Pense duas vezes antes de tomar antibióticos!
“Consumo indiscriminado aumenta nível de resistências” ao fármaco, alerta investigadora
2012-04-04
Por Susana Lage
Gabriela Jorge da Silva
Em Portugal existem estirpes de bactérias “praticamente resistentes a todos” os antibióticos. Este “enorme problema” pode resultar da “falta de uma política para os antibióticos que tornou o seu consumo indiscriminado, aumentando o nível de resistências quer a nível hospitalar como da comunidade”, alerta Gabriela Jorge da Silva ao Ciência Hoje.
Os antibióticos, diz a cientista, são “indicados para um determinado tipo de infecção, de bactéria e de pessoa. Por isso, devem ser cuidadosamente administrados e consumidos”.
No sentido de descobrir quais são os genes de resistência que existem actualmente no País e a forma como as bactérias conseguem disseminar esses genes, a investigadora e equipa multidisciplinar da Universidade de Coimbra (UC), constituída por farmacêuticos, biólogos, técnicos de saúde pública e veterinários, estão a estudar bactérias de origem hospitalar, animal e ambiental.
Com os resultados do estudo, os investigadores podem “prever qual é a disseminação no futuro e criar medidas prevenidas que devem ser adequadas especialmente ao ambiente hospitalar”, avança Gabriela Jorge da Silva. A investigação é ainda importante “para descobrir novos antibióticos”, sublinha.
Este trabalho centrado no estudo molecular da resistência e virulência de Acinetobacter sp., E. coli, Klebsiella sp. e Salmonella sp., foi iniciado durante o doutoramento de Gabriela J. da Silva, há mais de 10 anos. Ao longo do tempo, “fui diversificando um pouco e em vez de fazer apenas estudos clínicos tenho vindo a incluir estirpes de origem animal e ambientais”, descreve a também docente da Faculdade de Farmácia da UC.
Os antibióticos são “indicados para um tipo de infecção, bactéria e pessoa"
Neste momento, segundo a coordenadora da equipa da UC, já foram descobertos “genes de resistência novos que podem inibir a alteração de grandes famílias de antibióticos” e também identificadas as “estruturas genéticas que carregam esses genes”.
O que agora os investigadores estão a fazer é aprofundar o estudo a nível genético e “ver se as bactérias e os antibióticos que vêm para o exterior através das águas, por exemplo, até quer ponto conseguem selecionar resistências no ambiente”.
Considerando a resistência a antibióticos “um grande problema de saúde pública”, Gabriela J. da Silva considera que para preveni-lo “tem de haver uma educação enorme quer do pessoal clínico, quer da própria população que acha que tomar antibiótico para uma gripe está correcto”.
Há que lembrar que o tratamento de infeções provocadas por bactérias resistentes aos antibióticos “impõe novas consultas médicas, prolonga a hospitalização do doente, com sofrimento e custos associados acrescidos, obriga à utilização de antibióticos mais caros, e contribui para o aumento da taxa de mortalidade”, conclui.
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