segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Melro-preto é principal portador da bactéria

A bactéria Borrelia burgdorferi encontra-se em reservatórios vertebrados que são pequenos mamíferos, répteis e também as aves. Quando uma carraça pica uma ave que tenha a bactéria, pode ficar infectada. Posteriormente, a carraça, especialmente a Ixodes ricinus, ao picar o homem pode transmitir-lhe a bactéria que é a responsável pela borreliose de Lyme, uma doença que, se não for tratada no estádio inicial, provoca lesões graves no sistema neurológico, dermatológico e articular. “No estudo verificámos quais eram as aves que estavam mais infestadas por carraças ou seja que eram as hospedeiras mais importantes das carraças, que são o vector da doença”, explica Cláudia Norte, coordenadora do estudo que incluiu cinco investigadores da Universidade de Coimbra, do Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e da Universidade de Neuchâtel (Suíça). Entre as 20 espécies de aves analisadas, o melro-preto e o pisco-de-peito-ruivo eram os mais infestados por carraças. “No pisco-de-peito-ruivo não detectei nenhuma carraça infestada com a bactéria Borrelia burgdorferi. Contudo, as carraças encontradas no melro-preto estavam infectadas, portanto é a espécie de ave que parece ter um papel mais importante no ciclo da bactéria na natureza”, pormenoriza a investigadora. As colheitas de amostras foram feitas mensalmente para avaliar as variações sazonais. A investigação liderada por Claudia Norte foi pioneira em Portugal porque “havia pouca informação acerca da ecologia da bactéria que causa a doença”, diz a investigadora. A este motivo juntou-se um outro que se prende com a existência no país a Borrelia lusitania, uma estirpe rara desta bactéria. “Até ao momento não tinham sido estudados os reservatórios dessa estirpe em particular. Havia alguma indicação de que podiam ser as aves os reservatórios, e como o meu background é trabalho com aves, resolvi fazer esse estudo”, comenta Cláudia Norte. A investigadora não detectou Borrelia lusitania nas aves analisadas o que leva a concluir que, dentro das espécies estudadas, “as aves não são importantes reservatórios de Borrelia lusitania”. O trabalho desenvolvido ao longo de um ano permitiu ainda detectar a presença em Portugal da estirpe B. turdi, que se julgava muito circunscrita geograficamente. “A nova estirpe tinha sido detectada apenas no Japão. Estudos muito recentes, de 2011 e 2012 detectaram a B.Turdi na Noruega, também associada às aves, e em Espanha. Agora verificamo-la também em Portugal. Parece haver uma distribuição geográfica muito maior do que se pensava”, adianta Cláudia Norte. A borreliose de Lyme foi detectada pela primeira vez em Portugal em 1989. Desde então surgem anualmente 35 novos casos. As aves foram recolhidas na Tapada de Mafra e na Mata do Choupal. A equipa recolheu amostras de sangue e de outros tecidos e de carraças que estivessem a parasitar as aves. Foi feita uma avaliação molecular para detectar a bactéria Borrelia burgdorferi. Cláudia Norte sublinha a importância deste estudo porque borreliose de Lyme “é uma doença emergente que está a aumentar em área geográfica e é preciso estudar cada um dos aspectos do ciclo da bactéria causadora da doença”. A terminar, a entrevistada deixa um conselho: “O uso de roupas claras para um passeio no campo ou em matas, onde normalmente existem carraças, e o cuidado de verificar se alguma carraça se alojou no corpo. Em caso afirmativo, retirá-la o mais rapidamente possível porque a bactéria demora algumas horas a passar efectivamente para o homem. Após a picada, se a doença não for devidamente tratada com antibiótico, numa fase inicial, a bactéria pode disseminar-se pelo organismo e provocar lesões graves aos níveis neurológico, cardíaco e articular”.

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