quinta-feira, 2 de junho de 2011

Etapas da Gravidez - Dr. Rita Lerman

Gravidez é o período que decorre entre a fecundação e o nascimento do bebé. É uma altura em que a mulher, e consequentemente, o casal, sofrem um conjunto importante de mudanças físicas e emocionais. A vivência saudável deste período reveste-se de uma extraordinária importância para o bom desenvolvimento do bebé e para a construção de uma nova etapa da vida do casal. É neste sentido que se torna útil o conhecimento das principais etapas da gravidez.

A gravidez de termo tem a duração em média de 40 semanas, podendo oscilar entre as 38 e as 42 semanas. Habitualmente divide-se em 3 trimestres: até às 12 semanas; entre as 12 e as 26-28 semanas; até ao termo.

O método de contagem da idade gestacional começa mesmo antes de ter acontecido a concepção (fecundação). Dessa forma, a semana 1 começa com o 1º dia da última menstruação. Ainda não há bebé.

Durante a ovulação, os níveis hormonais aumentam e estimulam o útero a preparar-se para uma eventual gravidez. É, pois, durante este breve período de tempo que se pode verificar a concepção. A partir daqui, no final da 2ª semana, pela contagem, o bebé aparece e passará por uma série de transformações.

Por volta do sétimo dia após a fecundação o ovo termina o seu trajecto pela trompa de Falópio e instala-se no útero. Agora, o ovo vai dividir-se em duas partes: aquela que está junto à parede uterina torna-se na placenta, e a outra metade e dar-se á origem ao embrião, que vai crescer e desenvolver-se no feto.

No final da 4a semana, a mulher dar-se-á conta de um atraso na menstruação. Deve, então, fazer um teste de gravidez. Os testes de gravidez realizados em casa permitem à mulher uma maior comodidade. Podem ser adquiridos em qualquer farmácia e a sua margem de erro é mínima. Os testes de gravidez visam detectar a presença da hormona gonadotrofina coriónica (HGC) na urina. Esta hormona da gravidez é produzida na placenta, pouco depois da fixação do embrião na parede do útero. A HGC pode ser detectada 8 a 11 dias após a ovulação, atingindo os seus níveis mais elevados entre o segundo e terceiro mês de gravidez. É aconselhável que o teste seja efectuado logo de manhã, ao levantar, pois a urina encontra-se, nessa altura, no seu estado mais concentrado, o que facilita a medição da quantidade de HGC no organismo.
Desde que as instruções sejam seguidas correctamente, os resultados dos testes de gravidez realizados em casa revelam uma exactidão na ordem dos 97 por cento.

Geralmente, as conclusões erróneas destes testes prendem-se com o facto da mulher antecipar a data da sua realização. Com efeito, o teste de gravidez deve ser feito apenas na altura em que a menstruação já deveria ter surgido, ou seja, cerca de duas semanas após a ovulação. Nalguns casos, a ansiedade leva a que a mulher se precipite e realize o teste antes do tempo. Por outro lado, é preciso ter em conta que, por vezes, a ovulação pode ocorrer mais tarde do que o previsto, sobretudo se o ciclo menstrual é irregular. Daí a importância de realizar uma primeira ecografia precoce (no 1º trimestre). A partir deste momento o acerto da idade gestacional é feito e pode ser obtida a data provável do parto corrigida.

Caso se confirme a gravidez, a mulher deve consultar o médico o mais rapidamente possível, de modo a que a gestação seja acompanhada e vigiada desde o início, quer para verificar se tudo corre bem, quer para prevenir ou identificar eventuais doenças ou complicações. As semanas seguintes são absolutamente fundametais para o desenvolvimento do bebé. Quando for pela primeira vez à consulta deve informá-lo dos seus antecedentes pessoais e familiares, dos medicamentos que está a tomar, questionar sobre qual a alimentação mais adequada, bem como saber se há ou não a necessidade de tomar suplementos vitaminicos. A partir do momento em que sabe que está à espera de um bebé, é fundamental que tome consciência de que terá de ser acompanhada regularmente por um médico.

É importante lembrar que uma mulher grávida tem o direito a assistência médica gratuita.
É também na primeira consulta que receberá o Boletim da Grávida. Este livro deve acompanhá-la sempre e ser preenchido pelo médico/enfermeiro em todas as consultas e sempre que houver necessidade de ir ao serviço de urgência do hospital. Aqui deverá constar toda a informação relevante para a gravidez, nomeadamente, antecedentes pessoais e familiares mportantes, grupo de sangue, a data prevista do parto, os dados obtidos em cada consulta, o registo dos movimentos fetais e o registo das exames complementares de diagnóstico efectuados. Desta forma, e a qualquer momento em caso de necessidade, um profissional de saúde pode orientá-la com conhecimento da situação. É também neste livro que se encontram algumas informações úteis em relação aos direitos da maternidade e paternidade, recomendações importantes e sinais de alarme que a deverão levar a procurar o seu médico com urgência.

