quinta-feira, 12 de abril de 2012

Portugueses colaboram em estudo
sobre bactéria resistente a fármacos

Investigadores propõe associação de fármaco para tratar infecções provocadas pela bactéria 'Staphylococcus aureus'

2012-03-21




“Portugal tem as estirpes mais resistentes a nível europeu” (mapa referente a um estudo de 2008)
Uma equipa de investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), da Universidade Nova de Lisboa em Oeiras, colaborou no estudo, publicado hoje na «Science Translational Medicine», uma publicação da AAAS, onde se dá a conhecer um novo fármaco, que, co-administrado com um antibiótico disponível actualmente, poderá tratar as infecções provocadas pela bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina, também conhecida pela sigla SARM.

Em conversa com o «Ciência Hoje», Mariana Pinho, explicou que o que a sua equipa fez foi tentar perceber os mecanismos dos compostos que, agindo sinergeticamente, quebram a resistência da bactéria.


A propagação das infecções de SARM, é um problema “difícil de combater”. A sua maior proliferação é no meio hospitalar. Nos Estados Unidos, por exemplo, “morrem por ano mais pessoas devido a infecções com esta bactéria do que devido ao HIV e à tuberculose juntos”, informa a investigadora.

Em Portugal não existem dados sobre as mortes. No entanto, as bactérias Staphylococcus aureus que foram isoladas nos hospitais eram resistentes a antibióticos. “Portugal tem as estirpes mais resistentes a nível europeu”, sublinha.

“O que caracteriza a nossa investigação são os estudos por microscopia de fluorescência”. Ou seja, “olhamos para o que se passa dentro da bactéria” para tentar perceber quais os mecanismos pelos quais os compostos combatem a resistência da bactéria.

“É muito caro desenvolver novos antibióticos” para colmatar os que deixaram de funcionar. Por isso é uma “vantagem óbvia” associar um fármaco a outro que já exista, “principalmente se já passou nos ensaios clínicos”, diz a investigadora.




Mariana Pinho
A combinação estudada pela equipa liderada por Christopher Tan, do Merck Research Laboratories, em Kenilworth, Nova Jérsia, é de um novo fármaco chamado PC190723 com uma classe de antibióticos usados actualmente chamados beta-lactamas.

A combinação de ambos ressensibiliza a SARM através de um “efeito dominó”, onde o primeiro bloqueia a expressão da proteína FtsZ da divisão celular, que danifica uma segunda proteína chamada PBP2. Como esta é necessária para a resistência aos antibióticos beta-lactâmicos, o facto de interferir na sua actividade torna a SARM novamente sensível.

A inativação da proteína FtsZ parece também inibir o crescimento e a viabilidade de SARM. Esses dois antibióticos agem sinergeticamente, o que significa que seus efeitos combinados de combate a SARM são muito maiores do que os efeitos de cada fármaco separadamente. Além disso, é necessário uma quantidade substancialmente menor de cada um para combater a infecção.

Esta investigação é um primeiro passo para a criação de um medicamento contra as infecções por SARM. No entanto, diz Mariana Pinho, isso ainda pode demorar anos, visto não estar ainda em fase de ensaios clínicos.

Artigo: «Restoring Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus Susceptibility to β-Lactam Antibiotics»




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