segunda-feira, 9 de junho de 2014

Comportamento de jogadores em desportos de equipa pode ser um processo auto-organizado

A forma como os jogadores de equipas de Futebol, Basquetebol ou Rugby se coordenam uns com os outros é menos prescritiva do que se supunha, ou seja, a interacção que se estabelece entre jogadores cria informação que especifica quais as possibilidades de acção que ficam disponíveis em cada instante do jogo.

A conclusão é de uma investigação realizada pelo Laboratório de Comportamento Motor da Faculdade de Motricidade Humana/Universidade Técnica de Lisboa em colaboração com School of Human Movement Studies da Queensland University of Technology, na Austrália e publicada recentemente na revista Sports Medicine.

No entanto, a informação só é relevante dentro de regiões críticas, caracterizadas por distâncias interpessoais curtas – no Rugby, por exemplo, caracterizam estas regiões com distâncias entre atacantes e defesas com valores inferiores a quatro metros. Dentro destas áreas cria-se uma dependência contextual entre os jogadores (parceiros de equipa e adversários), fazendo com que o comportamento de uns esteja dependente e faça depender o comportamento dos outros.

Esta influência mútua e recíproca entre jogadores está na base da não-linearidade dos comportamentos, o que resulta numa baixa capacidade de prever com precisão o que vai acontecer sempre que um atacante e um defesa se encontram. Esta interacção entre eles pode ser medida por variáveis como distâncias interpessoais e velocidades relativas, as quais oferecem informações relevantes sobre quem está em vantagem. Sabe-se, por exemplo, que no Rugby em distâncias interpessoais curtas (aproximadamente quatro metros) o jogador que estiver a aumentar a velocidade da sua linha de corrida terá vantagem sobre o seu adversário.

Esta hipótese do comportamento dos jogadores em desportos de equipa ser sustentado por mecanismos de auto-organização levanta questões em relação à forma como o treino deve ser conduzido. O facto do comportamento entre atacantes e defesas ser não-linear sugere que o treino vai muito para além de uma base prescritiva (relação causa-efeito) e como tal o treino deve proporcionar aos jogadores contextos de prática, onde estes aprendam a lidar com essa não-linearidade.

A instrução e os constrangimentos tácticos impostos pelo treinador ou sistema de jogo da equipa, vão seguramente influenciar, mas não vão determinar a forma como os jogadores se comportam dentro de campo, esse comportamento é ‘determinado’ pela forma como cada jogador explora activamente a relação com os que lhes estão próximo.

A auto-organização significa que a informação que regula decisões e acções dum jogador de Rugby durante um jogo é criada localmente, como resultado da sua interacção com outros jogadores que lhe estão próximo. A ideia de auto-organização opõe-se à hipótese de que os comportamentos dos jogadores durante um jogo são essencialmente regulados por ideias ou planos prévios.

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