quinta-feira, 2 de junho de 2011

Doenças de Transmissão Sexual - Dra. Sara Valadares

O que são?
Existem mais de 20 tipos de doenças de transmissão sexual. Uma doença infecciosa é aquela que pode passar de pessoa para pessoa. DTS são aquelas em que a doença se espalha através da actividade sexual, como o coito, o sexo oral ou o sexo anal.

Que doenças são estas?
São doenças causadas por diversos organismo como parasitas ( ex. pediculose púbica), bactérias ( ex. sífilis, gonorreia, a chlamydia) ou vírus (ex. SIDA, herpes, hepatite). As infecções por vírus não têm cura mas podem se controladas, as infecções por parasitas ou bactérias podem ser controladas com medicamentos, nomeadamente antibióticos.

São doenças raras?
Não, estima-se que todos os anos hajam 340 milhões de novos casos de DTS curáveis em todo o mundo.

Como prevenir?
A chave para a prevenção a nível da população em geral destas doenças é o diagnóstico e tratamento eficazes, juntamente com a avaliação, tratamento e aconselhamento dos parceiros sexuais.
Falar com o parceiro sobre as DTS pode ser difícil, no entanto é a única forma de parar o alastramento da infecção e de impedir que você se volte a re-infectar.

Estarei em risco?
Se nunca teve relações sexuais ou se mantem uma relação monogâmica com o seu parceiro o seu risco é virtualmente nulo. O risco aumenta conforme você ou o seu parceiro sexual têm sexo com múltiplos parceiros. O risco é maior conforme o número de parceiros seus ou do seu companheiro, se existe hábitos de toxicodepência associados ou se desconhece os hábitos sexuais do parceiro.

O que posso fazer para diminuir o risco de infecção?
Usar preservativo durante as relações sexuais; coito, sexo oral ou sexo anal. Este deve ser colocado antes do coito. Durante o sexo oral o preservativo pode ser cortado ao meio e colocado sobre a vulva.
O uso de espermicidas não diminui o risco de infecção. No caso de violação sexual ou de relação sexual desprotegida com parceiro infectado poderá ser feita medicação para diminuir o risco de contágio. Esta deverá ser administrada o mais rapidamente possível e até às 72 horas imediatas.

A infecção durante a gravidez pode prejudicar o meu filho?
Sim, as DTS têm implicações na evolução da gravidez, nomeadamente, rotura prematura de membranas, parto pré-termo e baixo peso do recém-nascido.
Existe ainda o risco de transmissão vertical, ou seja, de infectar o seu filho durante a gravidez ou parto (contacto com lesões, sangue, secreções), condicionando morbilidade e mortalidade perinatal, diminuição da esperança e qualidade de vida.
Este risco pode ser diminuído ou mesmo abolido caso a infecção seja controlada ou tratada. É importante procurar o seu médico quando planear uma gravidez ou quando saiba que está grávida.

INFECÇÃO A CHLAMYDIA

O que é?
É a DTS bacteriana mais frequente. É mais comum em adolescentes e
jovens (<25 anos).
Em alguns casos esta bactéria pode gerar uma infecção e inflamação ao nível do aparelho genital feminino, esta infecção pode ser grave necessitando de internamento e eventual cirurgia. As lesões provocadas podem ser permanentes e posteriormente gerar infertilidade e/ou gravidez fora do útero.

Quais são os sintomas?
70-90% destas infecções não dão queixas, no entanto, pode haver corrimento vaginal, dores pélvicas, ardor urinário, alterações menstruais.

Como é feito o diagnóstico?
Através da colheita de secreções do colo do útero e uretra

Como se transmite?
A transmissão é por via sexual.
Outra via de transmissão é aquela da mãe para o filho durante o parto.

Existe tratamento?
Sim, com antibiótico. O parceiro também deve receber tratamento.

E durante a gravidez?
Durante a gravidez a infecção está associada a parto pré-termo, rotura prematura de membranas e endometrite pós-parto.
Infecção do recém-nascido pode ocorrer na altura do parto vaginal e originar conjuntivite, infecção nasofaríngea e pneumonia.
A pesquisa desta infecção na consulta pré-natal e no 3º trimestre, principalmente se houver factores de risco (< 25 anos; novos ou múltiplos parceiros) poderá ser ponderada. A Direcção-Geral da Saúde não recomenda a pesquisa desta infecção por rotina na gravidez.

