quinta-feira, 2 de junho de 2011

Os cuidados pós-parto - Dr. Repas Gonçalves e Dra. Mafalda Simões

A gravidez, por acção hormonal, origina modificações no corpo da mulher que permitem o desenvolvimento e crescimento do feto. Com o parto inicia-se um período denominado “puerpério”, que se prolonga por seis semanas, durante as quais os orgãos reprodutores readquirem o seu tamanho normal.

O pós-parto imediato requer alguns procedimentos médicos e de enfermagem, que se destinam a verificar que não existem problemas com a mãe nem com o recém-nascido na sua adaptação à vida extra-uterina. Esta vigilância na sala de partos dura duas a três horas. Este período, em que o bebé está ao lado da mãe, é por excelência a altura em que esta vai começar a conhecer o seu filho. É também neste período que o vai amamentar pela primeira vez. O leite materno é o melhor alimento e tem na sua composição imunoglogulinas que conferem resistência a doenças e alergias. Na maternidade Dr. Alfredo da Costa é possível o pai partilhar com a mãe e o filho estes momentos.

Estada Hospitalar
A maioria das mulheres passam cerca de dois dias na maternidade após um parto normal (eutócico). Se o parto tiver sido uma cesariana ou se surgirem complicações com a mãe ou com o recém nascido a estada será mais prolongada.

Evite um número excessivo de visitas que, embora agradáveis, são sempre cansativas. Aproveite esses dias para descansar tanto quanto possível. Todos os dias será visitada por obstetras, pediatras e enfermeiros que a poderão esclarecer e ajudar acerca do seu novo papel de mãe. Poderá aprender aspectos relacionados com amamentação, banhos e fraldas do bebé, de forma a sentir-se cada vez mais confortável na relação mãe-filho. Relembre, ainda, com os técnicos de saúde as datas mais adequadas para as consultas médicas futuras, quer para si quer para o seu filho.

Antes de ter alta podem ser administradas algumas vacinas ao seu bebé. É importante saber quais foram e levar o boletim de saúde do seu filho correctamente preenchido. Chegada a altura de regressar a casa, não esqueça o transporte do bebé em segurança. Use cadeiras de transporte adequadas e verifique se os cintos de segurança estão em condições.

A Saída Precoce da Maternidade
A ideia de que é preciso repousar sempre deitada depois de um parto já foi deixada há alguns anos. A deambulação precoce, ou seja, andar confortavelmente o mais cedo que puder é hoje incentivada pois os benefícios em termos de complicações circulatórias são conhecidos.
Reconhecendo os sinais de alerta a que deve atender para recorrer ao hospital, a alta precoce é hoje um procedimento seguro e que a corresponsabiliza na vigilância da sua saúde, podendo ir para casa disfrutar deste novo acontecimento.

A alta do parto vaginal é dada ao 2º dia; a alta do parto por cesariana é dada ao 3º dia.
A alta à exigência é a alta a pedido da mulher que assina e que se torna por isso responsável pela mesma, não podendo ser-lhe negada.

O mal estar após o Parto
No pós-parto imediato durante a estadia hospitalar os sintomas de alarme (calafrios, febre, dores, hemorragias, dificuldades em evacuar ou urinar) são tratadas pelos técnicos de saúde, médicos e enfermeiras.
É natural que, nos primeiros dias como puérpera, surjam algumas situações que lhe causem mal-estar e que estão relacionadas com o parto. Não será por muitos dias. As mais comuns são:

