sexta-feira, 6 de setembro de 2013

“Cozinhar tornou-nos humanos”

Segundo um estudo publicado hoje na Proceedings of the National Academy of Sciences, por uma equipa Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, cozinhar ajudou o cérebro humano a desenvolver-se. Suzana Herculano-Houzel e Karina Fonseca-Azevedo, investigadoras responsáveis pela investigação, explicam que uma dieta baseada em alimentos crus impõe limitações energéticas aos grandes primatas –o que explica por que os gorilas, por exemplo, que podem ser até três vezes maiores do que os humanos e têm o cérebro consideravelmente menores. Já o antropólogo biológico de Harvard, Rich­ard Wrang­ham, defendeu num estudo que “cozinhar nos tornou humanos”, por ter trazido valores nutricionais e assim desenvolver o tamanho do cérebro. As autoras referem no artigo que existem trocas entre o crescimento da massa corporal e o cérebro, já que este último consome bastante energia – o que é relevante em termos fisiológicos. O cérebro está tão “faminto de energia” que, nos seres humanos, representa 20 por cento do metabolismo, mesmo que seja equivalente a apenas dois por cento de massa corporal. O estudo desenvolve um modelo que relaciona o número de calorias ingeridas numa dieta à base de alimentos crus e a quantidade de energia necessária para o crescimento da massa corporal e do correspondente número de neurónios. Para descobrir o que diferenciava os humanos dos outros primatas, as cientistas compararam a dieta de todas as espécies relativamente a necessidades diárias de calorias. "Um gorila, por exemplo, precisa se alimentar durante oito horas e meia para manter seu corpo e cérebro a funcionar", referiu Suzana Herculano-Houzel a um diário britânico. Os chimpanzés também se alimentam por um longo período, cerca de sete horas, mas conseguiram desenvolver um cérebro relativamente maior por terem um corpo menor. Homo erectus e o fogo Sendo assim, as investigadoras estimaram o número de horas que os grandes primatas precisam para desenvolver um corpo avantajado e um grande número de neurónios e mostraram que seria impossível os gorilas e orangotangos, entre outros, com as horas de alimentação de que dispõem, adquirirem calorias em número suficiente. O estudo defende que uma mudança na dieta durante o desenvolvimento dos Homo erectus, quando começaram a dominar o fogo e cozinhar os pedaços de carne e vegetais que anteriormente eram consumidos crus, o homem tornou-se capaz de digerir mais calorias a partir da mesma quantidade de comida, podendo gastar o 'excesso' de energia no desenvolvimento de novos neurónios. Além de aumentar a capacidade calórica e tornar as limitações metabólicas prévias irrelevantes, cozinhar também teria aumentado nosso tempo disponível para actividades sociais e que demandassem maior poder cognitivo.

Sem comentários:

Enviar um comentário