quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fonte da eterna juventude sempre esteve nos nossos genes Cancro: Cientistas conseguem inverter processo de envelhecimento 2011-02-03

Uma equipa de cientistas liderada pelo luso-americano Ronald dePinho conseguiu, pela primeira vez, inverter o processo de envelhecimento através da manipulação genética, abrindo o caminho para uma espécie de “fonte da juventude” nas células humanas. Publicado na revista «Nature» no final de 2010, o estudo tem vindo a receber grande atenção mediática.

Em entrevista, o investigador, professor na escola de medicina de Harvard e no Dana Farber Cancer Institute, explicou que a sua equipa conseguiu artificialmente “ligar e desligar” o gene responsável pela reparação do ADN de ratos em laboratório.
As cobaias foram primeiro sujeitas a envelhecimento prematuro, que causou a perda de capacidades cognitivas e sinais exteriores, e quando o gene “voltasse a ser ligado” esperava-se um “abrandamento do processo de envelhecimento ou estabilização”.

“Em vez disso, vimos uma inversão dramática dos sinais e sintomas do envelhecimento: o cérebro aumentou de dimensão, a memória melhorou, deixou da haver pelos grisalhos e regressou a fertilidade” – o que significa “que há uma tremenda capacidade de os nossos tecidos se rejuvenescerem por si próprios”, adiantou dePinho.

Mostra como a manipulação, através de enzimas, das extremidades dos cromossomas responsáveis pela regeneração das células, os telómeros, pode inverter o envelhecimento e doenças relacionadas com a idade, como cancro, diabetes ou Alzheimer. Apesar da importância da descoberta, o trabalho a fazer é ainda “tremendo”, afirma, e será precisa “uma década ou mais” até que se chegue a “uma estratégia segura e eficaz” para reparar o ADN.

“Se conseguíssemos descobrir uma droga que pudesse especificamente reactivar este gene e reparar os telómeros, as pessoas teriam menos problemas relacionados com a idade, diabetes ou doenças de coração”, afirma.

Estilo de vida saudável tem impacto imediato na longevidade
Estilo de vida saudável tem impacto imediato na longevidade
Entre as dificuldades que os investigadores enfrentam está perceber em que momento se deve ‘ligar’ este gene e por quanto tempo, porque também células cancerosas podem ser estimuladas, caso estejam presentes no organismo. “Para se poder começar a multiplicar e nunca envelhecer, uma das coisas que a célula cancerosa faz é ligar este gene. Se temos um cancro que já começou e ligarmos o gene, podemos torná-lo mais agressivo”, afirma dePinho.

“Atrasar o relógio já hoje”

Além de procurar entender o “calendário próprio” para reactivar o gene, a sua equipa vai agora debruçar-se em como é que os tecidos retêm a capacidade de rejuvenescimento, ou seja “os processos biológicos e moleculares que permitem criar esta resposta tremenda”. Ainda há muito trabalho pela frente antes de se conseguir tirar partido disto e, em última análise, "melhorar a saúde humana”, afirmou.

Co-fundador de empresas de investigação médica – uma delas (Aveo Pharmaceuticals), cotada no Nasdaq – dePinho defende que o conhecimento “ainda é muito básico para poder ser conduzido esforço comercial”.

Segundo dePinho, esta e outras investigações já deixaram claro é que as pessoas podem começar a “atrasar o relógio já hoje”. “É essencialmente fazer exercício, comer devidamente e não fumar. Um estilo de vida saudável tem impacto imediato na longevidade”, sustentou.

Ronald dePinho
O cancro roubou-lhe o pai, mas deu-lhe também o incentivo para se lançar na investigação médica sobre aquela doença e o envelhecimento, que já lhe valeu vários prémios internacionais, embora ainda não o Nobel. “Dediquei a minha vida a encontrar curas para o cancro e por causa do meu pai trabalho tanto nessa área e no envelhecimento”, disse dePinho em entrevista.

Como milhões de emigrantes, o pai do investigador e professor da escola de medicina de Harvard e do Dana Farber Cancer Institute (Boston) cresceu “sem oportunidades” no país de origem. Depois de uma experiência mal sucedida no Brasil, aos 17 anos, chegou ao porto de Nova Iorque como tripulante de um navio e deu o “salto” para a imigração ilegal, começando por trabalhar na construção.

“Gostava tanto deste país e daquilo que ele representava que se alistou para a Segunda Guerra Mundial e assim conseguiu a cidadania”, contou. Ainda regressou a Portugal depois da guerra, onde conheceu a mulher que viria a levar para os Estados Unidos.

Com um sócio, montou uma empresa de construção, negócio que lhe permitiu criar os cinco filhos, que incentivou para os estudos. “Tive a sorte de ter pais tremendamente devotados aos filhos e que realmente apoiam a família em primeiro lugar, sempre”, continuou.

Ronald visitava habitualmente Portugal, onde tinham uma quinta no Furadouro (Ovar), mas o hábito foi-se perdendo. Recentemente, retomou algum contacto com o nosso país através do programa de associação da escola de medicina de Harvard com faculdades portuguesas, e surpreendeu-se ao regressar para o simpósio inaugural.

DePinho recebeu em 2009 o prémio Albert Szent-Gyrgyi para investigação sobre cancro, e em 2007 a medalha de Helsinki, além de anteriores distinções da American Society for Clinical Investigation.

O seu nome já foi algumas vezes referenciado para o Nobel, e uma colaboradora próxima, Carol Greider, recebeu esta distinção em 2009. O luso-americano diz-se satisfeito com o reconhecimento que o trabalho da sua equipa tem merecido e diz que o Nobel o deixaria “claramente surpreendido”. “A maior satisfação que tenho é a de ver os meus estudantes e estagiários a fazerem coisas importantes, a contribuírem para a sociedade”, disse à Lusa.


http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=47235&op=all

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