quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Doença dos pezinhos exige
novas estratégias diagnósticas

2014-10-05
Luís Maia
Luís Maia
A Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), também conhecida como a “Doença dos pezinhos” foi descoberta nos anos 40 por Corino de Andrade. Esta doença genética resulta de uma mutação no gene de uma proteína, a transterritina (TTR), que é produzida maioritariamente pelo fígado. A TTR mutada tem predisposição para se depositar em vários tecidos do organismo, condicionando especialmente sintomas e sinais de uma polineuropatia sensitiva, autonómica e posteriormente motora progressiva e altamente incapacitante
Trata-se de uma doença devastadora que levava à morte em cerca de dez anos após o início dos primeiros sintomas. Nos anos 90, de forma a erradicar a proteína mutante do sangue dos doentes, o transplante hepático foi introduzido no tratamento da doença.

A história da doença modificou-se radicalmente e os doentes ganharam não só qualidade de vida como tiveram também um aumento expressivo da sua esperança de vida. Surgiram, no entanto, algumas complicações como a amiloidose ocular e cardíaca.

Num recente trabalho realizado no Hospital de Santo António no Porto em colaboração com o IPATIMUP, Luís Maia e os restantes autores do mesmo, publicado no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, identificaram pela primeira vez em doentes transplantados por PAF sintomas e sinais que traduzem envolvimento do sistema nervoso central nesta doença.

Esta doença genética resulta de uma mutação no gene de uma proteína
Esta doença genética resulta de uma mutação no gene de uma proteína
Os dados clínicos, radiológicos e neuropatológicos que reuniram sugerem que este novo fenótipo clínico se deve, provavelmente, à deposição de TTR nos vasos sanguíneos cerebrais (Angiopatia Amilóide Cerebral), até aqui tida como assintomática nestes doentes.

Os autores consideram que o transplante hepático não previne a progressão da amiloidose cerebral pela TTR porque não interfere com a produção da TTR mutada pelos plexos coroideus (a fonte de TTR para o cérebro). O envolvimento cerebral desta doença apesar do transplante hepático torna imperioso o desenvolvimento de novas estratégias diagnósticas e terapêuticas para estes doentes.

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