terça-feira, 5 de abril de 2011

Aumento de preços leva viajantes a recusar vacinas

São quatro: pai, mãe e duas crianças e nas férias da Páscoa planearam visitar o tio que está em Angola. Já com as passagens de avião pagas, surgiu uma despesa inesperada: 400 euros para vacinar todos contra a febre-amarela, obrigatória – e que até 17 de Janeiro custava 15 cêntimos. Agora, de receita na mão, não sabem o que vão fazer em relação às outras duas vacinas recomendadas. Já há quem ignore os médicos: confrontados com estes aumentos alguns dos que procuram as consultas da medicina de viagem estão a cortar nas vacinas não obrigatórias, conta o Diário de Notícias.

“Recusam a vacinação, o que não acontecia. Também já tive pais que optaram por imunizar apenas os filhos”, explica ao DN Luís Varandas, da consulta da Estefânia, para crianças. Também a enfermeira Carmo Santos, responsável pela Vacinação Internacional no Centro de Sete Rios, que atende cerca de 50 pessoas por dia, já se depara com recusas. “Quando a factura dispara para as centenas de euros seleccionam só algumas”. Correm riscos desnecessários, alerta Luís Varandas. “Não são doenças frequentes, mas seguimos as recomendações internacionais porque o risco existe”.

Em causa, o aumento brutal do preço, que passou de 15 cêntimos para 100 euros no caso da vacina contra a febre-amarela, a única que era paga. As outras – contra a meningite tetravalente, febre tifóide e raiva – eram gratuitas e ficam agora por 50 euros, enquanto a encefalite japonesa custa 200, conta o DN.

Se o preço anterior não dava provavelmente para pagar o material, o novo ultrapassa em muito o das vacinas, compradas directamente e por concurso às farmacêuticas. O Estado paga menos de oito euros pela da febre-amarela e menos de 12 pela da febre tifóide. Só a da encefalite japonesa fica perto do preço cobrado pois cada dose custa 72 euros.

“Não se trata do preço da vacina, mas da taxa sanitária. Foi uma mudança radical na nossa prática”, admite Luís Varandas, em declarações ao DN. O médico nota também quebra nas consultas. Jorge Seixas, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, que só segunda-feira começou a aplicar as novas taxas, diz que o aumento fez também com que estas vacinas passassem a custar mais cá do que na maior parte da Europa. “É um preço fora da realidade. Comentou-se que era uma aproximação ao que é praticado no resto da Europa mas na rede oficial o preço da vacina contra a febre-amarela, por exemplo, fica entre 30 e 60 euros. Não é muito compreensível esta visão economicista”, critica. Até porque, apesar de o risco ser pequeno, insiste, são doenças muito graves – 20% dos que contraem febre-amarela morrem. Por outro lado, alerta que sai muito mais caro tratar alguém que adoece do que vacinar.

Jorge Seixas teme sobretudo pela saúde dos migrantes que visitam familiares e amigos. “Não viajam com muito dinheiro. Vão ficar expostos a todos os riscos do meio e não se vão imunizar porque não têm dinheiro”. Apesar da vacina contra a febre-amarela ser obrigatória para entrar em Angola, alguns arriscam-se e preferem levar à chegada, no aeroporto, apesar de serem necessários 10 dias para ficarem imunes. E muitos dos que viajam para o Brasil já preferem levar lá, onde é gratuita, diz ao DN Carmo Santos. A maioria dos que procuram o Centro vai viajar em trabalho para Angola, enquanto nas férias vão para o Brasil, Índia e o Sudeste asiático.
2011-04-05 | 09:33
http://www.rcmpharma.com/news/12675/51/Aumento-de-precos-leva-viajantes-a-recusar-vacinas.html

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