quarta-feira, 15 de outubro de 2014

As mulheres ainda preferem o parto natural

Estudo da UTAD é revelador

2014-07-23
O estudo foi realizado pela jovem investigadora Filipa Sofia Duarte Rodrigues Moreira
O estudo foi realizado pela jovem investigadora Filipa Sofia Duarte Rodrigues Moreira
Apesar de o número de cesarianas em Portugal ultrapassar largamente os valores recomendados pela OMS tornando-o o quinto país da OCDE com taxa mais elevada, as mulheres ainda continuam a preferir o parto natural – segundo um estudo realizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), no âmbito do curso de mestrado em enfermagem de saúde materna e obstetrícia.
O trabalho foi realizado pela jovem investigadora Filipa Sofia Duarte Rodrigues Moreira, sob a orientação dos professores Carlos Torres e João Castro, da Escola Superior de Enfermagem da UTAD, a partir de uma população de grávidas na área de influência de um dos centros hospitalares da região norte, visando compreender qual a preferência das mulheres pela via de parto e quais os factores que influenciam essa preferência.

Uma das principais conclusões indica que a maioria das mulheres prefere o parto vaginal (parto natural) em detrimento do parto por cesariana, e, quando averiguados os factores ou as principais preocupações da futura mãe, elas centram-se, principalmente, no parto e no bebé, salientando-se a preocupação com os menores riscos e a valorização do estabelecimento do contacto precoce com o filho.

Por outro lado, no sentido de aprofundar a preferência pela via do parto, verificou-se que a idade da mulher, ou seja a maternidade mais tardia, e as experiências de partos anteriores contribuíram para um aumento da preferência por cesariana.

O presente estudo contribui, ainda, para a construção e validação de um instrumento de pesquisa, que permitirá uma melhor compreensão deste fenómeno e o desenvolvimento de estudos comparativos, por exemplo entre os diferentes subsistemas de saúde e até diferentes culturas.

Estudo da UMinho avalia efeito de corticosteroides
no desenvolvimento dos bebés prematuros

O objectivo é avaliar o desenvolvimento das estruturas cerebrais mais vulneráveis

2014-07-30
A investigadora a receber a bolsa doutoral
A investigadora a receber a bolsa doutoral
Um estudo da Universidade do Minho está a avaliar o desenvolvimento cerebral dos fetos que foram sujeitos durante a gravidez a corticosteroides, um grupo de anti-inflamatórios eficaz, mas que tem gerado controvérsia sobre os seus efeitos no desenvolvimento da criança.

A investigação, realizada por Alexandra Miranda, foi recentemente premiada com a bolsa de doutoramento José de Mello Saúde, de 20 mil euros. A aluna da Escola de Ciências da Saúde da UMinho vai assim dedicar a tese doutoral em Medicina ao tema “Efeito da Corticoterapia Antenatal no Neurodesenvolvimento Fetal
O objectivo é avaliar, através de neurossonografia fetal com ecografia 3D, o desenvolvimento das estruturas cerebrais mais vulneráveis a níveis elevados de glucocorticoides e depois compará-lo com fetos sem exposição a estes fármacos. “Pretendemos encontrar factores de prognóstico para os fetos que irão desenvolver distúrbios cognitivos, afectivos e comportamentais na fase pós-natal e ainda clarificar qual é o perfil de segurança pré-natal”, explica Alexandra Miranda, que realiza o trabalho no ICVS - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da UMinho e no Hospital de Braga.

Os bebés prematuros frequentemente apresentam dificuldade respiratória
Os bebés prematuros frequentemente apresentam dificuldade respiratória
“Os bebés prematuros frequentemente apresentam dificuldade respiratória porque os pulmões ainda não se desenvolveram completamente, pelo que os corticoides ajudam a prevenir esta complicação”,
diz. O nascimento prematuro (até às 37 semanas de gravidez) é a maior causa de morte neonatal. Administrar a corticoterapia a grávidas em risco de parto pré-termo trouxe grandes melhorias ao reduzir dificuldades respiratórias, hemorragias cerebrais e problemas gastrointestinais.

“Há, contudo, alguma polémica na comunidade científica sobre os efeitos tardios dos corticoides no sistema nervoso central, desde alterações no comportamento a dificuldades na aprendizagem, sem ter ainda havido inequivocamente um substrato anatómico cerebral que justifique estas afirmações”, realça a cientista, que espera ter conclusões preliminares a médio prazo.

