terça-feira, 22 de novembro de 2011

Células da glândula mamária caracterizadas 'in vivo'

Para definir a hierarquia celular da glândula mamária, durante as condições fisiológicas, uma equipa de investigação da Université Libre de Bruxelles (Bélgica), na qual participou a portuguesa Ana Sofia Rocha, executou experiências onde traçam a linhagem genética e a análise da glândula mamária de ratos durante o seu desenvolvimento ‘in vivo’. O estudo é hoje publicado na revista «Nature».

O interesse do grupo de trabalho era saber um pouco mais sobre a relação entre as células estaminais e as do cancro, ou seja, saber quais seriam as células que iriam mais tarde dar origem à doença. “Verificámos que as células da mama estavam muito mal caracterizadas”, avançou Ana Sofia Rocha ao «Ciência Hoje», acrescentando que “os trabalhos realizados nesta área são, geralmente, feitos em células isoladas, posteriormente injectadas em ratinhos e não directamente em condições fisiológicas tal como este”.

A cientista portuguesa explicou que o objectivo foi tentar descobrir “quais eram as potenciais células e onde estavam localizadas em condições normais, sem interferir directamente nos animais”. Até aqui, “todos os trabalhos dependiam de marcadores específicos e as células dos tecidos mamários eram isoladas e injectadas em ratos fêmeas com glândulas mamárias sem epitélio e verificavam se estas eram capazes de formar um novo epitélio”.

A equipa de investigação identificou “dois ou três marcadores em que as células eram de facto capazes de reproduzir uma glândula mamária nova”. Os resultados dependeram da reprodução ‘in vivo’, ou seja, aplicando uma técnica que ajuda a perceber como funcionam as coisas fisiologicamente (usando marcadores ‘gsp’), seguindo as diferentes linhagens celulares ao longo da vida do ratinho.

A vantagem desta técnica é o facto de não ser necessário extrair células dos animais, nem manipula-las, já que podem ser estudadas e acompanhadas no seu ambiente. A conclusão do estudo mostra que nos ratinhos adultos as duas linhagens celulares mamárias têm células estaminais mais diferenciadas do que se pensava. “Verificámos que a razão pela qual os trabalhos anteriores observavam a bipotencialidade foi por terem analisado células que foram retiradas do seu ambiente natural e, por isso, comportaram-se de maneira diferente”.

“As primeiras investigações usavam células extraídas dos ratinhos, posteriormente injectadas noutro modelo animal e este procedimento altera a capacidade das células", contou ainda a Ana Sofia Rocha. O novo estudo mostra que usando a mesma estratégia, o resultado mantinha-se, mas se forem estudadas no tecido (ambiente celular correcto), já não se verifica o mesmo resultado. “Na prática, para conseguir resultados correctos, o estudo tem de ser reproduzido em tecidos ‘in vivo’”, assegurou.

Penalizada pela idade

Ana Sofia Rocha integrou o laboratório da universidade belga em Abril de 2008, no âmbito do seu projecto de pós-doutoramento e há já três anos que se dedica ao estudo do cancro da mama. A investigadora portuguesa iniciou a sua investigação em cancro da tiróide.

Confessou ao «Ciência Hoje» que terá possivelmente de mudar novamente de área, por não ter uma posição fixa. “É surpreendente o que acontece aqui e não é positivo saber que o meu acesso a todo e qualquer financiamento está bloqueado porque me consideram acima da idade”. Gostaria de continuar o meu trabalho nesta área, mas aqui estou limitada por ter 37 anos”, lamentou.






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