segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

IBMC consegue fim de células cancerígenas imortais

Uma equipa de investigadores do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC, Universidade do Porto) manipulou geneticamente a área de ligação de duas proteínas (PLK1 à CLASP2) em linhas celulares – o que perturba a divisão das células. Os cientistas utilizaram uma linha tumoral imortalizada (células Hela) que servem de modelo para muitos estudos desde 1951, altura em que foi isolada. O estudo publicado no «Journal of Cell Biology» apresenta um conjunto de imagens ímpares do fim de células cancerígenas imortais. “Ao impedir a ligação destas proteínas, impedimos que ocorresse uma reacção química simples de fosforilação da CLASP2 e o resultado é a morte das células afectadas”, explica Hélder Maiato, coordenador da equipa. “É interessante perceber que controlar uma simples reacção de fosforilação pode levar a um evento tão dramático para uma célula”, adianta ainda o investigador. Apesar do modelo explicativo ser simples, impedir uma reacção química num local tão específico da célula envolve grande complexidade técnica. A equipa teve de provar que ao impossibilitar a fosforilação da CLASP pela Plk1 o fuso mitótico bipolar, essencial à divisão das células, não podia ser mantido. Segundo Rita Maia, primeira autora do artigo, “durante a divisão as células formam um fuso para garantir a distribuição igual do material genético entre as duas células filhas”, tratando-se de um processo “muito coordenado de forma a evitar a produção de erros genéticos, no qual a CLASP2 tem um papel fundamental”. Quando se impede a ligação da Plk1 à CLASP2, a coordenação do processo é afectada, compromete-se a estrutura bipolar do fuso e as células simplesmente morrem. “Em vez de duas, nenhuma”, revela. Estrutura monopolar de célula que impossibilita a divisão e acabará por morrer (Imagem: IBMC) E é precisamente o momento de arranjo anómalo do fuso mitótico que se oferece às câmaras dos investigadores em imagens comparáveis a eventos da astronomia e do cosmos, como se vê na figura acima. “Talvez as imagens sejam espectaculares para muitos mas, para nós, o mais importante são as perspectivas que este estudo abre”, assinala Hélder Maiato. Para a equipa envolvida, o grande avanço conseguido neste estudo é “a excitante possibilidade de administrar substratos da Plk1 geneticamente modificados, que conduzam à morte de células tumorais e possam ser usados como como alternativa terapêutica para certos cancros”, como se lê no artigo. O trabalho representa um novo mecanismo de regulação molecular e abre todo um campo para novas abordagens terapêuticas anti-tumorais. Este estudo já permitiu a elaboração de um pedido de patente relativamente à administração de CLASP2 modificada com vista a fins terapêuticos.

Vírus comum em cães pode ser a base para vacinas eficazes

Investigadores da Universidade da Georgia (UGA, EUA) descobriram que um vírus comum em cães e inofensivo para o ser humano, pode servir como base para o desenvolvimento de novas vacinas. O vírus parainfluenza 5 (PIV5) provoca infecções respiratórias nos cães e é utilizado para produzir vacinas para estes animais. Num artigo recentemente publicado na «PLOS One», uma equipa de cientistas descreve como este pode ser utilizado para proteger as pessoas contra doenças para as quais não foi possível ainda produzir uma vacina eficaz. “Podemos usar o vírus como vector para todos os tipos de patogénicos contra os quais a vacinação é difícil”, diz Biao He, investigador principal do estudo e professor de doenças infecciosas na Faculdade de Medicina Veterinária, da UGA. “Já desenvolvemos, com esta técnica, uma vacina muito forte contra a gripe H5N1, e estamos a trabalhar em vacinas contra o HIV, a tuberculose e a malária”. O PIV5 não provoca doenças nos humanos, pois o sistema imunitário é capaz de reconhecê-lo e destruí-lo. Ao colocar-se antigénios de outros vírus ou parasitas dentro do PIV5, este torna-se num veículo de entrega que expõe o sistema imunitário, permitindo que este crie os anticorpos que irão proteger o corpo contra futuras infecções. Esta abordagem não só assegura uma exposição total à vacina como é também muito mais segura pois não requer a utilização de patogénicos enfraquecidos. “A segurança é sempre a nossa primeira preocupação”, afirma He. “O PIV5 torna muito mais fácil a vacinação sem ter de se utilizar patogénicos vivos”. Utilizar um vírus como mecanismo de entrega de vacinas não é uma técnica nova. Em experiências anteriores a esta, os investigadores enfrentaram muitas dificuldades. Se os seres humanos ou os animais já possuem uma forte imunidade ao vírus utilizado para a entrega, a vacina não funcionará, pois rapidamente será destruída pelo sistema imunitário. Mas neste estudo demonstra-se que a imunidade ao PIV5 não limita a sua eficácia como mecanismo de entrega, apesar de termos anticorpos para ele. Nas suas experiências, uma dose única de PIV5 protegeu ratos da estirpe sazonal da gripe. Outra dose individual protegeu os mesmos animais de laboratório do mortífero H5N1, o vírus que provoca a chamada 'gripe das aves'. Estes resultados são o culminar de mais de 15 anos de investigação e experimentação com o PIV5. Os cientistas estão confiantes que este pode servir como excelente base para vacinas contra várias doenças, tanto em animais como um humanos. Artigo: Evaluating a Parainfluenza Virus 5-Based Vaccine in a Host with Pre-Existing Immunity against Parainfluenza Virus 5