Alexandra Miranda tem 28 anos e é natural do Porto. Fez o mestrado integrado em Medicina na UMinho, onde é atualmente doutoranda em Medicina, investigadora do ICVS e professora convidada da Escola de Ciências da Saúde. Está também a realizar o internato médico (3º ano) na especialidade de Ginecologia e Obstetrícia no Hospital de Braga.

As barreiras dos serviços de saúde que afectam os imigrantes

2014-08-04
O estudo aMASE - aumentar o Acesso dos Migrantes aos Serviços de Saúde na Europa (advancing Migrant Access to Health Services in Europe) – é um novo projeto de investigação Europeu que pretende identificar e chamar a atenção para os problemas enfrentados pelas pessoas que vivem fora do seu país de origem, no acesso aos serviços de saúde na Europa. Procura compreender essa realidade observando-a desde os hospitais, mas também com o olhar a partir da comunidade.

É liderado por investigadores do University College London e do Instituto de Salud Carlos III de Madrid e, em Portugal, é coordenado por Henrique Barros, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

O projecto é financiado pela União Europeia e, em Portugal, na vertente comunitária, conta com a colaboração do GAT, Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos VIH/SIDA, e da SER+, Associação Portuguesa para Prevenção e Desafio à SIDA.

Devido às suas características sociais e económicas, os imigrantes estão muitas vezes em desvantagem comparativamente com população autóctone no acesso aos serviços sociais disponíveis nos seus países de acolhimento, incluindo os de saúde.

De acordo com os especialistas, algumas barreiras ao acesso aos cuidados de saúde têm um efeito dissuasor que faz com que a população imigrante seja a que tem mais probabilidade de não procurar tratamento no momento certo, agravando assim os seus problemas de saúde.

Além disso, os responsáveis pelo projecto têm alertado para a necessidade de tornar o sistema de saúde acessível e adaptado às pessoas que vivem fora do seu país de origem. Uma medida que vai fortalecer o recurso atempado aos cuidados de saúde, contribuindo para a redução da transmissão de doenças e dos encargos associadas aos tratamentos hospitalares.

Os dados conseguidos pelo aMASE vão ajudar os investigadores a perceber a dimensão de certos problemas de saúde que as pessoas que vivem fora do seu país de origem enfrentam e a desenvolver formas de os resolver. Desta forma, a investigação permitirá identificar grupos mais vulneráveis e as barreiras que impedem as pessoas de acederem aos serviços de saúde antes de ficarem seriamente doentes.

Os investigadores convidam qualquer pessoa com 18 ou mais anos de idade, que esteja a viver fora do seu país de origem a participar num questionário anónimo, através da internet. Os resultados deste questionário vão ajudar a Comissão Europeia a adequar os sistemas de saúde europeus. Todos os interessados em participar neste estudo podem ter acesso ao questionário, disponível em 14 idiomas, aqui.

A espantosa capacidade de regeneração do pâncreas

Da Suíça vêm novas esperanças para os diabéticos

2014-08-19
Pedro Herrera
Pedro Herrera
Antes da puberdade, o pâncreas tem mais plasticidade e maior capacidade de regeneração do que anteriormente se pensava, como mostra um estudo realizado em ratos e apoiado pelo Programa Nacional de Pesquisa "Células Estaminais e Medicina Regenerativa".
Na Suíça, aproximadamente 40 mil pessoas sofrem de diabetes tipo 1, devido à perda de células beta, que produzem insulina.

Esta hormona é essencial para a utilização do açúcar no corpo. Uma vez que as células beta não se renovavam, a comunidade científica pensava que a sua perda era irreversível, por isso que os diabéticos estavam condenados a uma vida dependente de injecções de insulina.

Um mecanismo anteriormente desconhecido

Há quatro anos, pesquisadores da equipa de Pedro Herrera, da Universidade de Genebra, abalaram pela primeira vez esta certeza.

Usando ratos transgénicos demonstraram que no pâncreas doente algumas células alfa doentes, que normalmente produzem a hormona glicagina,transformam-se em células beta e começar a produzir insulina. Ao contrário da glicagina, a insulina faz baixar o açúcar no sangue impedindo a diabetes.

No seu novo estudo, publicado na revista Nature, a equipe de Herrera prossegue as suas descobertas: antes da puberdade, o pâncreas é capaz de compensar de forma espectacular uma eventual perda de células beta.