Tumefação e engurgitamento mamário resultante da subida de leite (2º-3ºdia), originando endurecimento dos seios e dor, com consequente dificuldade de esvaziamento do leite. Algumas manobras simples ajudam a ultrapassar esta fase: envolver as mamas em compressas humedecidas em água morna ou molhá-las abundantemente com água morna (chuveiro); em seguida, massajar circularmente com ajuda de um creme e, simultaneamente, ir tentando promover o seu esvaziamento manual. Logo que o leite comece a sair com alguma facilidade, coloque o bebé ao peito – ele fará o resto. As fissuras do mamilo são outra complicação dolorosa (podendo mesmo sangrar) e que, em geral, curam em poucos dias, não sendo impeditivas de manter a amamentação. É fundamental que as mamadas decorram num ambiente calmo e se sente confortavelmente, com as costas bem apoiadas. Se conseguiu vencer esta fase, está de parabéns. No entanto, se apesar de todo o empenho e múltiplas tentativas as dificuldades ultrapassam o razoável, não se culpabilize por desistir. É por isso que leite adaptado existe.
Dores no períneo, resultantes de contracções uterinas e mais intensas nas multiparas, nos primeiros dias e durante as mamadas. Aliviam com a mudança de posição e apoio do abdómen numa almofada; agravam-se com a bexiga cheia. Pode, ainda, recorrer a analgésicos (paracetamol).
Dores no local da episiotomia (corte no períneo para facilitar a passagem do bebé), que aliviam inicialmente com a aplicação de gelo e, mais tarde, com água morna. Os cuidados de higiene com lavagem e secagem bastam. Pode igualmente socorrer-se de analgésicos (paracetamol). Os pontos caem por si. As dificuldades em sentar podem ser resolvidas usando uma bóia de praia insuflada até o desconforto passar.
Hemorróidas surgidas ou agravadas no período expulsivo. A melhoria consegue-se com aplicação de gelo, pomadas próprias e tentativa de as reintroduzir no ânus. Nas crises hemorroidárias mais severas é necessária outra terapêutica.
Obstipação, que pode ser um problema após o parto. A episiotomia e as hemorróidas tornam a defecação dolorosa. Combater a obstipação passa por uma alimentação rica em fibras e ingestão de líquidos em grande quantidade (água e sumos). Se necessário, utilize laxantes suaves (lactulose).
Labilidade emocional, que é bastante frequente.
Dores nas costas. Evitar posições incorrectas: mudar as fraldas e dar banho à criança num plano ao nível da cintura (e nunca curvada). Iniciar exercícios de extensão da coluna.
Perda acentuada de cabelo, que pode ocorrer algumas semanas após o parto. Não há motivo para alarme: em breve o cabelo retomará o seu ciclo de crescimento normal.
Após a alta devem iniciar a recuperação dos músculos que participaram no parto (períneo) para evitar problemas futuros – útero descaído (prolapso) ou perda involuntária de urina (incontinência).
Se fez cesariana deve dirigir-se ao seu Centro de Saúde ou ao seu médico assistente no 7º dia para retirar agrafos e penso. Se a cicatriz tiver aspecto avermelhado e duro (infecção) ou tiver aberto (deiscência) devem recorrer ao nosso Serviço de Urgência. A saída de serosidade que é diferente de pus, não é indicativa de infecção.
Se estiver a amamentar e mesmo depois da alta tiver problemas com o peito, pode dirigir-se ao nosso Espaço Amamentação no 2º andar da Maternidade para aconselhamento.
Se decidir não amamentar após informação adequada, n ão deixe que a sua decisão seja desrespeitada pelas pessoas que a rodeiam e deve tomar comprimidos que lhe devem ser passados na Maternidade para secar o leite. Se sentir os peitos inchados, vermelhões e dolorosos, tratar-se-á de provável infecção (mastite) e deverá ser observada por médico no Centro de Saúde ou no Serviço de Urgência da Maternidade.
Síndrome Depressivo Pós Parto
Após a primeira semana é provável começar a notar algumas alterações do humor. Vários factores contribuem para um estado depressivo: alterações hormonais, o cansaço, o facto de ser “esmagada” com as novas responsabilidades da maternidade. São sentimentos normais que desaparecem em poucas semanas e é uma fase que se designa pela tristeza do pós-parto. Contudo, algumas mulheres desenvolvem uma condição mais grave chamada a depressão do pós-parto.

O parto de uma criança e as alterações que ela vem introduzir no seu mundo alterando hábitos e criando novas responsabilidades, por vezes pode entrar em conflito com ideias e valores da sua educação e com a relação com o seu companheiro (presente ou ausente). Menosprezar esse facto tanto pela mulher como pela família são erros que se podem pagar mais tarde.
Se a tristeza durar mais do que duas semanas ou se for muito acentuada é importante recorrer a apoio psicológico ou psiquiátrico.

Lóquios
A perda de sangue vaginal após o parto é normal e denomina-se “lóquios”. A sua duração é variável de mulher para mulher, podendo persistir entre 20 a 30 dias. O aspecto dos lóquios vai sofrendo modificações. Nos primeiros dias é vermelho vivo, tornando-se progressivamente rosado e diminuindo de quantidade; ao fim de 10-12 dias torna-se amarelado e esbranquiçado. Não se alarme se tiver um aumento das perdas vaginais entre o 7º e o 10º dia, pois diminuirão de novo, gradualmente, até desaparecerem. Neste período é desaconselhado o uso de tampões.

Sinais de Alarme
É importante estar atenta aos seguintes sinais de alarme e chamar o médico ou recorrer ao SU, no caso destes surgirem:

Febre>38ºC.
Naúseas e vómitos.
Queixas urinárias como ardor.
Hemorragia vaginal abundante (superior ao fluxo menstrual).
Dor, edema (inchaço) e empastamento nas pernas (pernas duras).
Dor no peito e tosse.
Seios com zonas vermelhas, quentes e dolorosas.
Agravamento da dor entre a vagina e o recto.
Período Menstrual
O período menstrual regressa geralmente 7 a 9 semanas depois do parto. Pode ser mais curto ou mais longo mas gradualmente vai regressando ao normal. Se estiver a amamentar pode não ter período menstrual por vários meses, até parar de amamentar. Contudo os ovários podem ficar funcionantes logo após o parto. Por este motivo, mesmo não tendo a menstruação corre o risco de engravidar, sendo muito importante uma contracepção eficaz durante o pós-parto.

