segunda-feira, 9 de junho de 2014

Estudo revela diferentes impactos sobre a biodiversidade em todo o mundo As regiões polares receberam uma atenção substancial porque estão a passar por um grande aumento na temperatura

A redução das camadas de gelo (ice sheets) e o derretimento das calotas polares, bem como os impactos desses fenómenos na biodiversidade, são consequências bem conhecidas das alterações climáticas. Mas um novo estudo de uma equipa internacional que inclui investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), publicado recentemente pela revista Science, revela que os impactos sobre a biodiversidade serão igualmente graves noutras regiões do mundo. 
Quando as múltiplas dimensões das alterações climáticas são analisadas, verifica-se que várias regiões são ameaçadas por diferentes aspectos. Por exemplo, é previsto que os trópicos, sejam altamente afectados por alterações locais da temperatura e precipitação, o que conduzirá a climas completamente diferentes dos actuais. Os resultados deste estudo expõem a complexidade dos efeitos das alterações climáticas na biodiversidade e os desafios que se apresentam na previsão destes impactos e na preservação dos ecossistemas naturais num mundo em mudanças.

“As regiões polares receberam uma atenção substancial porque estão a passar por um grande aumento na temperatura. A extensão dos climas polares decrescerá, o que implica uma redução no habitat disponível para espécies árticas e sub-árticas”, explica o investigador principal do estudo Miguel Araújo, coordenador do pólo do CIBIO-InBIO na Universidade de Évora, professor no Imperial College em Londres e investigador no Museu Nacional de Ciências Naturais em Madrid.

Miguel acrescenta que “Independentemente destas alterações, o aquecimento nos trópicos deverá criar condições climáticas completamente novas, e que actualmente não são experimentadas por nenhuma espécie em qualquer lugar na Terra. A eventual capacidade das espécies se conseguirem adaptar a estas novas condições climáticas é ainda uma questão em aberto. Existe o risco de negligenciarmos estas informações vitais, uma vez que o aumento da temperatura nas regiões polares é mais fácil de compreender”,

Algumas espécies enfrentam eventos extremos, outras enfrentam longas deslocações
Este estudo, que resulta de uma colaboração internacional que inclui o CIBIO-InBIO/Universidade de Évora, o CSIC (Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid) e as universidades de Copenhaga, Helsínquia e o Imperial College de Londres, é o primeiro a fornecer uma visão extensiva e detalhada do impacto de diferentes padrões de variação das alterações climáticas na biodiversidade.

Através da utilização de 15 modelos disponibilizados pelo IPCC (Painel Internacional para as Alterações Climáticas), os investigadores examinaram a forma como diferentes aspectos inerentes às mudanças na temperatura e precipitação poderiam afectar a persistência das espécies em todo o mundo. A maioria dos indicadores de mudanças climáticas disponíveis foi revista e aplicada ao século XXI, e os padrões emergentes de alterações climáticas foram relacionados com as ameaças e oportunidades previstas para a biodiversidade.

Segundo Raquel Garcia, investigadora do CIBIO-InBIO/Universidade de Évora, do CSIC e do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga, “o impacto das alterações climáticas na biodiversidade pode ser medido de diversas formas, algumas das quais bastante diferentes das que são tradicionalmente utilizadas. Por exemplo, podemos medir se eventos extremos se poderão agravar ou atenuar, se determinadas condições climáticas estarão mais ou menos disponíveis, e em que medida as condições climáticas poderão estender-se para além das suas áreas de impacto actuais”.

A investigadora explica que “quando se projecta essa variedade de medições em cenários futuros, torna-se evidente que a biodiversidade irá experimentar diferentes desafios climáticos em diferentes regiões do planeta. É previsível que o aquecimento extremo e eventos de seca, por exemplo, afectem principalmente os trópicos, causando uma grave ameaça a espécies mais sensíveis. Quando consideramos a extensão das áreas potencialmente afectadas pelas mudanças climáticas, verificamos que esta é maior em regiões de clima frio e polar. Portanto, espécies existentes nessas regiões terão maiores dificuldades em acompanhar os tipos de clima a que estão adaptadas”.

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