sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Físico italiano do início do século 20 esteve «morto» e «vivo» ao mesmo tempo

A questão do ser ou não ser não atormentou apenas Hamlet mas também um físico Italiano, Ettore Majorana, que desapareceu em circunstâncias misteriosas nos anos 30 do século passado. Uma análise das cartas deste cientista sugere que terá conseguido criar a ilusão de estar vivo e morto ao mesmo tempo baseado nos seus conhecimentos de mecânica quântica. Esta semana passam cem anos sobre o seu nascimento. Segundo Enrico Fermi - Prémio Nobel em 1938 - seu supervisor no Instituto de Física de Roma, Majorana era genial, sendo uma personalidade comparável a Newton e Galileu. A ideias deste físico poderão ter sido subestimadas e começam actualmente a vir à luz sendo-lhe atribuída, por exemplo, a previsão de que os neutrinos têm massa – algo apenas confirmado na última década. A carreira promissora do jovem físico terminou abruptamente aos 31 anos com o seu desaparecimento durante uma viagem de barco entre Palermo e Nápoles. Apesar das várias investigações o corpo nunca foi encontrado o que levou a opiniões diversas sob o seu verdadeiro destino, havendo quem opine que Majorana terá cometido suicídio, terá sido raptado ou terá mudado de identidade começando uma nova vida. O físico teórico Oleg Zaslavskii, da Karazin Kharkiv National University da Ucrânia, sugere agora que esta ambiguidade à volta do seu destino poderá na realidade ser parte de uma ilusão magicada por Majorana para demonstrar a sobreposição quântica. Este paradoxo em que uma partícula pode simultaneamente existir em dois estados quânticos mutuamente exclusivos é exemplificado pelo gato de Schrödinger uma experiência dura em que o gato pode estar vivo e morto ao mesmo tempo. Majorana queria recriar este paradoxo com eventos da sua própria vida diz Zaslavskii (www. arxiv.org/physics/0605001). O argumento deste físico teórico ucraniano baseia-se numa série de mensagens que Majorana enviou à sua família e a Antonio Carrelli, director do Instituto de Física da Universidade de Nápoles. Majorana terá enviado uma carta expressando a sua intenção de cometer suicídio imediatamente seguida de um telegrama refutando a ideia de que fosse um suicida. Foi, no entanto, uma terceira carta que despertou a atenção a Zaslavskii já que, nesta última, Majorana diz esperar que Carrelli receba a primeira carta e o telegrama ao mesmo tempo. Suicido e sobrevivência simultâneos Segundo Zaslavskii “um remetente, normalmente, espera que uma segunda mensagem chegue primeiro do que uma outra inicial cujo conteúdo é perturbador de forma a cancelá-la” No entanto, Majorana, pretendeu que dois eventos mutuamente exclusivos – o seu suicídio e a sua sobrevivência – co-existissem simultaneamente realizando-se “a versão de mecânica quântica da questão de Hamlet”. Quando Zaslavskii analisou outros eventos ligado ao desaparecimento de Majorana viu exactamente o mesmo padrão. Por exemplo, pensa-se que Majorana terá contratado impostores para se fazerem passar por ele durante a viagem de barco. “De repente, percebi que todos estes detalhes separados e aparentemente extravagantes fazem sentido partindo de uma mesma ideia”, diz Zaslavskii. ”Foi impressionante!” “Zaslavskii tem mostrado consistentemente como, de forma hábil, Majorana pode ter aplicado o seu conhecimento de física quântica”, diz Gennady Gorelik, historiador de ciência na Universidade de Boston. “A sua teoria explica o comportamento estranho e demente de um grande físico e mostra que este, afinal, poderá ter resultado de uma organização lógica”, esclarece. No entanto, o real destino de Majorana e as suas motivações vão provavelmente permanecer um mistério. “É muito difícil para qualquer historiador saber o que se passava na mente de uma determinada figura”, diz Gorelik. “Talvez seja necessário um outro físico teórico como Zaslavskii para que se compreendam os caminhos intuitivos da mente de Majorana”, conclui o historiadro de ciência de Boston.

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