segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Insónia envolvida em depressões e enxaquecas

Além do envolvimento da falta de sono no risco aumentado de AVC, como o «Ciência Hoje» noticiou anteontem, outro dos temas em debate no Congresso de Neurologia 2012, que se realiza a partir de amanhã e até domingo, em Lisboa, é a relação entre a insónia e patologias como a depressão ou as enxaquecas. Entre 50 a 60 por cento dos portugueses que sofrem de insónias experimentam estas patologias. Segundo a neurologista Lívia de Sousa, a falta de sono deriva do estilo de vida actual, pois “nas sociedades ocidentais há uma cultura do estar on, principalmente pela conciliação da profissão com os afazeres familiares”. Nas consultas de enxaquecas uma “queixa frequente dos doentes é a de não terem tempo para dormir, o que acaba por contribuir para que esta patologia se torne crónica”. Com a enxaqueca podem coexistir outras patologias como a depressão. Esta “também pode acompanhar-se de insónia ou, mais raramente, hipersónia (sonolência excessiva)”. Estas doenças afectam sobretudo as mulheres, pelo menos é o que se verifica na “prática clínica”. No entanto, “quando são os homens os doentes, a situação é, em geral, mais difícil de resolver”. Vários factores hormonais podem estar envolvidos nestes problemas. A enxaqueca “é mais frequente após a puberdade nas mulheres, sendo que as crises são mais intensas na altura do período menstrual. Em geral, melhora na gravidez e, pelo menos um terço, na menopausa”. Relativamente à relação entre o sono e os quadros depressivos, Carlos Góis, psiquiatra, afirma que “hoje em dia considera-se que existe uma associação bidirecional entre as perturbações afectivas e a insónia mantida, ou seja, a ansiedade e a depressão aumentam o risco de incidência de insónia, sendo o reverso também verdadeiro”. O facto de dormirmos cada vez menos e pior reflecte-se em sintomas como “sonolência diurna ou hiperactividade, irritabilidade e ansiedade consoante a susceptibilidade pessoal. Pode ocorrer alteração da memória e de concentração. Um maior absentismo ou propensão para acidentes pode derivar destas alterações”. O aumento do diagnóstico de depressões em Portugal não é só explicado pelo facto de dormirmos mal. “A perturbação dos ritmos circadianos (ciclo biológico do sono) e a sua dessincronização sistemática está provavelmente relacionada com o aumento do risco de aparecimento de depressão, mas é um factor a acrescentar a tantos outros candidatos, como a alimentação não saudável, a desigualdade e o isolamento sociais”, explica Carlos Góis. Organizado pela Sociedade Portuguesa de Neurologia, o Congresso de Neurologia, este ano subordinado ao tema «O Sono e os Sonhos», tem lugar no Hotel Sana. O programa pode ser consultado aqui.

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