segunda-feira, 9 de junho de 2014

UE financia investigação para eliminar bolores do queijo da Serra e estudar biomoléculas dos cogumelos

O Queijo Serra da Estrela DOP e os cogumelos silvestres nativos são os dois grandes embaixadores da gastronomia portuguesa cujo desenvolvimento da produção será alavancado através de dois projectos de inovação tecnológica, recentemente aprovados pela União Europeia.

O estudo de investigação aplicada ao queijo será desenvolvido pela BLC3 – Plataforma de Desenvolvimento da Região Interior Centro, em parceria com a Universidade do Minho e uma queijaria da região demarcada, a Casa Matias, para contrariar a grande indisciplina de mercado deste produto, que se arrisca mesmo a entrar em vias de extinção. Na área, apenas dez por cento do queijo é produzido com leite da raça Bordaleira Serra da Estrela, sendo o restante fabricado com leite importado de Espanha e de outras regiões.

O projecto aprovado, que obteve um financiamento de 259 mil euros, destina-se exclusivamente ao Queijo Serra da Estrela certificado, e prevê a criação de um “kit” analítico que diferencie o queijo produzido com o leite da raça Bordaleira Serra da Estrela daquele que incorpora leite espanhol ou outros; a eliminação dos bolores, que dificultam a conservação do produto após os 35 a 40 dias de cura e fatiagem em doses individuais, para responder aos novos padrões de consumo, com embalamento no auge da qualidade, que mantenha a textura da fatia e permita a sua conservação, sem bolores.

Com este choque tecnológico numa riqueza regional que foi considerada como uma das sete maravilhas da gastronomia portuguesa, um dos grandes objectivos passa por criar condições efectivas para que o queijo possa entrar em mercados gourmet nacionais e internacionais a que hoje não tem acesso, podendo ser substancialmente valorizado, e invertendo-se assim o desinteresse na produção a que se vem assistindo.

Cogumelos e trufas
Relativamente à candidatura dos cogumelos silvestres nativos, está em causa o lançamento de um projecto biotecnológico para fomentar o desenvolvimento da produção no interior do país.

Neste projecto, a BLC3, numa parceria estabelecida com o Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e a Voz da Natureza – uma empresa incubada na BLC3 com actividade na área da investigação científica e tecnológica para o desenvolvimento de produtos inovadores –, pretende incentivar na região interior centro do país a produção de inóculo de cogumelos silvestres nativos e investigar as biomoléculas e as condições para a produção de trufas – fungos do solo que formam cogumelos subterrâneos e que, nos mercados internacionais, têm uma cotação que varia entre os 400 e 500 euros por quilo.

Em Portugal, o potencial industrial, económico e ambiental associado aos cogumelos silvestres tem sido subvalorizado e a BLC3 propõe-se avançar com um Centro de Micologia Aplicada, de forma a alavancar o desenvolvimento de uma nova economia na região, através da valorização do território e dos melhores recursos que esta gera.

Note-se que a exploração deste tipo de produtos – os ecossistemas florestais “escondem” uma ampla diversidade de cogumelos silvestres que poderão ser altamente valorizados nos mercados internacionais – é de grande potencial. Porém, Portugal – ao contrário do que já acontece com países como Espanha, França e Itália – não apresenta fluxos comerciais significativos que possa gerar actividades empresariais com elevado retorno económico.

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