Calendário da gravidez - Alterações da mãe e do bebé
O desenvolvimento do bebé pode ser dividido em 2 fases muito importantes do ponto de vista da intensidade de crescimento e da formação e amadurecimento dos sistemas e órgãos. O período embrionário, que corresponde às primeiras 9 semanas a partir do dia da concepção, é aquele em que todos os órgãos e sistemas se formam (organogênese). Nessa fase o bebé é chamado de embrião. É uma fase de intensa proliferação de células. Esse é também o período de maior vulnerabilidade aos agentes teratogênicos, ou seja, as substâncias químicas ou os meios físicos e biológicos causadores de malformações. O período fetal inicia-se a partir da 10ª semana pós-concepção e vai até o nascimento. Nesse período o bebé será chamado de feto e os órgãos já formados sofrerão um processo de crescimento e amadurecimento, até se apresentarem em plenas condições de funcionamento no final da gestação.

1º Trimestre

Feto
Por volta da 12a semana, o sexo do embrião já está definido e seus órgãos genitais estão formados. Também os rins já se formaram, e o embrião começa a urinar no liquido amniótico que o envolve. Surgem as pálpebras, e os olhos do embrião ficam fechados. O feto começa a movimentar-se mas é ainda tão pequeno que não se percebe esses movimentos. Por volta da 12a semana, o corpo do bebé mede 4 cm das nádegas até o topo da cabeça e pesa aproximadamente 6 g. Nesta fase o feto recebe todo seu alimento da placenta. A partir desta altura deve-se tentar ouvir o coração do feto em todas as consultas mas não se assuste se não conseguir ouvir, uma ecografia pode confirmar a presença dos batimentos cardíacos.

Mãe
Durante o 1º trimestre a subida dos valores hormonais é responsável por uma série de alterações características desta fase, nomeadamente náuseas e enjoos matinais, intolerância a determinados cheiros ou alimentos, aumento do apetite, aumento de peso, cansaço, sonolência e labilidade do humor.
O útero é do tamanho de uma laranja, encontra-se a meia distância entre a sínfise púbica e o umbigo. A compressão por ele exercida na bexiga condiciona um aumento da frequência urinária. É normal um corrimento vaginal branco de cheiro incaracterístico que se intensificará ao longo da garvidez. São frequentes queixas de dor pélvica e sintomas semelhantes aos da síndrome pré-menstrual, provocados pela distensão dos ligamentos que suportam o útero em crescimento. As mamas aumentam de volume, tornam-se tensas, as auréolas aumentam de diâmetro e escurecem.

2º Trimestre

Feto
Na 16a semana os principais órgãos do feto já estão formados. A bolsa de água (as membranas) e a placenta dão sustentação à vida intra-uterina do feto. A bolsa de água protege-o de choques violentos, conserva-o numa temperatura aquecida constante, possibilita que ele se movimente e exercite os braços e as pernas livremente e fornece líquido para que pratique a deglutição. O feto mexe-se, embora provavelmente não perceba esses movimentos até à 18a ou 20a semanas. Ele vira a cabeça, abre a boca e movimenta o peito e a barriga para cima e para baixo como se estivesse respirando profundamente. Já consegue sugar, engolir e até soluçar. Boceja, estica-se, levanta as sobrancelhas e franze a testa. A água da bolsa está sempre aquecida e limpa. Renova-se completamente a cada 6 horas. Ás 26-28 semanas o feto poderá ainda estar na posição pélvica, mede 24 cm da cabeça até as nádegas e pesa 1,5 kg aproximadamente. Nesta fase, o feto desenvolve-se e aumenta de peso mais rapidamente.
É no final do 2º trimestre (por volta das 24 semanas) que o feto atinge o limiar da viabilidade, ou seja, é a partir desta altura que, se houver um parto prematuro, é possível investir na vida do recém-nascido.

