sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Doenças cardiovasculares já matam menos do que cancro

Registam-se menos de 200 mortes por dez mil habitantes 2013-06-12 Investigadores estudaram a variação dos factores de risco Investigadores estudaram a variação dos factores de risco Embora estejam na origem de cerca de um terço dos óbitos em Portugal, as doenças cardiovasculares já não são a primeira causa de morte no nosso país entre os homens. A taxa de mortalidade associada a doenças cardiovasculares, ajustada para a idade, diminuiu para cerca de metade nos últimos 30 anos, observando-se menos de 200 mortes por 10 mil habitantes, tanto em homens como em mulheres, em 2010. Os dados constam de um estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). O decréscimo deu-se maioritariamente à custa da melhoria dos tratamentos. Desenvolvido por Marta Pereira, no âmbito do seu projecto de doutoramento, este trabalho procurou avaliar como variou a mortalidade por doenças cardiovasculares no nosso país. Uma vez que a mortalidade depende da incidência da doença e da letalidade, os investigadores estudaram a variação dos factores de risco associados a estas doenças (hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabagismo), bem como os tratamentos utilizados. Os resultados demonstraram que, a partir do ano 2000, o número total de mortes devido às doenças cardiovasculares diminuiu, tanto nos homens como nas mulheres. Desde 2008 que a taxa de mortalidade por cancro supera a taxa de mortalidade das doenças cardiovasculares nos homens. Já nas mulheres, as doenças cardiovasculares mantêm-se como principal causa de morte. A análise dos factores de risco revelou que a prevalência da hipertensão arterial diminuiu consideravelmente, sobretudo à custa de alterações nos padrões alimentares (possivelmente devido à redução do consumo de sal). Os níveis de colesterol também desceram, mas mais por força do uso de estatinas – um fármaco usado para reduzir o nível de lípidos no sangue. No entanto, outros factores como a diabetes e a obesidade aumentaram significativamente. É de referir que o consumo de tabaco também é um factor de risco e verificou-se uma diminuição entre os homens e um aumento nas mulheres, sobretudo nas mais jovens. Cinco fármacos Em termos de tratamento, o estudo permitiu verificar que “a grande maioria dos doentes têm prescrição dos principais fármacos utilizados para prevenção secundária após um episódio da síndrome coronário agudo”, segundo referiu Marta Pereira, “mas apenas uma minoria sai do hospital com o tratamento óptimo, que inclui a toma de cinco medicamentos”. “Foi claro no nosso trabalho que os mais idosos têm menos prescrição de medicamentos, estando a ser privados de usufruir do tratamento optimizado aconselhado pelas recomendações nacionais e internacionais, mesmo tendo em consideração as principais contra-indicações”, continuou a investigadora da FMUP acrescentando que “só um terço dos idosos com idade acima dos 80 anos tinha prescrição para os fármacos”. Variações dos factores de risco No total, em 2008, registaram-se menos 2.135 mortes por doença coronária nos homens e menos 1.625 nas mulheres do que as que seriam esperadas se as taxas registadas em 1995 se mantivessem inalteradas. Metade desse resultado deveu-se às melhorias no tratamento farmacológico dos doentes e cerca de 42 por cento relacionou-se com as variações dos factores de risco. “Quer isto dizer que há espaço para agir, em termos de Saúde Pública, sobre os factores de risco, em Portugal, através da aposta na prevenção primária”, sumarizou a investigadora. Embora se registem melhorias ao nível dos valores de pressão arterial, colesterol, tabagismo e actividade física nos homens, impõe-se apostar na inversão da tendência observada na obesidade, na diabetes e no tabagismo nas mulheres. Até “porque o aumento destes factores nos adolescentes poderá ter como resultado uma nova inversão da curva de mortalidade por doenças cardiovasculares no futuro”, concluiu. Este trabalho integra um projecto mais abrangente, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e liderado pela investigadora do Departamento de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva e Saúde Pública da FMUP, Ana Azevedo.

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