Nova 'spin off' da UBI faz ponte

Foi apresentado no passado dia 4 a mais recente spin off da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (UBI), o Labfit. Tendo como objectivo a transferência de conhecimento resultante da investigação realizada no Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS-UBI), o laboratório é resultado da experiência profissional de duas farmacêuticas, Ana Palmeira de Oliveira e Rita Palmeira de Oliveira. O CICS-UBI desenvolve formulações para patologias que não possuem actualmente uma resposta terapêutica eficaz. Foi a identificação destas necessidades de mercado que levou estas investigadoras, irmãs, a lançarem-se neste projecto. O Labfit disponibilizará serviços de controlo de qualidade de produtos cosméticos e de higiene corporal bem como dispositivos médicos. A natureza de spin off da empresa permite garantir elevados níveis de qualidade a preços competitivos ao nível dos serviços prestados. Ana Palmeira de Oliveira refere que “os produtos de aplicação tópica para o tratamento de infecções genitais estão em fase de ensaios pré-clínicos e preparam-se os ensaios clínicos, contando com a colaboração do centro de ensaios clínicos do CHCB para a validação da sua segurança e eficácia terapêutica”. As investigadoras propõem-se, posteriormente, licenciar os produtos a laboratórios com presença efectiva no mercado farmacêutico nacional e internacional. Pela ligação que ambas têm à docência e investigação, os alunos poderão entrar em contacto com estas tecnologias numa fase muito inicial no âmbito dos primeiros testes realizados no centro de investigação da FCS-UBI.

Mais de dois terços da população adulta tem peso a mais

Segundo os dados de um recente estudo, publicado revista científica «PLOS ONE», mais de dois terços da população adulta possui valores de índice de massa corporal acima do que é desejável, sendo que grande parte da prevalência se refere à pré-obesidade. A investigação sobre a prevalência da pré-obesidade e obesidade da população adulta em Portugal Continental envolveu a avaliação de 9 447 pessoas com idades compreendidas entre os 18 e 103 anos. Os resultados deste estudo, coordenado por Luís Bettencourt Sardinha, da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa, revelam que 66,6 por cento dos homens adultos têm pré-obesidade e obesidade (índice de massa corporal superior a 25 e 30 kg/m2, respectivamente), enquanto para as mulheres o valor é ligeiramente inferior, com uma prevalência de 57,9 por cento. Neste conjunto, 19,9 por cento dos homens e 19,8 por cento das mulheres eram obesas. Nas pessoas idosas com idade superior a 65 anos, a prevalência conjunta é superior, 70,4 por cento neles e 74,7 por cento nelas, em que 16,8 por cento de indivíduos do sexo masculino e 21,8 por cento do sexo feminino são obesas. Quanto à prevalência da obesidade abdominal avaliada através do perímetro da cintura – medida morfológica que assume um papel importante enquanto marcador do tecido adiposo visceral –, as mulheres têm uma prevalência superior comparativamente com os homens, 37,9 por cento e 19,3 por cento, respectivamente. É reconhecido que um perímetro da cintura elevado está associado a um risco acrescido de doenças cardiovasculares e a uma taxa mortalidade por qualquer causa, quer em adultos como ainda em pessoas idosas. Nas pessoas idosas a tendência mantém-se, com 69,7por cento nelas e 32,1 por cento dos homens com valores acima do que é considerado normal para a morfologia abdominal. Embora os valores médios do perímetro da cintura sejam superiores nos homens quando comparados com os das mulheres, o facto da Organização Mundial de Saúde identificar o risco de obesidade abdominal acima de 88 centímetros e 102 centímetros para as mulheres e homens, respectivamente, pode explicar a maior prevalência de obesidade abdominal nas mulheres. Merece também especial referência a observação da obesidade abdominal tender a ser mais prevalente com o aumento da idade. Escolaridade é factor O estudo indica ainda que pessoas com nível educacional mais reduzido tendem a ter um risco superior para o excesso ponderal. No caso da população portuguesa adulta, comparativamente com pessoas que frequentaram o ensino superior, mulheres e homens com apenas quatro anos de escolaridade têm uma probabilidade superior de serem pré-obesos e obesos. Segundo os investigadores, os resultados corroboram mais uma vez a necessidade de estratégias selectivas de prevenção que tenham em consideração as desigualdades educacionais, às quais tendem a estar associadas também desigualdades económicas. Ambas têm impacto desfavorável nas opções e na acessibilidade aos comportamentos salutogénicos.

