigas – revelaram beber muito de uma só vez , sendo que, em média, os do sexo feminino consumiam mais de um litro e meio de cerveja ou quatro copos de vinho e os do sexo masculino bebiam mais de dois litros de cerveja ou uma garrafa de vinho.

Estes testes foram ainda repetidos com 31 rapazes e 24 raparigas que não bebiam em grandes quantidades, para que os resultados pudessem ser então comparados.

Os investigadores recorreram a aparelhos de ressonância magnética e constataram assim que as adolescentes que bebiam em excesso tinham menos actividade em várias áreas do cérebro do que as que não bebiam, durante o mesmo teste de percepção espacial.

Para Susan Tapert, professora de psiquiatria na Universidade da Califórnia e líder do estudo, estas diferenças na actividade cerebral podem afectar negativamente outras funções, como a concentração e o tipo de memória a que se recorre para fazer cálculos, o que também influencia o pensamento lógico e a capacidade de raciocínio.

Já os jovens rapazes não parecem ter sido afectados da mesma forma, de acordo com Tapert. "Os adolescentes que bebiam demais mostraram alguma anormalidade, mas menos, em comparação com os rapazes que não bebiam”, explicou a investigadora, acrescentando que “o sexo feminino é particularmente vulnerável aos efeitos negativos do excesso de álcool".
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Alergias podem proteger de alguns cancros Estudo sustenta teoria da “vigilância imunitária”

O sistema imunitário de pessoas com alergias de contacto pode estar mais preparado para se proteger de alguns tipos de cancro, como o da mama e da pele (excepto o melanoma), de acordo com um novo estudo divulgado no “BMJ Open”.

Este tipo de alergias pode ocorrer quando há uma reacção alérgica devido ao contacto directo com alguns metais, medicamentos tópicos, perfumes e outros cosméticos e manifestam-se por comichão, vermelhidão e borbulhas ou pequenas feridas e crostas na pele. Estas reacções não são imediatas. Surgem um ou dois dias após o contacto e não ocorrem pela primeira vez que se contacta com a substância, sendo habitualmente necessárias várias exposições até o indivíduo se tornar alérgico.
Neste estudo, os investigadores analisaram 17 mil adultos dinamarqueses, entre 1984 e 2008, e constataram que um terço dos participantes possui, pelo menos, um tipo de alergia de contacto. As mulheres mostraram ser mais propensas ao teste positivo, sendo que 41 por cento das participantes neste estudo apresentaram reacção alérgica. Nos homens, somente 26 por cento manifestaram a alergia.

Os investigadores procuraram também casos de cancro entre os participantes do estudo a longo prazo e os resultados mostraram que homens e mulheres com alergias de contacto tiveram taxas significativamente menores de cancro da mama e da pele.

Este trabalho também mostrou que as mulheres com alergias tiveram menores taxas de cancro no cérebro, comparativamente com outras sem alergias. No entanto, este último dado não foi estatisticamente significativo, referiram os especialistas.

Apesar destas conclusões, os investigadores também constataram que as pessoas com alergias tiveram maiores taxas de cancro da bexiga, o que "pode dever-se à acumulação de metabólitos químicos na bexiga", explicou o estudo.

Quanto às taxas mais baixas de cancro da mama, cérebro e da pele entre as pessoas com alergias de contacto, podem ser consequência de um sistema imune. Segundo os investigadores, os resultados sustentam a hipótese da “vigilância imunitária” - a teoria de que indivíduos com hiper-imunidade têm como efeito colateral as alergias, sendo este facto que, hipoteticamente, pode protegê-los de alguns tipos de cancro.

Apesar desta correlação, os autores deste estudo, advertiram que um facto não é causador do outro, isto é, ter alergias não é sinónimo de não se ter cancro.

Mães de gémeos parecem ser mais saudáveis Estudo indica que têm maior esperança de vida 2011-07-20

Conceber naturalmente e dar à luz gémeos pode ser um sinal de boa saúde, revela um estudo realizado nos EUA, que foi publicado na revista “Proceedings of the Royal Society B”. Este trabalho, que recorreu a arquivos históricos, constatou que entre as mulheres que nasceram no estado norte-americano de Utah, por volta de 1800, aquelas que deram à luz gémeos apresentaram uma esperança de vida maior do que as restantes mães que tiveram um bebé de cada vez.

Os investigadores da Universidade do Utah analisaram os registos de 59 mil mulheres, não poligâmicas, do Banco de Dados da População do Utah, que tinham nascido entre 1807 e 1899 e que viveram durante, pelo menos, 50 anos. Deste conjunto, 4600 deram à luz gémeos.