"Isto através de um novo mecanismo, até agora completamente desconhecido", diz Herrera.

Células delta (que produzem somatostatina, uma outra hormona pancreática) perdem a identidade celular e retornam a um estádio imaturo, semelhante ao de seu desenvolvimento embrionário. Essas células indiferenciadas multiplicam-se e reconstituem as populações de células delta e beta-

Pâncreas humanos funcionarão de forma análoga

Embora o grupo Pedro Herrera tenha estudado a polivalência das células pancreáticas em ratos, várias observações sugerem que em pacientes humanos o pâncreas pode funcionar de forma semelhante. "Este novo mecanismo mostra que o pâncreas tem muito mais plasticidade celular do que nós pensamos, e - pelo menos na infância - há uma grande capacidade de se regenerar", diz Herrera, "O caminho ainda é longo antes que as. pessoas com diabetes possam beneficiar directamente dessas observações, mas a descoberta da capacidade de adaptação das células delta permite-nos imaginar intervenções terapêuticas insuspeitas até agora". "

Portugueses do IMM abrem caminho
a nova terapêutica para leucemia pediátrica

João Taborda Barata liderou um trabalho de investigação com resultados bastante promissores

2014-08-26
João Taborda Barata e Leonor Morais Sarmento, os investigadores responsáveis pelo estudo
João Taborda Barata e Leonor Morais Sarmento, os investigadores responsáveis pelo estudo
Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, coordenada por João Taborda Barata, liderou um trabalho de investigação com resultados bastante promissores no que respeita ao potencial desenvolvimento de uma terapêutica alternativa para tratamento da leucemia linfoblástica aguda de células T (LLA-T), um tipo de leucemia bastante frequente em crianças.

A investigação, publicada na revista científica Oncogene, estudou o papel de uma proteína (CHK1) em doentes e concluiu que a mesma se encontra sobre expressa e hiperactivada, permitindo assim a viabilidade das células tumorais e proliferação da doença.
O artigo foi publicado na revista Oncogene (grupo Nature)
O artigo foi publicado na revista Oncogene (grupo Nature)
“Demonstrámos que a expressão do gene CHK1 está aumentada neste tipo de leucemia. O curioso é que o CHK1 serve como uma espécie de travão para a multiplicação celular, mas acaba por ajudar as células leucémicas porque as mantém sob algum controlo. Se inibirmos o CHK1 as células tumorais ficam tão “nervosas” – o que chamamos de ‘stres replicativo’ – que acabam por morrer. O CHK1 constitui, por isso, um novo alvo molecular para potencial intervenção terapêutica em leucemia pediátrica”,
afirma João Barata.

A equipa de investigadores utilizou um composto farmacológico (PF-004777736) para inibir o gene CHK1 e verificou que o composto induzia a morte de células de LLA-T sem afectar as células T normais. A investigação conseguiu observar que a utilização daquele composto farmacológico é capaz de interferir na proliferação das células afectadas e de interromper o seu ciclo de vida, diminuindo o desenvolvimento da doença.

Apesar de este tipo de leucemia ser um cancro que apresenta grande sucesso terapêutico nas crianças, os efeitos secundários resultantes das terapias actuais são bastante consideráveis. O trabalho de investigação liderado pela equipa do IMM poderá vir a permitir aumentar a eficácia na luta contra este tipo de patologia.

Um pedaço crucial de informação
no puzzle molecular oncológico

Identificada nova situação patológica, envelhecimento precoce
e formação de tumor no fígado

2014-10-01
Por Bruno Vaz *
Bruno Vaz
Bruno Vaz
O cancro é uma das patologias que mais atinge a população mundial nos países industrializados. Durante o processo de envelhecimento humano agentes extrínsecos como químicos, luz UV, irradiação, e intrínsecos como factores genéticos induzem alterações do código genético (ADN), mutações, levando a um aumento da instabilidade genética. As mutações levam posteriormente à transmissão de informação genética “errada” da célula mãe para a célula filha, um dos factores chave no processo de transformação tumoral.

* Investigador da Universidade de Oxford
Em determinadas situações patológicas, as mutações são directamente transmitidas dos pais para os filhos, sendo por si suficientes para aumentar a possibilidade de formação de tumores. Um dos exemplos mais conhecidos de transmissão genética corresponde a mutações no gene BRCA1/2 (causa de 25% dos tumores a mama), foram recentemente publicitados pela atriz Angelina Jolie.