Instituto Gulbenkian de Ciência encontra

Instituto Gulbenkian de Ciência encontra novas causas para origem do cancro União inapropriada de pontas de DNA pode criar instabilidade cromossómica que origina a doença 2012-12-14 Por Sara Pelicano Sílvia Batista, Miguel Godinho Ferreira e Clara Correia Reis são investigadores do IGC Uma equipa de investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) concluiu que o complexo proteico chamado MRN une o DNA nas pontas dos cromossomas, uma união que pode ser prejudicial e potenciar a incidência de cancro. O investigador Miguel Godinho Ferreira disse ao Ciência Hoje que “na Comunidade Europeia 90 por cento dos cancros aparecem em pessoas acima dos 50 anos”. O aumento da incidência da doença oncológica na velhice pode ser explicada pelo mau funcionamento “dos telómeros, que são as estruturas protectoras que se encontram nas pontas dos cromossomas e que se desgastam com a idade, provocando instabilidade cromossómica que origina o cancro”, adianta o entrevistado. Este conhecimento já era adquirido. No entanto, Clara Correia Reis, Sílvia Batista e Miguel Godinho Ferreira, todos investigadores do IGC, quiseram saber “qual o papel de um complexo proteico, chamado MRN neste processo de instabilidade cromossómica”, explicou Miguel Godinho Ferreira. Com a idade os telómeros, estruturas protectoras que se encontram nas pontas dos cromossomas, desgastam-se (créditos: Hugo Almeida) O especialista pormenorizou que “a ausência de telómeros é reconhecida pela célula como danos no DNA e a maneira de reparar o ‘dano’ é juntar as pontas num processo chamado ‘non-homologous end joining’. O que, nas pontas dos cromossomas, é uma má ideia. Se tivermos dois cromossomas juntos durante a divisão celular, estes podem quebrar originando mais pontas que juntam outra vez produzindo um ciclo de diversidade cromossómica a que damos o nome de instabilidade genómica. Acreditamos que este processo possa estar na origem do cancro”. A equipa descobriu que “a função do MRN é como se fosse uma pinça, um tipo de uma molécula com dois braços que une duas pontas de cromossomas, cada braço se une à sua ponta e, como essa molécula possui uma estrutura flexível estilo V o MRN une as duas extremidades dos cromossomas”, disse o investigador. Se for impedido este processo de junção das pontas do DNA, promovido pelo MRN, possivelmente “vamos impedir a junção dos cromossomas” e consequentemente “evitar a instabilidade cromossómica” que está na origem do cancro. O trabalho de investigação foi publicado a 14 de Dezembro no Jornal EMBO (Organização Europeia de Biologia Molecular).