GONORREIA OU BLENORRAGIA

O quê é?
É uma infecção causada por uma bactéria que se chama Neisseria gonorrhoeae. Esta bactéria pode gerar uma infecção e inflamação ao nível do aparelho genital feminino (doença inflamatória pélvica), que pode ser grave necessitando de internamento e eventual cirurgia. Está associada a infertilidade e/ou gravidez fora do útero.

Quais são os sintomas?
Em cerca de 80% dos casos não ocorrem sintomas, existe co-infecção a Chlamydia em 10-30%.

Como é feito o diagnóstico?
Através da colheita de secreções do colo do útero.

Como se transmite?
A transmissão é por via sexual.
Outra via de transmissão é aquela da mãe para o filho durante o parto.

Existe tratamento?
Sim, com antibiótico. O parceiro também deve receber tratamento.

E durante a gravidez?
Durante a gravidez a infecção está associada a aborto séptico, parto pré-termo, rotura prematura de membranas e endometrite pós-parto.
Infecção do recém-nascido pode ocorrer na altura do parto vaginal e originar conjuntivite purulenta ou infecção generalizada.
A pesquisa desta infecção deve ser feita na consulta pré-natal e no 3º trimestre, principalmente se houver factores de risco.

SÍFILIS

O que é?
Apesar de ser uma infecção conhecida há mais de 500 anos e com terapêutica há 50 anos mantem-se um problema de saúde pública.É causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum. Trata-se de uma infecção que atinge todo o organismo aparentemente benigna, com poucas manifestações pelo que pode ficar durante muito tempo sem diagnóstico.

Quais são os sintomas?
Os sintomas variam ao longo do tempo. A infecção inicial (chamada sífilis primária) manifesta-se pelo aparecimento de uma úlcera (ferida) única, oval e tipicamente indolor, nos genitais externos acompanhada por linfadenopatia inguinal bilateral (aumento dos gânglios). As manifestações que ocorrem posteriormente são variáveis (sífilis secundária) e incluem alterações da pele e mucosas e linfadenopatia generalizada. Mais tarde (sífilis terciária) pode aparecer problemas cardíacos, oftalmológicos, auditivos, neurológicos e cutâneos. Estas manifestações hoje são raras.
Contudo na maioria das situações após a sífilis primária ocorre um período sem sintomas, a sífilis latente.

Como é feito o diagnóstico?
Através de testes ao sangue.
O diagnóstico clínico é difícil. Raramente a bactéria pode ser observada ao microscópio quando se analisa o exudado das lesões cutâneas.

Como se transmite?
A transmissão é por via sexual, apenas durante os estádios primário, secundário e latente recente, ou seja, aproximadamente durante o 1º ano de infecção.
Outra via de transmissão é aquela da mãe para o filho durante a gravidez.

Existe tratamento?
Sim, com antibióticos. O parceiro deve ser avaliado e tratado.

E durante a gravidez?
O teste de rastreio da sífilis está recomendado e deve ser efectuado na consulta préconcepcional e no 1º, 2º e 3º trimestre de gravidez. A gravidez não influencia o curso natural da doença. Durante a gravidez as consequências são o aborto, o parto pré-termo, morte fetal, morte neonatal e a infecção congénita que é tão mais frequente quanto mais recente a infecção. Durante a gravidez o único tratamento eficaz é a penicilina.

HERPES GENITAL

O que é?
Uma doença causada pelo vírus herpes simplex do tipo 2, embora em 20% dos casos esteja envolvido o vírus tipo 1 ( o vírus do herpes labial). É a causa mais frequente de ulceração genital nos países industrializados. Caracteriza-se por um episódio inicial, geralmente mais grave, ao qual se segue com maior ou menor frequência surtos de actividade do vírus ao longo da vida, com intervalos sem doença em que o vírus se encontra latente.

Quais são os sintomas?
Os sintomas caracterizam-se pelo aparecimento na área genital de lesões múltiplas geralmente acompanhadas de dor, prurido e ardor ao urinar.
As lesões do herpes desaparecem em mais ou menos 2 a 3 semanas, mas o vírus permanece as lesões podem reaparecer de tempos a tempos.