O leque de possíveis causas genéticas para o cancro estende-se a mais de uma centena de síndromes genéticos raros. Apesar de estes síndromes afectarem um numero limitado de pacientes, o seu estudo tem-se revelado crucial na compreensão dos processos moleculares do desenvolvimento tumoral, permitindo identificar novos factores chave e alvos de novas estratégias terapêuticas.

Vai ser assim a capa da versão impressa
Vai ser assim a capa da versão impressa
O artigo “Mutations in SPRTN cause early onset hepatocellular carcinoma, genomic instability and progeroid features”, publicado esta semana na revista Nature Genetics, identifica um novo gene envolvido na manutenção da estabilidade genética e adiciona um pedaço crucial de informação no puzzle molecular oncológico e de envelhecimento.

O trabalho, fruto de uma colaboração apertada entre médicos, geneticistas e biólogos moleculares permitiu identificar uma nova situação patológica, envelhecimento precoce e formação de tumor no fígado, uma nova causa genética, mutações no gene SPRTN, e identificar a função da proteína Spartan responsável pela instabilidade genética.

O nosso grupo de investigação do CRUK/MRC Oxford Institute for Radiation Oncology da Universidade de Oxford descobriu que a proteína Spartan (SPTRN) é importante para a replicação do DNA e na regulação do checkpoint celular (G2-M) através de mecanismo “barreira” que previne a transmissão de alterações no DNA da célula mãe para as células filhas. Mutações em SPRTN causam stress replicativo e levam a acumulações de mutações durante a replicação do DNA.

Posteriormente defeitos no checkpoint levam a que essas mutações sejam transmitidos a prole de células filhas iniciando um processo de transformação tumoral e/ou envelhecimento precoce. Contudo ainda não é claro a razão pela qual alguns tecidos envelhecem enquanto que outros desenvolvem tumores.

A colaboração multidisciplinar permitiu ainda delinear terapias alternativas para o único paciente com vida, um australiano com 15 anos de idade. Os dados obtidos a nível molecular sugeriram o transplante de fígado como a opção mais viável para combater o tumor, bem como o tratamento com um tipo específico de imunossupressores.

Nariz electrónico pode detectar
subgrupos de asma nas crianças

Estudo foi apresentado em Munique

2014-09-09
Uma nova pesquisa, apresentada no Congresso Internacional «European Respiratory Society» (ERS) em Munique anteontem faz parte do U-BIOPRED, projecto para aprender mais sobre os diferentes tipos de asma de modo a garantir um melhor diagnóstico e tratamento para cada pessoa
Os profissionais de saúde entendem agora que existem muitos tipos diferentes de asma e que isso afecta as pessoas de maneiras muito diversas. Os esforços de pesquisa actuais estão focados em classificar esses diferentes grupos em fenótipos e em revelar mecanismos fisiopatológicos subjacentes a esses subgrupos menores de asma. Se isso for alcançado, será uma ajuda para os profissionais de saúde a planearem o tratamento da asma de acordo com cada pessoa.

O novo estudo analisou o perfil de ar exalado em amostras de 106 crianças com asma. Isto envolveu a olhar para as partículas conhecidas como compostos voláteis exalados, que froam, então, analisadas pelos chamados narizes electrónicos.

Narizes electrónicos podem ajudar a saber mais sobre doenças pulmonares
Narizes electrónicos podem ajudar a saber mais sobre doenças pulmonares
Os resultados mostraram cinco sub-grupos distintos. Cada grupo continha pacientes com perfis semelhantes de respiração. Ao comparar as características clínicas desses grupos verificou-se que diferiam quanto à idade e aos sintomas de asma. As descobertas sugerem que a análise por um nariz electóônico pode ser útil para a compreensão das diferenças entre os indivíduos com asma, o que poderia, em última instância ajudar a identificar subgrupos da doença.

Paul Brinkman, principal autor do estudo do Centro Médico Acadêmico de Amsterdão, disse: "Nós sabemos que narizes electrónicos têm o poder de nos ajudar a saber mais sobre uma variedade de doenças pulmonares Neste estudo, nós mostramos que eles são uma forma eficaz de conhecer melhor as diferenças subtis observadas entre as pessoas com asma. Classificar a asma em diferentes subgrupos pode ser capaz de fornecer o tratamento muito mais personalizado para cada indivíduo ".