Entre as mulheres nascidas antes de 1870, as mães que tiveram gémeos apresentaram um risco 7,6 por cento menor de morrer após os 50 anos do que as mães que tiveram um bebé de cada vez. Nas que nasceram entre 1870 e 1899, o risco foi de 3,3 por cento mais baixo para as mães de gémeos, embora não tenha sido estatisticamente significativo.

O estudo também descobriu que as mães de gémeos tiveram mais filhos, apresentavam um intervalo menor entre partos e eram mais velhas quando tiveram o último filho.

“A opinião predominante é que o fardo da gravidez para as mulheres é mais pesado quando têm gémeos. Mas nós encontrámos o oposto: as mulheres que, naturalmente, têm gémeos, de facto, vivem mais e são mais férteis", referiu Ken Smith, professor de estudos da família.

Outro dado interessante do estudo e que, segundo o especialista é novo, é que as mães de gémeos parecem ser mais saudáveis. "Esta saúde inata que contribui para a capacidade de ter gémeos, também colabora para a sua longevidade", indicou.

Contudo, o estudo pode ter algumas limitações, dado que não foram observados dados relativos às mulheres que morreram no parto ou antes da menopausa, mas apenas aquelas que atingiram pelo menos 50 anos.

Encontrada nova explicação para infertilidade masculina Cientistas descobriram mutação de proteína presente no esperma 2011-07-21

A mutação de um gene que codifica a proteína que reveste os espermatozóides pode ser a causa para a maior parte dos casos da infertilidade masculina, revela um artigo publicado na “Science Translational Medicine” e que, inclusivamente, faz a capa da revista.

Este trabalho que foi realizado por uma equipa internacional de investigadores liderada por Gary Cherr, da Universidade da Califórnia, poderá ser fulcral para abrir novos caminhos que resolvam os problemas de infertilidade de alguns casais, destacaram os cientistas.

Para este estudo, foram recolhidas amostras de DNA nos Estados Unidos, Reino Unido, China, Japão e África. Os investigadores descobriram que um quarto dos homens tem um gene defeituoso que afecta a proteína DEFB126, que por sua vez, se encarrega de revestir a superfície do esperma e o ajuda a penetrar na mucosa do colo do útero da mulher.

Os homens que têm esta variante da proteína DEFB126, não apresentam o Beta Defensina 126, o que dificulta que o esperma passe através da mucosa e eventualmente se una a um óvulo, indicam os cientistas, acrescentando que esta variação genética "possivelmente é responsável por vários casos de infertilidade sem explicação até o momento".

Ao examinar 500 casais chineses recém-casados, os investigadores descobriram que a falta do Beta Defensina 126 em homens com a mutação DEFB126 diminuiu a fertilidade em 30 por cento.

Ted Tollner, primeiro autor do estudo e professor de Urologia da Universidade da Califórnia, indicou que esta descoberta poderá dar azo a outras investigações mais amplas sobre o papel desta mutação na infertilidade. O mesmo assinalou que, em comparação com o esperma dos macacos e outros mamíferos, os espermatozóides humanos são em geral de má qualidade.

Segundo Gary Cherr, esta questão pode estar relacionada com o facto de nos seres humanos, ao contrário da maioria dos mamíferos, a perpetuação da raça se sustentar numa relação monogâmica, pelo que "a qualidade do esperma simplesmente não tem grande importância".

Homens são mais propensos a cancro do fígado Explicação encontra-se num gene ligado ao androgénio 2011-07-22

Investigadores de Hong Kong descobriram que os homens são mais propensos a desenvolver cancro do fígado devido a um tipo de gene que está ligado às hormonas sexuais masculinas.

O estudo da Universidade de Hong Kong, iniciado em 2008, revela que mais de 70 por cento dos 50 pacientes que sofriam de cancro do fígado analisados produziram elevados níveis de um gene relacionado com o ciclo celular da quinase (CCRK, na sigla inglesa).

De acordo com os investigadores, o gene, um dos 17 mil do corpo humano, é directamente controlado e activado pela proteína receptora da hormona sexual masculina ou androgénio, o que explica o facto que, em 2007, o número de homens com a doença ter sido sete vezes superior ao das mulheres em todo o mundo.

Os cientistas concluíram ainda, com base em experiências em ratos de laboratório, que o CCRK figura também como um forte indutor no processo de crescimento anormal das células do fígado e na formação de tumores.