Vida sexual e Planeamento Familiar
Habitualmente pode voltar a ter relações sexuais quando tudo está cicatrizado (incluindo a episiotomia) e quando se sentir confortável e disponível, não havendo regras para isso. Nesta fase, é frequente existir secura vaginal, especialmente se está a amamentar. Poderão ser usados alguns lubrificantes vaginais. É importante não se esquecer que pode engravidar mesmo quando está a amamentar e na ausência da menstruação. Isto significa que tem de escolher um método contraceptivo eficaz antes de voltar a ter relações sexuais.

Poderá discutir as opções de contracepção disponíveis na Maternidade, com o seu médico obstetra ou com o seu médico de família, e também com o seu companheiro.

Se deseja não ter mais filhos e optar um método irreversível, tem em alternativa a laqueação tubária e a vasectomia, respectivamente método feminino e masculino. Ambos implicam uma pequena intervenção cirúrgica. Nas situações em que o objectivo é manter a fertilidade, a escolha pode recair na contracepção hormonal, dispositivo intra-uterino, ou preservativo. A contracepção hormonal de eleição é um progestagéneo contínuo (mini-pílula), com início por volta do 21º dia após o parto. Actualmente já é possível optar por um progestagéneo subcutâneo de libertação contínua, com eficácia independente do número de mamadas e com duração de três anos.
Nas mulheres que não amamentam, a pílula deverá ser estro-progestativa e com início um pouco mais cedo (15º ou 16º dia após o parto). Relativamente ao dispositivo intra-uterino (DIU), a sua colocação deverá ser feita às 8 semanas de pós-parto, altura em que já ocorreu a involução uterina completa. Nestes casos, desde que a actividade sexual é reiniciada e até à colocação do DIU, deve ser utilizado o preservativo.

A Reeducação Pós-Natal
Uma das coisas mais importantes e também mais difíceis de conseguir é o descanso. Pode necessitar de ajuda em casa de forma a não ficar exausta. Peça ao seu companheiro, a um amigo ou a um familiar para assumir algumas tarefas domésticas como o lavar a roupa, a louça ou cozinhar até estar totalmente restabelecida.

É provável pesar alguns quilos a mais em relação ao seu estado anterior à gravidez. Se tiver bons hábitos alimentares e praticar exercício físico, vai gradualmente recuperando a sua forma física e perdendo peso. Beba muitos líquidos e corte nas calorias evitando doces e alimentos pouco saudáveis. Se estiver a amamentar vai necessitar de maior quantidade de calorias. Não tente perder peso até parar a amamentação. Procure sair e caminhar diariamente, aumentando progressivamente os percursos a pé. Esta é uma forma saudável de iniciar a recuperação pós-parto, com a vantagem de não necessitar de “baby-sitter” já que o bebé vai adorar acompanhá-la. Tratar de um recém-nascido não é tarefa fácil e procure sempre a participação do seu companheiro mesmo que ele ache que não tem jeito.

O exercício físico pode ajudar os músculos a recuperarem a sua forma e tonicidade. Esteja atenta aos exercícios de reeducação perineal. As cintas de contenção abdominal, se lhe derem conforto não têm nenhum interesse para a recuperação muscular, que só os exercícios conseguem fazer.
Nas primeiras 24 horas após o parto pode começar com os exercícios fáceis (contrair o períneo e meter a barriga para dentro, que deve repetir 3 vezes por dia), podendo depois deste período iniciar os exercícios específicos para determinados grupos musculares. No caso de uma cesariana discuta com o seu médico obstetra ou com uma enfermeira antes de iniciar qualquer tipo de exercício. Como em qualquer situação, o exercício físico deve ser iniciado lentamente e aumentado gradualmente. O exercício é importante para melhorar o bem-estar físico e psíquico!

Cuidados especiais
Se teve alguma alteração durante a gravidez e que necessite continuação de vigilância ou de medicação pós parto (hipertensão, diabetes, infecção, alterações da coagulação, varizes, epilepsia, toxicodependencia) não saia sem indicação da data da consulta e/ou medicação.

As adolescentes devem ser integradas no projecto “Mais vale prevenir”para apoio futuro que inclui aconselhamento anticoncepcional.
As gravidezes mal vigiadas ou outras situações adequadas devem ter apoio da Assistência Social.

Nem sempre as gravidezes correm como esperado e se teve um nado-morto peça que seja colocada em enfermaria separada e peça apoio psicológico se necessário

Em caso de violação e que não tenha decidido interromper a gravidez ou em que se pretende dar o recém-nascido para adopção é-lhe facultado apoio da assistência social e consulta da psicóloga.

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