domingo, 26 de fevereiro de 2012

Mito desmontado, mito remontado!

Em Setembro de 2011 foi publicado um artigo científico numa revista de grande impacto onde se sustentava que as sirtuinas (família de enzimas cuja actuação está ligada ao aumento do tempo de vida e ao envelhecimento saudável) não tinham quaisquer efeitos na longevidade. Em particular, os autores defendiam que o trabalho desenvolvido ao longo de cerca de 15 anos por vários grupos por todo o mundo não passava de uma infeliz interpretação de resultados científicos pouco rigorosos.
Nos últimos dias organizei, com outros colegas, o primeiro congresso sobre sirtuinas. Teve a chancela dos “Keystone Symposia”, uma das mais prestigiadas instituições que organizam congressos científicos. Decorreu em Lake Tahoe, nos EUA, e reuniu os maiores especialistas desta area a nível mundial.

Infelizmente, os autores do estudo acima mencionado optaram por não estar presentes, pelo que os seus resultados não puderam ser discutidos dentro da comunidade científica.

De qualquer forma, este congresso foi um sucesso marcado pelo grande entusiasmo dos investigadores sobre o papel destas proteínas nas nossas células e nas suas possíveis funções biológicas, ainda mal conhecidas. A sirtuina 1, por ser a mais estudada, foi aquela de que mais se falou.



Resveratrol está presente no vinho tinto
Mais uma vez, vários grupos apresentaram resultados promissores sobre o seu papel no aumento da longevidade. O resveratrol, composto fenólico presente no vinho tinto, foi também um dos temas discutidos pela controvérsia sobre os seus efeitos na activação da sirtuina 1. Ainda que o mecanismo da sua actuação não esteja totalmente estabelecido, a verdade é que vários dos grupos mais importantes apresentaram resultados impressionantes sobre a sua actividade, agora também em primatas! Numa conversa informal, tomei conhecimento de que um dos pioneiros nesta área começou, ele próprio, a tomar resveratrol diariamente, há um ano e meio. O tempo dirá se viverá mais tempo.

A sirtuina 2, que em 2007 demonstrámos ter um papel protector na doença de Parkinson, teve também alguma atenção e apresentámos os nossos resultados mais recentes a confirmar estes efeitos.

No entanto, a maior novidade veio da sirtuina 6. Um grupo de Israel apresentou resultados muito interessantes que serão publicados brevemente na revista Nature, demonstrando que também esta sirtuina pode ser manipulada e aumentar a longevidade de animais de laboratório como os ratinhos.

Como escrevi no comentário à notícia no CH do dia 21/9/2011, penso que a mensagem a reter é de que precisamos de mais investigação e que, na ciência como noutras áreas, não há verdades absolutas. O mito do gene da longevidade não está desmontado e os investigadores não desistiram de o demonstrar.

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