“Este estudo tem um impacto potencial clínico, pois representa a correlação entre o receptor (androgénio) e o desenvolvimento do cancro de fígado” e “também explica porque é que os homens têm um risco maior de sofrer de cancro de fígado do que as mulheres”, afirmaram o vice-reitor Joseph Sung e o chefe da investigação Mok Hing-yiu.

O cancro do fígado é terceiro tipo de cancro mais mortal do mundo, depois do cancro do pulmão e do cancro do cólon, não havendo actualmente qualquer tratamento eficaz.

Portugueses desvendam a formação das células T Estudo pode ajudar a desenvolver ferramentas de combate ao cancro 2011-07-22 Por Carla Sofia Flores

A protecção do organismo humano contra potenciais perigos, como infecções ou cancro, passa pelo desempenho das células T, um tipo de glóbulos brancos com importantes funções no sistema imunológico que são produzidas no timo, um órgão situado sobre o coração. O estudo destas células é assim fundamental para abrir perspectivas sobre a sua manipulação, tendo em vista novas imunoterapias contra determinadas doenças.

Uma equipa constituída por investigadores portugueses (Joana Neves, da Universidade Queen Mary em Londres, e Bruno Silva-Santos, do Instituto de Medicina Molecular em Lisboa) e britânicos deu mais um passo nesse sentido, ao elucidar um processo fundamental na produção de células T.

“O seu desenvolvimento é complexo e envolve várias etapas. As células recebem sinais através de um receptor/proteína situado à sua superfície que lhes permite progredir para a etapa seguinte, até estarem prontas para combater bactérias/parasitas. O nosso trabalho focou-se nas fases iniciais”, revelou ao “Ciência Hoje” Joana Neves, investigadora da Universidade Queen Mary em Londres e co-autora do estudo publicado na revista “Science Signaling”.
Neste sentido, a equipa de cientistas luso-britânica revelou que os sinais de sobrevivência e maturação requeridos pelos progenitores das células T derivam directamente da abundância de proteínas (receptores) específicas que existem à sua superfície. Trata-se de uma descoberta que revoluciona o paradigma prévio, segundo o qual era necessária a agregação destes receptores a outras proteínas presentes noutras células de suporte.

“Havia resultados que não podiam ser explicados segundo este modelo vigente”, referiu a investigadora, acrescentando que, por isso, “o modo como os receptores iniciam o envio de sinais para o interior da célula não estava totalmente esclarecido”.

Joana Neves
Joana Neves é licenciada em Bioquímica pela Universidade do Porto.

Fez parte do programa doutoral “PDBEB” da Universidade de Coimbra (2006) e realizou o seu projecto de doutoramento sobre o desenvolvimento de células T sob a orientação de Daniel Pennington, na Universidade Queen Mary em Londres, em colaboração com Bruno Silva-Santos (Instituto de Medicina Molecular, Universidade de Lisboa).

O seu pós-doutoramento na área da inflamação intestinal realiza-se no laboratório de Richard Blumberg na Harvard Medical School (Boston, EUA).
De acordo com Joana Neves, para testar novas hipóteses e clarificar quais os processos essenciais para a produção destas células imunitárias, foram desenvolvidas células T “em situações em que os receptores foram modificados de forma a não serem capazes de se agregar nem de se ligar a outras proteínas”.

As novas conclusões, permitiram esclarecer quais os requisitos necessários para os receptores começarem a enviar sinais para o interior da célula T progenitora e assim permitirem a sua sobrevivência e maturação. “Nós elucidámos que este processo de iniciação da transdução do sinal é mais simples do que anteriormente descrito dependendo apenas da expressão dos receptores à superfície da célula e não de outros processos como a agregação dos domínios extracelulares dos receptores ou da sua interacção com outras proteínas presentes noutras células”, frisou.

Os resultados obtidos neste estudo são, na opinião da bioquímica portuguesa, “essenciais” para se poder “manipular a maturação e as funções destas células imunitárias e assim conseguir, de uma forma eficaz e segura, usar as células T como ferramentas para, por exemplo, o combate de células cancerígenas”.

Este trabalho foi realizado pelo grupo do Daniel Pennington, na Universidade Queen Mary em Londres, e resultou da colaboração com Bruno Silva-Santos, do Instituto de Medicina Molecular. “As relações entre estes dois grupos são bastante próximas e cientificamente produtivas sendo este já o segundo artigo de elevado impacto publicado no espaço de dois anos resultante desta colaboração”, destacou Joana Neves.

O estudo anterior, que foi publicado na “Nature Immunology” em 2009, permitiu identificar e controlar células imunitárias para as fazer actuar contra infecções e não para promoverem doenças auto-imunes. Foi também noticiado no “Ciência Hoje” e pode ser lido aqui.
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