quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Coimbra cria programa pioneiro para a infertilidade

Mindfulness é um treino mental que ensina as pessoas a lidarem com os seus pensamentos e emoções

2014-07-21
Ana Galhardo é a primeira autora do estudo
Ana Galhardo é a primeira autora do estudo
Uma equipa do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveu e testou o primeiro Programa baseado no Mindfulness (atenção plena) para a Infertilidade (PBMI) do mundo, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida e reduzir a ansiedade e depressão das mulheres que vivem esta experiência, por norma, dolorosa e traumática.
O Mindfulness é um treino mental que ensina as pessoas a lidarem com os seus pensamentos e emoções. Como explica o coordenador dos estudos que culminaram na criação do PBMI, José Pinto Gouveia, «o Mindfulness muda o relacionamento com a nossa mente, ensina a distinguir o pensamento útil do pensamento inútil ou mesmo prejudicial. É uma abordagem que evidencia a transitoriedade das emoções. Por isso, há que as reconhecer e não lutar com elas porque uma cadeia de pensamentos negativos conduz a uma exaustão de energia e a possíveis quadros clínicos como a Depressão».

Para testar a sua eficácia, o programa baseado no Mindfulness para a Infertilidade foi aplicado em 55 mulheres inférteis, de diferentes idades, a realizar tratamento médico em Lisboa, Porto e Coimbra. Abrangeu também o acompanhamento de um grupo de controlo (sem intervenção) constituído por 41 mulheres inférteis.

 José Pinto Gouveia foi o coordenador dos estudos que culminaram na criação do PBMI
José Pinto Gouveia foi o coordenador dos estudos que culminaram na criação do PBMI
Antes do arranque do PBMI, que contou com a colaboração da Associação Portuguesa de Fertilidade, os dois grupos foram sujeitos a uma avaliação psicológica e revelaram ambos elevados níveis de ansiedade e depressão.

No final do programa, composto por dez sessões semanais, foram evidenciadas diferenças significativas entre os grupos. Enquanto as mulheres do grupo de controlo não registaram alterações expressivas em nenhuma das medidas psicológicas, as mulheres submetidas à intervenção diminuíram bastante os níveis de ansiedade e depressão:

«Aspectos negativos como a vergonha, a derrota ou a autocompaixão, e estados de depressão e ansiedade diminuíram muito significativamente. Assim, os pensamentos e sentimentos relacionados ao passado doloroso
(p. ex., o aborto ''anterior'') ou para o futuro (''eu nunca vou ser mãe'', p. ex.) são reconhecidos sem tentar suprimir ou modificá-los», sublinha Ana Galhardo, primeira autora do artigo científico publicado na revista norte-americana “Fertility and Sterility”.

Esta pioneira ferramenta de intervenção psicológica desenvolvida pela equipa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC tem gerado muito interesse junto da comunidade científica internacional, estando já a ser concretizadas parcerias com uma universidade holandesa, um Hospital belga e uma clínica de fertilidade da Noruega.

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