segunda-feira, 26 de maio de 2014

Veneno de caracol marinho letal pode facultar
novos tratamentos para a dor crónica em humanos

Estudo envolve cientistas do CIIMAR, Porto

2014-04-01
Num trabalho publicado na revista científica Nature Communications, uma equipa de cientistas Australianos, e Kartik Sunagar e Agostinho Antunes do CIIMAR, Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, Universidade do Porto, descobriram que o letal caracol marinho Conus geographus consegue surpreendentemente alternar a produção de venenos distintos em resposta a estímulos predatórios ou defensivos.
O estudo do caracol marinho Conus geographus da Grande Barreira de Coral na Austrália, revelou que o veneno defensivo destes animais possui elevadas quantidades de toxinas paralíticas que bloqueiam receptores neuromusculares, causando efeitos letais em seres humanos. Em contraste, o veneno predatório contem toxinas especificas para as presas (peixes), sendo maioritariamente inactivos em alvos humanos.

O Conus geographus é um caracol altamente perigoso - tem a picada mais tóxica conhecida entre as espécies de Conus e é responsável por mais de 30 mortes humanas conhecidas. Não há antiveneno para uma picada do Conus geographus estando o tratamento limitado a apenas manter as vítimas vivas até que as toxinas percam efeito.

Os venenos de caracóis marinhos do género Conus englobam as estratégias mais sofisticadas de envenenamento conhecidos no Reino Animal, permitindo que estes pequenos e lentos animais capturem vermes, moluscos e mesmo peixes. Cada uma das espécies de caracóis marinhos Conus produz mais de 1000 conopeptidos distintos, estando muito poucos destes composto caracterizados farmacologicamente (cerca de 0,1%) tendo como alvo uma vasta gama de proteínas de membrana celular, tipicamente com elevada potência e especificidade.

Esses compostos têm grande potencial como drogas analgésicas, nomeadamente como alvo de receptores específicos da dor humana que podem ser até 10.000 vezes mais potentes que a morfina, sem as consequências viciantes da morfina e seus efeitos colaterais. Destaca-se nesse sentido o Inibidor Cav2.2 w-MVIIA (Prialt) aprovado pelo FDA nos Estados Unidos da América em 2004 sendo utilizado para tratar a dor intratável. O tratamento da dor neuropática crónica com conopeptidos pode assim estender-se a pacientes que sofram de cancro, artrite, herpes, diabetes, Alzheimer, Parkinson e SIDA.

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