quinta-feira, 12 de abril de 2012

Investigadora da Gulbenkian no encalço
de novo marcador que prediz cancro da mama

Sofia Braga é uma das vencedoras das Bolsas Terry Fox

2012-03-08


Sofia Braga
“O cancro da mama é a primeira causa de morte nas mulheres do mundo ocidental, entre os 20 e 60 anos. Não são os acidentes de viação ou outros, mas sim esta doença”, salientou ao jornal «Ciência Hoje», Sofia Braga, investigadora no Programa de Formação Médica Avançada, coordenado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com a Fundação Champalimaud.

A médica oncologista do Centro Clínico Champalimaud recebe hoje a bolsa Terry Fox, atribuída em “contexto doutoral”, cujo valor (15 mil euros anuais) será dedicado a estudar um novo potencial marcador de progressão do cancro da mama, no seguimento da investigação desenvolvida até agora e que poderá servir de base a novos testes prognósticos.
“Fazemos quimioterapia aos pacientes, mas é uma doença onde há recaídas", explica acrescentando que conseguir prever a reincidência é “uma questão fundamental, porque quando há uma recaída significa que é incurável”. Durante o doutoramento, no grupo de Genómica Computacional do IGC, Sofia Braga comparou os padrões de activação de genes de 3500 mulheres diagnosticadas precocemente com cancro da mama, com e sem recaídas. Dos genes que estão diferentemente activados em mulheres que sofreram recaídas e as que não, a equipa identificou 65 que foram comparados dentro de uma base de dados. A informação foi recolhida em duas camadas e para a segunda, a informação foi baseada em linhas celulares e na drosophila (mosca da fruta).

O segundo passo é mais dirigido a uma camada biológica e mecanística – “há estruturas na célula que ajudam a fazer a mitose”, explicou ao CH. Sofia Braga refere que é necessário saber que genes estão envolvidos na regulação dos centrossomas (estruturas celulares essenciais para a organização do esqueleto da célula). “Quando se descobre a doença, o primeiro objectivo é a cura e quando há uma recaída é o controlo; por isso, é tão importante chegar aos genes (em todo o genoma) que me ajudam a saber previamente que mulheres tiveram uma recaída”, sublinhou.



Terry Fox
As bolsas Terry Fox, no valor de 30 mil euros anuais, são atribuídas pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) – Núcleo Regional Sul e pela Embaixada do Canadá. As verbas são angariados pela Corrida Terry Fox, que se realiza todos os anos, em homenagem ao jovem canadiano que atravessou o país a pé, com o objetivo de angariar financiamento para a investigação em cancro. A cerimónia de entrega das bolsas decorreu no Dia Internacional da Mulher.Centrossomas

“A ligação entre centrossomas e cancro foi estabelecida há já um século, e os cientistas sabem hoje que muitas células cancerosas têm centrossomas anómalos, ou em número excessivo – o que despoleta a paragem da divisão celular, e, em última instância, o suicídio da célula. Ao estarem sobre-ativados, é possível que os genes que regular os centrossomas se sobreponham aos sinais de suicídio, de forma que as células se mantêm vivas, proliferam, induzem metástases e mau prognóstico para a doente”, assinala ainda o comunicado.

São regularmente utilizados por serem marcadores de recaída estabelecidos, mas identificaram também novos candidatos a marcadores: vários genes envolvidos na regulação dos centrossomas também estão activados de forma diferente entre as duas amostras.

“Estes foram resultados preliminares entusiasmantes, mas têm de ser alargados, porque ainda não estamos seguros do nosso poder preditivo”, contou. Sofia Braga relembra que é “imperiosa a necessidade de submergir médicos em ciência”, assim como ter "uma equipa que combina uma multidisciplinaridade de áreas" – microscopia, biologia molecular e celular, entre outras –, disse frisando “a evidente importância da bioinformática, já que o trabalho tem uma componente computacional fortíssima.

Sofia Braga trabalhou como oncologista no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, em 2008, até ter iniciado o programa doutoral da Champalimaud e Gulbenkian. O trabalho realizar-se-á no Instituto Gulbenkian da Ciência e no IPO, em colaboração com investigadores no Dana Faber Cancer Institute (Harvard, EUA).




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