segunda-feira, 27 de junho de 2011

Primeiro antibiótico em bactérias E. coli Biólogas da UA conseguiram produzir a lichenicidina 2011-06-17 Por Lusa

Duas biólogas da Universidade de Aveiro (UA) conseguiram produzir, pela primeira vez, um lantibiótico, um tipo específico de antibióticos, numa bactéria de Gram-negativo, um feito inédito que abre novas possibilidades no desenvolvimento de novos antibióticos mais eficazes.

Usando a Escherichia coli (E. coli), uma bactéria de Gram-negativo que faz parte da flora bacteriana normal do homem, as investigadoras Sónia Mendo e Tânia Caetano, do Laboratório Associado CESAM da UA, conseguiram produzir a lichenicidina.
Este composto com propriedades antibióticas, que já tinha sido descoberto por Sónia Mendo, em 2004, é produzido pela bactéria de Gram-positivo Bacillus licheniformis, isolada numa fonte termal.

Esta foi a primeira vez que cientistas conseguiram colocar uma bactéria de Gram-negativo a produzir um composto que, de forma natural, não o produziria, quebrando-se assim um velho dogma.

“Houve vários cientistas que tentaram fazer o mesmo, mas sem sucesso. Nós fomos as primeiras a fazê-lo”, disse à Lusa, Sónia Mendo, acrescentando que o composto produzido por E. coli mantém todas as propriedades antibióticas do composto original. Segundo a investigadora, esta descoberta tem como principal vantagem o facto da E. coli ser uma bactéria que é “muito fácil de manipular”.

“Muitas vezes, nos organismos originais não conseguimos fazer as manipulações genéticas necessárias ao estudo dos genes envolvidos no processo e, neste caso, isso é possível”, explicou. Os resultados desta investigação, que foram publicados em Janeiro na revista especializada «Chemistry & Biology», podem, segundo a bióloga, vir a ser aplicados na produção de outros antibióticos ou outros compostos.

Gram-negativas
São bactérias que possuem uma parede celular mais delgada e uma segunda membrana lipídica - distinta quimicamente da membrana plasmática - no exterior desta parede celular. No processo de coloração, o lipídio dessa membrana mais externa é dissolvido pelo álcool e libera o primeiro corante: cristal violeta. Ao término da coloração, essa células são visualizadas com a tonalidade rosa-avermelhada do segundo corante, safranina que lhes confere apenas a coloração vermelha.
Falta longo caminho

O estudo, desenvolvido parcialmente em parceria com o Instituto de Química da Universidade Técnica de Berlim, que contribuiu com a caracterização da estrutura química do composto, mostrou que a lichenicidina tem propriedades activas contra duas bactérias (MRSA e VRE) associadas a graves infecções hospitalares.

No entanto, Sónia Mendo salienta que há, ainda, um longo caminho a percorrer até à sua aplicação e possível produção em larga escala. “É essencial conhecer um pouco mais sobre a natureza química da molécula, o seu exacto modo de acção e a forma como é sintetizada pela célula, para se conseguir optimizar todas as etapas da síntese deste composto e perceber melhor as suas possíveis aplicações, não só ao nível clínico mas também na indústria alimentar e na agro-pecuária”, adiantou.

Posteriormente, existe uma fase de testes em laboratório, em animais e numa população restrita de indivíduos. Só após esse longo percurso, o composto poderá ser lançado no mercado.

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