quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tabaco, Álcool e Drogas na Gravidez - Dra. Ana Costa, Dra. Ana Isabel Machado

O consumo de tabaco, álcool, e drogas, utilizadas para fins terapêuticos ou não, pode estar relacionado directamente com problemas do desenvolvimento ou da estrutura dos órgãos do feto. A placenta tem, entre outras funções, tem de filtrar substâncias presentes no sangue da mãe, que poderiam ser prejudiciais; mas, não filtra tudo; é permeável tanto a substâncias necessárias para o feto como a certas substâncias nocivas para o feto.

Conheça os efeitos de algumas delas...

TABACO

O tabaco é a droga mais consumida na gravidez, podendo produzir problemas graves, tanto no feto como na grávida. O tabaco é composto por mais de 4500 compostos, muitos deles tóxicos, nomeadamente: nicotina, monóxido de carbono, chumbo, cianeto e cobalto.
A nível fetal, a nicotina, que é um dos seus componentes, reduz a passagem de sangue da placenta para o feto, reduzindo a quantidade de oxigénio e nutrientes que passam para o feto e levando ao aparecimento de baixo peso.

Fumar durante a gravidez não diminui apenas o peso ao nascer...
Outros problemas são imputados ao tabaco: aborto espontâneo, gravidez ectópica, parto pré-termo, descolamento da placenta e aumento das complicações antes e após o parto.
Das grávidas que fumam durante a gravidez, nomeadamente durante o terceiro trimestre, resultam partos de crianças que virão a ter Coeficientes de Inteligência (QIs), até 6,2 pontos, abaixo das nascidas de mães não fumadoras.

Pode-se fumar durante a amamentação?
As fumadoras têm diminuição da produção de leite, devido à diminuição da produção da hormona da amamentação (prolactina) e os recém-nascidos têm maior probabilidade de apresentarem cólicas e irritabilidade.

Podem existir problemas a longo prazo do tabaco para a criança?
Para além dos problemas graves para a saúde da mãe (aterosclerose, hipertensão arterial, cancro do pulmão, ...), o tabaco produz também consequências graves e tardias na criança, como por exemplo: risco de doenças respiratórias, alergias, distúrbios do sono e risco de dependência de tabaco no futuro.

Como posso deixar de fumar durante a gravidez?

todas as mulheres devem ser informadas para deixar de fumar durante a gravidez
o apoio social e familiar é crucial
os casos mais graves devem ser referenciados a consultas de desabituação tabágica, sendo o tratamento farmacológico aconselhado quando a mulher é altamente dependente da nicotina
ÁLCOOL

44- 89% das mulheres ingerem bebidas alcoólicas durante a gravidez; 5-10% têm hábitos pesados. A ingestão de bebidas alcoólicas pode trazer graves problemas para o desenvolvimento do feto. Dentro destes o mais grave é o Síndrome Fetal Alcoólico, que pode levar a alterações mentais e físicas graves.

O que é que provoca o Síndrome Fetal Alcoólico?

baixo peso ao nascer
cabeça pequena (microcefalia)
anomalias faciais, cardíacas e de outros órgãos
Que outros problemas pode provocar o álcool na gravidez?
Pode estar associado a aumento de risco de aborto espontâneo e morte fetal.

Estou grávida, quanto é que posso beber?
Não existem níveis seguros! Uma vez que o álcool atravessa a placenta, podendo passar também para o bebé através do leite materno, está contra-indicada a sua ingestão na gravidez e amamentação. Pode ser responsável por problemas de aprendizagem, dificuldades da visão, audição e linguagem, redução na memória e irritabilidade e incoordenação motora.

E o pai? Pode beber?
Embora não existam provas de que o consumo de álcool pelo pai possa provocar malformações no feto, sabe-se que o álcool provoca diminuição das hormonas masculinas (testosterona) podendo levar a infertilidade, pelo que é importante motivar os homens para a diminuição de bebidas alcoólicas.

DROGAS ILÍCITAS

Heroina
Não produz malformações no feto, mas produz complicações que estão directa ou indirectamente relacionadas com o seu consumo, nomeadamente:

atraso de crescimento intra-uterino
parto pré-termo
morte fetal
síndrome de abstinência do recém-nascido
transmissão de hepatite B, hepatite C e HIV (complicações associadas com a utilização de seringas e agulhas não esterilizadas)
No caso de ser dependente de heroína ou outros opiáceos, a metadona é opção mais segura na gravidez. A administração desta substância previne o síndrome de abstinência, tanto na grávida como no bebé e ajuda a estabilizar a vida da mulher e da família.

Cocaína
Devido aos seus efeitos vasoconstritores pode provocar vasoconstrição dos vasos uterinos, perturbar o fornecimento de oxigénio e nutrientes para o feto. O seu consumo está associado: a aborto espontâneo, descolamento da placenta, placenta baixa, parto prematuro, baixo peso ao nascer e malformações fetais (genito-urinárias, cardíacas e cerebrais).
Na grávida os efeitos são catastróficos, podem ir desde a hipertensão arterial, a arritmias, enfartes, até à morte.

Cannabis - Marijuana
É a droga ilícita mais utilizada na gravidez, não produz malformações, mas provoca alterações no crescimento, devido aos seus efeitos vasoconstritores. É também causa de dificuldades da aprendizagem e problemas de comportamento nas crianças.
Está frequentemente associada ao consumo de tabaco e álcool, podendo potenciar os efeitos nocivos destes na gravidez.

Anfetaminas
São produtos usados como estimulantes do sistema nervoso e como redutores do apetite. No feto parecem estar associados a aumento de risco de fenda labial, anomalias cardíacas e dos membros.
Como posso deixar de consumir de consumir drogas na gravidez?
A gravidez é uma altura muito favorável para deixar os consumos, podendo servir de viragem na vida da grávida. A motivação é maior, existe suporte médico especializado para estes problemas. Assim, é importante que estas mulheres não hesitem em procurar ajuda.

Na Maternidade existe a consulta de patologia aditiva onde pode encontrar uma equipa composta por obstetras, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros. Estas grávidas devem chegar à consulta o mais precocemente possível.

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