Nanopartícula portuguesa patenteada

Os Estados Unidos da América concederam uma patente a uma nanopartícula de nova geração para o tratamento do cancro da mama, a PEGASEMP™, desenvolvida por uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. “Fizemos o pedido da patente em 2008”, diz João Nuno Moreira, um dos três cientistas envolvidos no desenvolvimento desta nanopartícula. A equipa completa-se com Vera Moura e Sérgio Simões. “Uma qualquer nova tecnologia para que possa ser colocada no mercado, portanto fique disponível para os doentes, tem de cumprir dois pressupostos. Por um lado deve-se provar a sua eficácia e por outro deve estar protegido nos grandes mercados da área farmacêutica e foi isso que conseguimos agora com esta patente”, adianta João Nuno Moreira. A patente “chama a atenção” da indústria farmacêutica e daí “pode decorrer algum investimento” que, em última análise, leva à colocação da nanopartícula no mercado. “Deste modo, a empresa que venha a comercializar a tecnologia tem exclusividade da exploração comercial desta tecnologia, neste caso no mercado americano que é o maior na área farmacêutica”, explica o investigador. A nanopartícula PEGASEMP™ tem sido testada apenas em animais, mas os resultados são promissores. “A nova nanopartícula distingue-se pela capacidade de, não só matar as células cancerígenas, mas também os vasos sanguíneos que alimentam o tumor, impedindo assim que o cancro se alastre no organismo e evitando reincidências”, explicam os cientistas. Ao entrar no cancro, a nanopartícula liberta o seu conteúdo e mata as células cancerígenas. João Nuno Moreira adianta ao Ciência Hoje que “dentro de sensivelmente três anos querem dar início aos ensaios clínicos. Sendo comprovada a eficácia, serão necessários mais quatro anos para que esta nova tecnologia entre no mercado”. Para dar continuidade ao trabalho, João Nuno Moreira, Vera Moura e Sérgio Simões fundaram a empresa Treat-U, incubada no Biocant, em Cantanhede. “A criação da empresa é uma forma de organização diferente. É uma maneira de podermos candidatar a outro tipo de financiamento como o QREN [Quadro de Referência Estratégica Nacional]”, explica João Nuno Moreira. E esta forma de organização já deu os seus frutos. No âmbito do QREN, estes três cientistas conseguiram meio milhão de euros para continuar o trabalho.
A equipa de cientistas do Instituto de Investigação da Sida IrsiCaixa, de Barcelona (juntamente com investigadores das universidades de Heildelberg e Lausanne), conseguiu decifrar o mecanismo que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) utiliza para penetrar no sistema imunitário. Neste estudo pioneiro, publicado agora na «PLoS Biology», também foi possível bloquear a entrada e evitar a propagação do vírus. Javier Martínez-Picado, que coordenou o trabalho juntamente com Nuria Izquierdo-Useros, explica que a importância da descoberta deste mecanismo nunca antes descrito é o facto de potenciar o desenvolvimento de um novo fármaco, durante os próximos dez anos, capaz de bloquear a transmissão do HIV dentro do corpo humano. Os 20 fármacos utilizados actualmente contra o vírus da imunodeficiência humana não são capazes de o eliminar completamente do organismo, já que este tem a capacidade de se alojar no interior das células dendrítricas – guardiãs do sistema imunitário – e servir-se destas para propagar e infectar os tecidos linfáticos. A equipa da IrsiCaixa já tinha identificado este ano a molécula que se situa em cima das células dendríticas, uma mistura de um lípido e um açúcar; a investigação presente conseguiu a 'quadratura do círculo' ao descrever a molécula da célula dendrítica que se associa ao glucolípido e serve de via de entrada para o seu interior. “Tínhamos a chave e agora temos a fechadura”, diz Martínez-Picado, que deu o enigma por resolvido, pois os cientistas também conseguiram bloquear a entrada através de moléculas derivadas dos açúcares e outro anticorpos, o que permite pensar num fármaco que seja capaz de evitar a infecção. “É como pôr silicone na fechadura para que a chave não entre”, explica o investigador. A equipa iniciou já o rastreio de milhões de compostos químicos, através de simulação informática, com a intenção de se desenvolver o desenho de um novo medicamento. Este não está a ser pensado para ser uma vacina, ainda que possa permitir abrir novas linhas de investigação, porque a sua utilização em fases iniciais da infecção poderia evitar o contágio. O mecanismo descoberto poderá servir igualmente para parar a propagação de outros vírus que actuam de forma semelhante ao HIV, como é o caso do htlv-1, que provoca a leucemia. Artigo: Siglec-1 Is a Novel Dendritic Cell Receptor That Mediates HIV-1 Trans-Infection Through Recognition of Viral Membrane Gangliosides