Mãe
No 2º trimestre o metabolismo já está adaptado à gravidez. A fadiga e as náuseas das primeiras semanas já devem ter desaparecido. São frequentes queixas de palpitações uma vez que o coração bate mais forte e rápido para bombear maior quantidade de sangue para a placenta. Os alimentos demoram mais para serem digeridos e são frequentes queixas de azia nesta fase. As alterações hormonais bem como o aumento de peso e compressão do útero em expansão são responsáveis pelo frequente aparecimento/agravamento de varizes ou sensação de pernas pesadas. Pela mesma razão é frequente o aparecimento/agravamento de hemorróidas. Obstipação e coloração preta das fezes (pelo suplemento vitamínico de ferro) são também queixas normais.

3º Trimestre

Feto
Começa a haver progressivamente menos espaço no útero, logo o feto fica mais limitado e não se movimenta tanto quanto antes. Às 34 semanas o feto já completou na maioria dos casos a maturação pulmonar. Os pulmões do bebé têm um revestimento, como se fossem bolhas. Quando ele nasce, essas bolhas mantêm os pulmões parcialmente insuflados após cada expiração.
Na 37a semana o sistema nervoso está pronto para o nascimento. Nesta fase já desenvolveu uma série de reflexos de coordenação que lhe permitem apertar a mão com firmeza, levantar e virar a cabeça, procurar leite, movimentar-se como se estivesse caminhando, piscar e fechar os olhos e reagir a sons, cheiro, luz e toque. A cabeça não é toda composta de um osso resistente, há espaços membranosos, as fontanelas, entre os ossos do crânio. Conforme o feto desliza pelo canal vaginal, elas podem fechar-se, moldando a cabeça para a sua trajetória. A camada de gordura acumulada sob a pele já é suficiente para que ele consiga regular a temperatura do corpo quando nascer. Na 38a semana há maior volume de líquido amniótico que em qualquer outro estadio da gravidez. A freqüência cardíaca é duas vezes mais rápida que a do adulto (120-160 bpm). O feto tem cerca de 45-50 cm de comprimento e pesa em média entre 3 a 4 Kg.

Mãe
No 3º trimestre a grávida sente-se pesada, são frequentes as dores nas costas, a respiração parece tornar-se mais difícil, pela pressão do feto no diafragma e caixa torácica. Esta pressão diminui a partir do momento em que a cabeça do feto se encaixa na bacia. A partir daí, ela pressionará a bexiga aumentando a frequência urinária. O sono também pode estar dificultado e ser interrompido. É aconselhável deitar-se de lado ou recostada. A retenção de líquidos é normal e os tornozelos e pernas poderão ficar edemaciados, principalmente em dias quentes. São frequentes as queixas de caimbras. Uma linha mais escura que o tom da pele, partindo do umbigo para baixo, pode aparecer bem como manchas mais escuras na face o chamado cloasma. Estas alterações de pigmentação tendem a intensificar-se com a exposição solar e normalmente regridem após o parto. É também no último trimestre que podem surgir estrias, com uma tonalidade rosa durante a gravidez e que após o parto diminuem de tamanho e tornam-se brancas.
É frequente a presença de colostro, o primeiro leite rico em proteínas.
Começam a sentir-se as primeiras contracções, de início indolores e raras e nas últimas semanas mais frequentes e dolorosas. Estas são contracções de preparação do colo do útero e não indicam necessariamente trabalho de parto. Nas últimas semanas é natural sentir-se mais cansada e ansiosa para que a gravidez termine.

Papel do pai
Para o futuro pai a gravidez é, igualmente, um momento especial. Também o homem anseia a perspectiva de vir a ser pai, ainda que possa revelar alguns receios e, por vezes, não saiba como compartilhar este importante momento com a sua companheira
É certo que é a mulher que sofre profundas mudanças no seu corpo, mas isso não significa que o homem não possa ter um papel activo na gravidez. Na verdade, o homem não só pode, como deve, participar deste momento tão importante para ambos. Desde logo, o futuro pai pode começar por acompanhar a grávida às consultas, aos exames complementares de diagnóstico, às aulas de preparação para o parto, participar na tomada de decisões, optar por assistir ao parto ou não. Deve familiarizar-se com as etapas da gravidez de forma a poder compreender melhor e a apoiar a mulher, desde as suas ansiedades e mudanças de humor como os sintomas associados à gravidez (que embora normais nem sempre são fáceis de superar). Deve mostrar-se mais solicito e procurar ajudar nas tarefas habituais, sempre que puder.
O pai tem um papel importante na auto-estima da grávida e deve mostrar-lhe que continua a vê-la como mulher. Neste sentido, o casal deve discutir o lugar que o bebé irá ocupar no novo contexto familiar. Um filho pode tornar-se um motivo de discórdia se não existir uma saudável reestruturação de papeis mãe/pai – companheira/companheiro.

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