sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Mara Freire quer produzir biofármacos a partir da gema de ovo Bolsa milionária atribuída a jovem investigadora

A investigadora Mara Freire, da Universidade de Aveiro, acaba de vencer uma das bolsas atribuídas pelo Conselho Europeu de Investigação, as maiores ao nível europeu. A cientista do Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos (CICECO) vai receber cerca de 1,4 milhões de euros ao longo de cinco anos para desenvolver o projecto “IgYPurTech: Uma tecnologia sustentável para a purificação de anticorpos”. O trabalho da cientista de Aveiro pretende, a partir de anticorpos retirados da gema do ovo, desenvolver biofármacos baratos e mais eficazes do que alguns dos actuais antibióticos. Presentemente, explica a investigadora, “há uma enorme preocupação com o aparecimento de microorganismos resistentes aos antibióticos e, consequentemente, de doenças que não respondem às terapias convencionais e de pessoas para quem a vacinação tradicional tem pouco efeito”. Estes desafios constituem assim forte motivação para o desenvolvimento de novos fármacos, alternativos aos conhecidos, entre os quais se contam os anticorpos, também conhecidos como biofármacos. No entanto, aponta Mara Freire, “o uso corrente de anticorpos está ainda condicionado pelo elevado custo da sua produção”. Nos últimos anos, o estudo da produção e purificação de anticorpos para uso em seres humanos tem-se centrado, principalmente, nos anticorpos produzidos por animais de pequeno porte. Contudo, para além do elevado custo de produção, a recuperação destes anticorpos requer o uso de práticas invasivas. Aveiro: dos ovos moles aos anticorpos Aveiro: dos ovos moles aos anticorpos “Uma potencial alternativa baseia-se na imunoglobulina Y (IgY), um anticorpo produzido em grande quantidade e presente na gema de ovo”, aponta a investigadora do CICECO. Para além da sua obtenção não fazer uso de técnicas invasivas, explica, “o facto de o IgY ser abundantemente produzido contribui para uma redução dos custos de produção pela indústria farmacêutica”. Missão: purificar o IgY Mas apesar de todas as vantagens associadas ao IgY, o seu custo é ainda significativo. “Isso deve-se à inexistência de uma técnica de purificação eficaz que separe a imunoglobulina de outras proteínas contaminantes”, aponta Mara Freire. Assim, o desafio maior do projecto premiado da UA é o desenvolvimento de uma nova técnica de purificação de IgY que, a partir da gema de ovo, permita obter os anticorpos com a pureza necessária à indústria farmacêutica e a um preço competitivo. Para tal, antevê Mara Freire, “recorrer-se-á à utilização de sistemas aquosos bifásicos constituídos por líquidos iónicos, sistemas contendo maioritariamente água, biocompatíveis e mais amigos do ambiente”. João Rocha: “O prémio agora atribuído permitirá a esta jovem criar no CICECO uma nova área de investigação muito inovadora João Rocha: “O prémio agora atribuído permitirá a esta jovem criar no CICECO uma nova área de investigação muito inovadora " O desenvolvimento de uma nova técnica para a purificação de anticorpos terá, garante a investigadora, “um impacto muito significativo na saúde humana e na economia”. Uma responsabilidade acrescida A notícia da entrega de uma das mais importantes bolsas europeias de apoio à investigação científica deixou a investigadora radiante. “Sinto que foi uma enorme conquista e um grande reconhecimento em relação ao trabalho científico que desenvolvi ao longo dos últimos dez anos”, revela Mara Freire. A distinção, “apesar de todas as novas responsabilidades que acarreta”, permitirá à cientista da UA “trilhar novos caminhos na investigação na procura de fármacos alternativos e financiar toda uma equipa de investigação”. João Rocha, diretor do CICECO congratula-se com o reconhecimento alcançado pela investigadora daquele Laboratório Associado da academia de Aveiro. “Portugal conta hoje com jovens cientistas cujo profissionalismo e criatividade ombreiam com o que de melhor se conhece lá fora”, aponta o responsável. De igual forma, João Rocha salienta que “o país tem também centros de investigação reconhecidos no mundo, que permitem aos nossos mais brilhantes cientistas desenvolver em pleno o seu potencial intelectual. O Laboratório Associado CICECO, que acolhe a Mara Freire, é um desses lugares”. O prémio agora atribuído permitirá a esta jovem criar no CICECO "uma nova área de investigação muito inovadora e com um potencial impacto económico considerável”, sublinha João Rocha.

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