Como se diagnostica?
O diagnóstico é geralmente clínico, através da observação das úlceras características. Poderá haver interesse em saber o tipo de vírus, pois o serotipo 2 está associado a maior número de recorrências.

Como se transmite?
Apenas pelo contacto directo com lesões ou secreções infectadas, durante a relação sexual ou durante o parto.

O que posso fazer caso seja portadora deste vírus?

Informar o parceiro
Saber que a transmissão, embora rara, é possível mesmo se assintomático
Abster-se de relações sexuais quando no período prodrómico (período com queixas mas ainda sem as lesões cutâneas) ou sintomático
Saber que os preservativos diminuem o risco de transmissão principalmente se cobrirem a área com as lesões, embora não o eliminem
Existe alguma forma de tratamento?
Sim, existe tratamento para melhorar as queixas e existe medicamentos que combatem o vírus. Estes medicamentos diminuem o tempo e intensidade dos sintomas e em alguns casos graves, quando tomados de forma contínua, podem diminuir o número de recorrências, mas não erradicam o vírus.
Durante a gravidez estes medicamentos podem ser administrados em situações excepcionais.

Durante a gravidez posso infectar o meu filho?
Somente durante o parto e caso haja infecção activa. O recém-nascido pode ser infectado pelo contacto directo com as lesões. Num episódio inicial o risco de infecção neonatal é de 50%, no caso de uma recorrência este risco é inferior a 1%.

Como posso prevenir a infecção ao meu filho durante a gravidez?
Não é necessário fazer nenhum teste durante a gravidez.
Se for portadora do vírus e estiver num período prodrómico ou se houver lesões activas no momento do parto a cesariana será aconselhada, nos períodos de latência o parto vaginal não está contra-indicado.
A grávida que não seja portadora do vírus e cujo parceiro é portador deve abster-se de relações sexuais durante o 3º trimestre, no sentido de prevenir um primeiro episódio durante na altura do parto.

HEPATITE C

O que é?
É uma doença do fígado causada pelo vírus da hepatite C. A maioria das pessoas são portadoras do vírus, sem doença, mas em cerca de 5 a 20% dos casos desenvolve-se cirrose (doença grave do fígado) num espaço de 20 a 25 anos após a infecção ou mais raramente cancro do fígado.

Como se transmite a Hepatite C?
A transmissão deste vírus é essencialmente por via parentérica, ou seja, através do contacto do nosso sangue com sangue infectado ou objectos com sangue infectado. A transmissão por via sexual é rara. O vírus pode ainda ser transmitido da mãe para o filho durante a gravidez ou parto.

Existe tratamento?
Sim, em alguns casos o tratamento pode estar indicado. A terapêutica com interferão e ribavirina não está aconselhada na gravidez ou em mulheres que desejem engravidar a curto prazo.

Como se pode evitar a transmissão deste vírus?
Não partilhar a escova de dentes ou lâmina de barbear.
Não partilhar seringas e descartar as seringas usadas de modo seguro.
O risco de transmissão sexual é baixo, pelo que não necessita de mudar a sua prática sexual, ou seja, se tem uma relação monogâmica estável não é necessário começar a usar preservativo. Caso contrário deverá continuar a usar preservativo.
Pessoas portadoras do vírus da hepatite C não devem doar sangue, órgãos para transplante ou sémen.

E durante a gravidez ?
O curso da doença não é modificado pela gravidez. As portadoras deste vírus, de forma geral, não têm maiores complicações durante a gravidez. A infecção aguda pode estar associada a parto pré-termo.
O consumo de álcool e de medicamentos hepatotóxicos (que lesam o fígado) deve ser evitado.

Posso infectar o meu filho durante a gravidez ou parto?
O risco de transmissão ao recém-nascido é baixo, inferior a 5%. O risco pode ser maior se houver co-infecção pelo VIH (vírus da SIDA).
Não existe nenhuma terapêutica durante a gravidez. O risco de infecção não é influenciado pelo tipo de parto (vaginal ou cesariana) e a amamentação não está contra-indicada.
A amniocentese não parece aumentar o risco de infecção, contudo poucos estudos abordaram este problema.

OUTROS SITES DE INFORMAÇÃO

http://www.cdc.gov
http://www.dgs.pt
http://www.ashastd.org

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